Há milhões de anos viveu um estranho dinossauro com pescoço de cisne
O Halszkaraptor escuilliei viveu durante período Cretácico, há cerca de 75 milhões de anos, no lugar que é agora a Mongólia. Os cientistas dizem que era parecido com um pato e que nadava como um pinguim.
Combinava um elegante pescoço de cisne com uns pés de anfíbio e viveu há dezenas de milhões de anos no lugar que é hoje a Mongólia. O novo dinossauro descoberto por investigadores italianos junta à bizarra anatomia um nome difícil: Halszkaraptor escuilliei. Faz parte do grupo (terópode) de dinossauros do qual descendem as aves, no entanto, presume-se que este bípede tenha passado algum tempo na água. A descrição do fóssil, que continua preso a uma rocha, está num artigo publicado esta quinta-feira na revista Nature.
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Combinava um elegante pescoço de cisne com uns pés de anfíbio e viveu há dezenas de milhões de anos no lugar que é hoje a Mongólia. O novo dinossauro descoberto por investigadores italianos junta à bizarra anatomia um nome difícil: Halszkaraptor escuilliei. Faz parte do grupo (terópode) de dinossauros do qual descendem as aves, no entanto, presume-se que este bípede tenha passado algum tempo na água. A descrição do fóssil, que continua preso a uma rocha, está num artigo publicado esta quinta-feira na revista Nature.
Era, dizem os especialistas, um terópode anfíbio. “Um bípede em terra e um nadador que usava os seus membros inferiores para manobras na água e que dependia do seu longo pescoço para procurar alimentos”, refere o artigo da equipa de especialistas liderada por Andrea Cau, do Museu Geológico e Paleontológico Giovanni Capellini, em Bolonha, Itália. O trabalho dos cientistas inclui uma apresentação em 3D do pedaço da rocha onde estava (e continua a estar) o fóssil. Em vez de tentar extrair o frágil fóssil correndo o risco de o danificar, os investigadores optaram por recorrer a uma técnica de imagiologia de alta resolução (com radiação dita de “sincrotrão”, gerada por poderosos feixes de raios X) com o exemplar ainda incorporado na rocha.
Assim, o resultado destes exames apresenta um dinossauro parecido com um pato, que nadava como um pinguim e que usava um longo pescoço de cisne para se alimentar e para sua defesa, servindo melhor detectar eventuais predadores. O novo dinossauro tem algumas características únicas. Segundo o artigo, este é o dinossauro com mais dentes na zona pré-maxilar, um total de 11 dentes em cada uma dessas zonas, quando o máximo encontrado até agora seria entre seis e sete.
No Halszkaraptor escuilliei foram ainda identificados alguns traços intrigantes. Os especialistas assinalam, por exemplo, que a invulgar morfologia dos seus membros inferiores não parece consistente com uma ecologia semiaquática. “O pescoço hiperalongado do Halszkaraptor, contrariado por uma cauda menos alongada, sugere que o seu centro de gravidade foi deslocado para uma zona anterior à região do quadril. Embora a posição de centro de gravidade dianteiro seja adaptada funcionalmente durante a natação, ela desafia a postura bípede obrigatória dos terópodes, que exige que o centro fique perto da articulação do quadril”, explica o artigo.
“A primeira vez que examinei o espécime, até me questionei se era um fóssil genuíno”, refere Andrea Cau, citado num comunicado de imprensa sobre o estudo divulgado pelo Laboratório Europeu de Radiações Sincrotrão (ESRF), em Grenoble, França, que adianta ainda que embora o Halszkaraptor seja único de várias maneiras, certas partes do esqueleto, incluindo as “garras assassinas” em forma de foice, são partilhadas com dinossauros bem conhecidos como o Velociraptor. “Esta mistura inesperada de traços torna difícil colocar Halszka dentro das classificações tradicionais”, nota ainda Andrea Cau.
A ecomorfologia deste grupo de dinossauros desvia-se significativamente de outros do grupo Maniraptora (um ramo que inclui as aves e dinossauros aparentados) e, escrevem os investigadores no artigo, “pode representar o primeiro caso de um modo de locomoção dupla entre os dinossauros não-avianos, incluindo que a natação assistida pelos membros inferiores”. Assim, concluem, o Halszkaraptor escuilliei “ilustra o quanto da diversidade dos dinossauros continua por descobrir, mesmo em regiões intensamente estudadas, como a Mongólia”.
“Quando olhamos para além dos fósseis de dinossauros, encontramos a maioria das características invulgares do Halszkaraptor nos répteis aquáticos e nas aves que nadam”, conclui Andrea Cau, no comunicado de imprensa. “A morfologia peculiar do Halszkaraptor encaixa-se melhor com a de um predador anfíbio que se foi adaptado a uma ecologia terrestre e aquática combinada: um estilo de vida peculiar que nunca tinha sido identificado nestes dinossauros. Graças à tomografia de sincrotrões, demonstramos agora que os dinossauros da classe ‘raptor’ não só corriam e voavam, mas também nadavam!”
Este dinossauro viveu o período Cretácico, entre há cerca de 71 a 75 milhões de anos. E porquê este nome complicado? Como sempre nestas coisas de nomes científicos, o primeiro (Halszkaraptor) está relacionado com o género e o segundo (o “apelido” escuilliei) com uma homenagem que é feita pelos seus descobridores, neste caso ao paleontólogo e “caçador de dinossauros” François Escuillié. Na realidade, a designação do género também está associada a alguém, neste caso à cientista japonesa Halszka Osmólska pelo seu contributo decisivo no campo da paleontologia dos terópodes, incluindo a descrição da primeira espécie descoberta deste tipo de dinossauros (Hulsanpes perlei).
Agora, os investigadores agrupam o novo achado com outros dois exemplares (o Hulsanpes perlei e o Mahakala omnogavae) até agora enigmáticos e fragmentários para constituir e apresentar uma nova subfamília de dinossauro, a Halszkaraptorinae (o que, traduzindo, será algo como kalszkaraptorinos).