Balsemão: "Seria de uma extrema arrogância pensar que podemos ficar sozinhos"
Francisco Pedro Balsemão descreve os cenários teóricos sobre o futuro da Impresa, no caso da compra da Media Capital pela Altice avançar. E explica a emissão de dívida falhada, assim como a venda das revistas a Luís Delgado.
Vê como possível consequência desta operação uma nova hipótese de concentração no sector dos media ou a criação de outro grupo para concorrer directamente com a TVI-Meo?
Conto que a operação não avance e por isso isto é especulativo, mas se a pergunta é se a Impresa estaria disposta a ser comprada por outro grupo de telecomunicações, o que sempre dissemos é que não estamos à venda. Isso é algo que não mudou. Temos feito o nosso percurso e estamos confiantes de que será cada vez mais forte. Temos muito para dar à sociedade portuguesa e aos nossos stakeholders e investidores e sentimos que não estamos à venda, mas nunca enjeitámos qualquer tipo de parceria que fosse numa perspectiva win-win, em que cada parte aportasse know-how à parceria e que todos ficassem a ganhar no final. No entanto, isto não seria através da aquisição de uma posição maioritária.
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Vê como possível consequência desta operação uma nova hipótese de concentração no sector dos media ou a criação de outro grupo para concorrer directamente com a TVI-Meo?
Conto que a operação não avance e por isso isto é especulativo, mas se a pergunta é se a Impresa estaria disposta a ser comprada por outro grupo de telecomunicações, o que sempre dissemos é que não estamos à venda. Isso é algo que não mudou. Temos feito o nosso percurso e estamos confiantes de que será cada vez mais forte. Temos muito para dar à sociedade portuguesa e aos nossos stakeholders e investidores e sentimos que não estamos à venda, mas nunca enjeitámos qualquer tipo de parceria que fosse numa perspectiva win-win, em que cada parte aportasse know-how à parceria e que todos ficassem a ganhar no final. No entanto, isto não seria através da aquisição de uma posição maioritária.
Mas, não estando à venda, num contexto de crescimento de receitas que continua a ser débil e com uma dívida grande como a que a Impresa tem, se a compra da Media Capital avançasse, criando um rival directo dez vezes mais forte, qual seria a estratégia possível para a Impresa?
Não lhe vou dizer qual é a estratégia, senão também estaria a dar trunfos aos nossos concorrentes, mas é claro que estamos a pensar em todas as frentes. Seria um péssimo gestor, se não estivesse a pensar em qual seria o meu próximo passo, caso isto avançasse. Mas é como eu disse, passa por parcerias. Há aqui um ecossistema mediático cada vez mais complexo, muitas vezes não sabemos com quem é que estamos a concorrer e os nossos concorrentes muitas vezes são nossos parceiros. Não podemos ficar sozinhos, isso para mim é claro. Seria de uma extrema arrogância pensar que podemos ficar sozinhos, mas também seria incoerente da minha parte dizer que, se avançar, então queremos uma coisa igual com outro grupo de telecomunicações. Passa por parcerias estáveis, sustentáveis, de longo prazo, em que nós aportaremos o nosso know-how, os nossos conteúdos e propriedade intelectual e quem estiver do lado de lá fará o mesmo.
Falou num sistema cada vez mais complexo dos media a nível global. Se a Media Capital precisa mesmo de ser vendida, não é melhor que a TVI fique com a Altice do que pura e simplesmente entrar em risco de colapso?
Nem a SIC, nem a TVI estão neste momento em risco de colapso. Basta olhar para as contas. Não vejo que isso pudesse acontecer. Se a pergunta é sobre os problemas que o vendedor, a Prisa, poderia enfrentar sem a venda, isso tem de ser perguntado à Prisa, mas a minha resposta seria: a Prisa que encontrasse outro comprador.
A Nos já está a renegociar com a SIC a revisão do contrato, como aconteceu com a Meo?
Temos contratos com todos os operadores de telecomunicações e esses contratos têm um prazo.
Em relação à Nos o prazo é este ano?
Sim, é.
As conversações estão a avançar?
Sim.
A Impresa só com a SIC e o Expresso volta a retomar o caminho da rentabilidade?
A decisão do nosso reposicionamento estratégico é a de fortalecer e fazer crescer o nosso resultado operacional e o nosso cash flow e resultado líquido. Não teria tomado essa decisão, se não fosse com esse objectivo. Nós somos rentáveis, não deixámos de ser rentáveis estes anos todos. Do que se fala muito é da nossa dívida e a nossa dívida tem um historial, o de que há muitos anos nós comprámos uma participação na SIC ao BPI e para isso fomos financiados pelo próprio BPI, tendo estado a pagar essa dívida até hoje. Se não fosse isso, estaríamos muito melhor em termos do rácio dívida/EBITDA (proveitos resultantes da operação). Mas isso são coisas do passado, e as pessoas não sabem isso quando olham para esse rácio e para estes números. O caminho tem estado a ser feito, estamos a reduzir a dívida há nove anos, temos feito um esforço notável nesse sentido e a decisão do reposicionamento estratégico é exactamente para gerar mais cash flow para fazer face à dívida.
Esse reposicionamento vai aumentar a vossa capacidade de ir ao mercado buscar financiamento? Tiveram dificuldades com a colocação de uma emissão obrigacionista no Verão.
Este reposicionamento estratégico é, no fundo, reconhecermos que temos duas marcas fortíssimas que são a SIC e o Expresso, e que a nossa estrutura como estava tinha um foco muito maior nas marcas mais fortes e que as marcas mais pequenas muitas vezes não beneficiavam dessa atenção. Por isso decidimos, tendo em conta também aquilo que achamos que é o futuro desta área, que é o audiovisual e o digital, voltar às marcas criadas de raiz. Neste momento temos uma situação financeira e de tesouraria perfeitamente estável, temos uma óptima relação com os nossos credores, perfeitamente estabilizada, e ninguém está preocupado. É obvio que não é segredo para ninguém, porque também o dissemos, que o plano estratégico a três anos passa por reduzir dívida e que tudo isto nos vai ajudar a fazer com que isso aconteça. Em relação ao empréstimo [cujo refinanciamento seria feito através da emissão obrigacionista cancelada], o prazo é só em Novembro do próximo ano; por isso, temos ainda 12 meses para que seja pago. É claro que isto teve um impacto mediático muito grande, porque é o grupo Impresa, mas na realidade não nos afectou nada, nem vai afectar, encontraremos outras vias. Fizemos uma tentativa, mas encontraremos outras vias de financiamento.
A venda das revistas do grupo a Luís Delgado já tem data? Com que valor será feito o negócio?
Sempre dissemos que queríamos que ficasse feito até ao final do ano e estamos a trabalhar nesse sentido. Há um processo negocial em curso já muito avançado, com uma proposta vinculativa em relação ao trespasse e tudo indica que alcançaremos os prazos que nos tínhamos imposto. Não posso referir o valor.
Já há uma decisão sobre quantos trabalhadores vão com as revistas e sobre quantos trabalhadores terão de rescindir com a Impresa?
Recebemos várias candidaturas e a proposta do Luís Delgado era a que apresentava as melhores condições em relação à parte financeira, mas também quanto à idoneidade. Prezamos muito a independência editorial e não faríamos uma venda, se não fosse nessas condições, por isso escolhemos o Luís Delgado, que tem essa idoneidade e experiência nos media. Por outro lado, na manutenção dos postos de trabalho, esta foi de longe a proposta que mais os preserva. As outras eram propostas de grupos de media que já existiam, uns maiores, outros menores. Quanto ao Luís Delgado, criando um grupo de raiz, precisa de uma grande fatia das pessoas da estrutura. Temos esse compromisso do lado de lá.