Três presépios em barro de Estremoz mostram-se em Lisboa
Nesta quinta-feira, saber-se-á se o barro de Estremoz passa a ser Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Três presépios em barro de Estremoz, dos séculos XVIII, XIX e XX, estão patentes no Museu Antoniano, em Lisboa, ilustrando a relação "entre a representação da Natividade, com os tradicionais tronos de Santo António", segundo a organização.
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Três presépios em barro de Estremoz, dos séculos XVIII, XIX e XX, estão patentes no Museu Antoniano, em Lisboa, ilustrando a relação "entre a representação da Natividade, com os tradicionais tronos de Santo António", segundo a organização.
As peças para esta exposição foram cedidas pelo Museu Municipal Professor Joaquim Vermelho, que preparou a candidatura do figurado de barro de Estremoz a Património Cultural Imaterial da Humanidade, cuja decisão vai ser conhecida nesta quinta-feira, no âmbito da 12.ª reunião do Comité Intergovernamental da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, mais conhecida pela sigla em inglês) para Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, na Coreia do Sul.
No Museu Antoniano, junto à Basílica de Santo António, em Lisboa, a exposição está patente até 7 de Janeiro, apresentando um presépio de figurado de Estremoz, do século XVIII, de autor desconhecido, um outro do século XIX, também de autor desconhecido, e um último das décadas de 1970/1980, de autoria de José Moreira e Josefina Moreira.
A "representação da Natividade em altar" tornou-se característica da produção estremocense a partir de meados do século XX, segundo a organização.
Em comunicado enviado à Lusa, Hugo Guerreiro, director do Museu Municipal Professor Joaquim Vermelho, em Estremoz, afirma que a representação da Natividade naquele concelho "terá surgido primeiramente nos conventos", tendo a Ordem Franciscana desempenhado "um papel importante no seu desenvolvimento, dado que foram estes frades que propagaram a arte do presépio pela Europa, desde Itália, a partir do século XIII".
"Dos conventos passaram às casas nobres locais e daqui o gosto pela adoração do Deus Menino foi adoptado pela burguesia e povo", referiu.
Região de barro abundante, "de grande qualidade para modelação", onde existia "já larga tradição na olaria, era natural que o presépio fosse transposto para esta matéria-prima, aproveitando o gosto presepista provocado pela 'escola de Mafra'".
"As barristas de Estremoz que até então eram essencialmente santeiras, deram início à produção popular, seguindo o esquema que observavam nas cenas da Natividade eruditas, que conheciam dos conventos e casas mais abastadas onde estavam expostas para adoração, e assim nasceu uma tradição", afirma o investigador.
Esta tradição cultural declinou no século XIX com a importação da árvore de Natal e "pelo secularismo" da sociedade.
"Em Estremoz, no final do século XIX, apenas por encomenda a barrista Gertrudes Rosa Marques modelava presépios", arte que ganhou novo fôlego a partir de 1935, "sob influência do escultor José Maria Sá Lemos, diretor da Escola de Artes e Ofícios da cidade".
A partir da segunda metade do século XX, a cena da Natividade foi "adoptada por todos os barristas em atividade e é hoje incontornável para qualquer um dos artesãos".
Segundo Hugo Guerreiro, as encomendas avolumam-se a partir de Setembro e a inovação tem sido a palavra-chave na produção actual, muito devido às exigências dos coleccionadores, e da grande procura de 'novidades' motivada pelas diversas exposições natalícias em todo o país e também pela candidatura a Património Imaterial da UNESCO.
Caso a Produção de Figurado em Barro de Estremoz seja classificada pela UNESCO, esta é o "reconhecimento de uma arte popular que marca identitariamente Estremoz e o seu povo", remata Hugo Guerreiro.