Primeiros socorros: quando um kit pode fazer a diferença

Foto

Ivan Rojas Urrea/ Unsplash

Rita Pereira é médica veterinária na Clínica Veterinária do Taralhão

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Rita Pereira é médica veterinária na Clínica Veterinária do Taralhão

O número de lares portugueses com animais de companhia tem vindo a aumentar significativamente, tendo atingindo cerca de 56% no ano de 2016. Assim, é fácil compreender que em algum momento das nossas vidas poderá fazer a diferença ter conhecimentos básicos de primeiros socorros em animais de companhia. Isto porque, por muito cuidado e atenção que tenhamos, os acidentes acontecem.

Como tutores ou apenas contactando com animais ocasionalmente, é provável que nos deparemos com uma situação onde um animal necessita da nossa ajuda. Os primeiros socorros referem-se aos procedimentos que devem ser realizados momentos após o incidente, quer ele coloque ou não a vida do animal em risco. Eles podem fazer a diferença na recuperação do animal, ou mesmo ditar a sua sobrevivência.

Algo tão corriqueiro como cortar unhas ao nosso animal pode ser o motivo para momentos de algum stress: cortámos demasiado uma unha e temos o nosso animal a sangrar, sem sabermos o que fazer. Num momento de stress, a nossa capacidade de raciocínio pode alterar-se, por isso convém estar previamente preparado. Independentemente do incidente, o tempo é um factor essencial. Neste sentido, ter um kit de primeiros socorros num local de fácil acesso e com os materiais certos permite uma prestação de cuidados mais rápida e eficaz.

O que incluir no kit de primeiros socorros?

O objectivo do kit é reunir, num local acessível, um conjunto de materiais úteis para prestar assistência a um animal. Uma excelente opção é colocar o kit numa mala leve e fácil de transportar, uma vez que desta forma poderás levá-lo quando o teu animal viajar contigo.

Em primeiro lugar, é essencial ter o historial clínico do animal (alergias, doenças crónicas, medicações habituais, etc) em formato de papel. Numa situação em que o animal requer assistência veterinária, poderá ser difícil para o tutor lembrar-se do historial médico completo – e esta informação é essencial para o veterinário.

O kit também deverá incluir contactos telefónicos importantes, nomeadamente do médico veterinário habitual, do centro veterinário mais próximo e com atendimento 24 horas e do centro de informação antivenenos (808 250 143).

Foto

Numa situação onde um animal requer primeiros socorros, o nível de stress experimentado por ele é, em regra geral, elevado e frequentemente associado a algum grau de dor. Por este motivo é essencial termos em conta que o animal poderá reagir de forma inesperada, contra nós. Neste sentido, o kit deverá conter sempre um açaime (adequado à anatomia do focinho do animal), uma ligadura e uma trela extra. O açaime não deverá ser utilizado em animais sem vigilância, com dificuldades respiratórias ou que poderão vomitar, sob o risco de poderem morrer nestes três cenários. A grande vantagem da ligadura em comparação ao açaime é que pode ser removida rapidamente caso necessário, por exemplo se o animal vomitar, evitando que este sufoque no próprio vómito. A ligadura a utilizar deve ser elástica (para maior conforto do animal) e a função dela é impedir que o animal abra a boca.

Modo de aplicação da ligadura a utilizar como açaime

 

Os restantes materiais presentes no kit deverão ser versáteis, de modo a serem úteis nas mais diversas situações, nomeadamente:

- Luvas descartáveis

- Termómetro e vaselina (para medição da temperatura rectal)

- Pinça (para remover praganas, carraças, …)

- Tesoura e lâmina de barbear (para remover pêlos, de forma a facilitar a limpeza de feridas, bem como a avaliação da sua gravidade)

- Alicate de unhas

- Água oxigenada

- Soro fisiológico (limpeza de feridas)

- Álcool (pode ser utilizado para auxiliar a descida da temperatura corporal, quando aplicado nas almofadas plantares)

- Betadine

- Agulha e seringa

- Material de penso: compressas, rolo de algodão, fita adesiva, fita autoadesiva, pensos rápidos (para estancar hemorragias, manter feridas limpas até assistência veterinária, …)

- Garrote (para estancar hemorragias severas até assistência veterinária, nunca por mais de 15-20 minutos)

- Pó hemostático (para controlar pequenas hemorragias)

- Pomada cicatrizante

- Gelo instantâneo (poderá ser útil após trauma)

- Manta (utilizada para aquecer o animal ou como maca para o transportar, caso seja necessário imobilizá-lo ou tenha dificuldades locomotoras)

- Mel (por exemplo, para massajar nas gengivas, caso o animal apresente sinais de hipoglicémia)

Medicação habitual de reserva

Poderá ainda fazer sentido incluir no kit algum tipo de medicação, dependendo do historial clínico do animal. Por exemplo, num animal que faça reacção alérgica à picada de abelha, se esta situação for recorrente, poderá fazer sentido incluir uma medicação a utilizar em SOS, indicada previamente pelo médico veterinário. O ideal é pedir aconselhamento ao veterinário e nunca medicar o animal sem indicação médica prévia.

Os primeiros socorros nunca deverão ser utilizados como substituto de uma avaliação realizada por um profissional, mas podem ajudar a salvar a vida do teu animal, até que ele possa ser assistido por um médico veterinário.

Clínica Veterinária do Taralhão

Morada: Rua do Taralhão nº50 4420-350 São Cosme - Gondomar

Contactos: 220 124 295 934 982 307 (24h/dia)

Email

Facebook