“Água a monte” e o ministro que aparentemente nada viu
Nas três últimas semanas, a barragem de Cedillo largou para Portugal grandes descargas de água — o que surpreendeu quem vive nas proximidades.
Desde o início do mês de Novembro, apesar da seca que atinge os dois países, a albufeira da Barragem de Cedillo esteve quase sempre perto do máximo da sua capacidade (95%).
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Desde o início do mês de Novembro, apesar da seca que atinge os dois países, a albufeira da Barragem de Cedillo esteve quase sempre perto do máximo da sua capacidade (95%).
Nas três últimas semanas, esta barragem largou para Portugal grandes descargas de água. Quantidades que surpreenderam as muitas pessoas ouvidas pelo PÚBLICO, que dizem que há muitos meses não viam tanta água a correr no rio.
Descargas que aconteceram depois de terem sido encontrados milhares de peixes mortos na zona de Vila Velha de Ródão (2 de Novembro), o que também já tinha acontecido em Outubro, em alturas que o caudal do Tejo na região corria baixo e mostrava “grandes manchas castanhas e pretas causadas pela poluição”.
Aconteceram também antes da visita do ministro do Ambiente a Vila Velha de Ródão (12 de Novembro), onde José Matos Fernandes fez a seguinte declaração. “Aquilo que eu vi foi um rio que, não tendo nenhum problema aparente de poluição (não havia peixes mortos), tinha menos água do que a expectativa que nós temos que ele possa vir a ter e aquilo que é a própria memória que temos do Tejo com mais água.”
Largadas de água que se verificaram também durante o encontro dos ministros do Ambiente de Portugal e Espanha, no Porto (25 e 26 de Novembro), para discutirem, entre outras matérias, a gestão do rio.
Também na semana passada, enquanto a água corria “a monte”, como dizem os habitantes locais, a associação ambientalista Zero acusou Espanha de não disponibilizar os caudais acordados, e a proTejo anunciou uma queixa contra os poluidores do rio na União Europeia e uma denúncia por crime público na Procuradoria-Geral da República.
Os ministros de Ambiente de Portugal e Espanha garantem que foi descarregada para Portugal nos três rios que correm de Espanha para Portugal (Tejo, Douro e Guadiana) a água acordada na Convenção de Albufeira.
Porém, a proTejo, no comunicado em que anuncia a queixa à UE e a denúncia à PGR faz uma revelação curiosa: “O Ministério do Ambiente português está dependente da veracidade dos dados fornecidos pela Confederación Hidrográfica del Tajo, visto que o local de medição dos caudais para verificar o cumprimento da Convenção de Albufeira está localizado na Barragem de Cedillo, que pertence a Espanha. Curiosamente, o SAIH Tajo apresenta o caudal online e em tempo real de todas as barragens do Tejo espanhol, menos na Barragem de Cedillo, onde se afere do cumprimento ou incumprimento da Convenção de Albufeira.”