Mensagem de Trump lança dúvidas sobre possível obstrução à justiça
A afirmação de Trump está a ser vista como um crime de obstrução à justiça. Advogado do líder da Casa Branca saltou em defesa e assume responsabilidade.
No sábado, o Presidente norte-americano afirmou que despediu Michael Flynn do cargo de conselheiro de Segurança Nacional “porque ele mentiu ao vice-presidente e ao FBI”. No entanto, o tweet de Trump pode trazer problemas ao líder da Casa Branca, uma vez que com esta declaração pode estar a admitir que já tinha conhecimento das mentiras de Flynn. O que significaria que a demissão de Flynn foi uma obstrução à justiça e uma tentativa de influenciar as investigações relacionadas com as ligações da sua campanha à Rússia.
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No sábado, o Presidente norte-americano afirmou que despediu Michael Flynn do cargo de conselheiro de Segurança Nacional “porque ele mentiu ao vice-presidente e ao FBI”. No entanto, o tweet de Trump pode trazer problemas ao líder da Casa Branca, uma vez que com esta declaração pode estar a admitir que já tinha conhecimento das mentiras de Flynn. O que significaria que a demissão de Flynn foi uma obstrução à justiça e uma tentativa de influenciar as investigações relacionadas com as ligações da sua campanha à Rússia.
Este domingo, num esforço de conter as consequências da publicação, John Dowd, um dos advogados de Trump, declarou-se o autor do tweet em questão, assumindo as responsabilidades (e eventuais consequências) da afirmação.
“Tive de demitir o general [Michael] Flynn porque ele mentiu ao vice-presidente [Mike Pence] e ao FBI. Assumiu-se culpado dessas mentiras. É uma pena porque as suas acções durante a transição foram legais. Não há nada a esconder!”, lê-se na mensagem publicada na conta pessoal de Trump.
A mensagem surge um dia depois de Flynn se ter declarado culpado em tribunal por ter mentido ao FBI acerca dos seus contactos com o embaixador russo em Washington para discutir as sanções impostas pelos Estados Unidos a Moscovo.
Face às críticas e reacções que o acusam de crime de obstrução de justiça, o advogado pessoal de Trump saltou em defesa do Presidente dos Estados Unidos e assumiu a responsabilidade pela publicação. E tentou desculpar-se com a falta de experiência no Twitter. “Não estou muito familiarizado com isto do Twitter. Não tinha intenção de ser notícia”, afirmou John Dowd à agência Axios.
Dowd assegura que escreveu o rascunho da publicação de Trump e que cometeu um erro ao redigir a mensagem. “Devia ter colocado a parte de ‘mentir ao FBI’ numa frase separada, referente ao seu julgamento”, afirmou o advogado. “Em vez disso, coloquei as duas coisas juntas [a mentira ao vice-presidente e ao FBI] e levei-vos à loucura. O tweet é uma abreviatura [da mensagem]”, justificou.
“Eu assumo a responsabilidade. Lamento ter induzido as pessoas em erro”, insistiu. O advogado de 76 anos, que integra a equipa de Trump desde Junho, garantiu que o Presidente norte-americano apenas tomou conhecimento de que Flynn mentiu ao FBI quando Flynn foi acusado. No entanto, a justificação apresentada pelo advogado não está a convencer democratas e comentadores. Dianne Feinstein, senadora do comité que investiga a eventual interferência russa nas eleições, anunciou que está a ser preparada “uma acusação por obstrução à justiça”.
Além disso, como nota o senador democrata Ted Lieu, Trump não abordou a publicação, nem para esclarecer que não tinha sido escrita por ele, nem para dizer que estava incorrecta ou imprecisa. Em vez disso, o Presidente norte-americano partiu para mais um ataque ao FBI.
“Nunca pedi a Comey para que parasse a investigação a Flynn. São apenas notícias falsas a dar cobertura a outra das mentiras de Comey”, escreveu Trump. O Presidente norte-americano voltou a atacar a rival democrata, desviando as atenções para Hillary Clinton, que nunca foi formalmente acusada.
Esta segunda-feira, a publicação mais recente de Donald Trump é mais uma acusação a um agente do FBI: “Notícia: ‘Agente do FBI anti-Trump liderou investigação sobre os emails de Clinton’. Agora começa tudo a fazer sentido!”. Trump não partilha nenhuma ligação para a notícia a que se refere, mas uma rápida pesquisa do título devolve-nos como resultado o site conservador The Daily Wire como o autor do conteúdo citado por Trump.
Michael Flynn foi conselheiro de Segurança Nacional durante cerca de um mês, de 20 de Janeiro a 13 de Fevereiro de 2017. A demissão surgiu depois de se tornar público que enganou o vice-presidente Mike Pence sobre a natureza e conteúdo dos seus contactos com o antigo embaixador russo nos EUA, Sergei Kisliak.
Flynn é o primeiro elemento ou ex-responsável da Casa Branca – da Administração de Trump – a ser acusado na investigação de Mueller. De acordo com procuradores que trabalham com Robert Mueller, Flynn estará disposto a testemunhar que foi o Presidente que o mandatou para fazer estes contactos.
Pelo menos três pessoas ligadas à campanha de Trump já foram acusadas por Mueller. Paul Manafort e Rick Gates, detidos no início do mês, declararam-se inocentes. George Papadopoulos, antigo conselheiro para a política externa da campanha do actual Presidente, admitiu ter mentido às autoridades sobre os contactos que manteve com os russos.