Extrema-direita alemã escolhe nova liderança entre protestos violentos
Várias pessoas ficaram feridas e pelo menos dez foram detidas antes e durante o congresso do Alternativa para a Alemanha, em Hannover.
O partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AFD) escolheu este fim-de-semana a sua nova liderança, num congresso marcado por protestos violentos nas ruas da cidade de Hannover.
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O partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AFD) escolheu este fim-de-semana a sua nova liderança, num congresso marcado por protestos violentos nas ruas da cidade de Hannover.
Pelo menos seis mil pessoas juntaram-se no sábado nas proximidades do local da convenção. O objectivo era manifestarem-se contra as propostas do partido, que obteve uma enorme vitória nas eleições legislativas de Setembro – com 12,1% dos votos, conseguiu eleger 92 deputados para o Parlamento alemão, onde é a terceira força política atrás da CDU de Angela Merkel e do SPD de Martin Schulz.
Mas os protestos acabaram por se tornar violentos, e os 600 delegados do AFD tiveram de ser protegidos pela polícia para conseguirem entrar no local da convenção. Várias pessoas ficaram feridas, incluindo um manifestante que ficou com a perna partida depois de se ter acorrentado a uma barricada e um agente da polícia que foi atingido numa mão com uma garrafa. Dez manifestantes foram detidos.
Os protestos atrasaram o início da convenção, mas os delegados conseguiram eleger os seus novos líderes ainda no sábado – são eles Joerg Meuthen, que era porta-voz do partido, e Alexander Gauland, um dos mais experientes e influentes membros do partido, que é reconduzido no cargo.
O Alternativa para a Alemanha foi criado em 2013 e desde então já teve vários líderes, devido às lutas entre as várias facções internas. Apesar de ter sempre mais do que um líder – tanto na presidência do partido como, agora, na bancada parlamentar –, há nomes que ficam mais ligados ao topo da hierarquia.
O primeiro foi Bernd Lucke, eleito no primeiro congresso, em Abril de 2013. Por essa altura, a AFD focava-se na luta contra o resgate financeiro de países como a Grécia e Portugal, e a sua principal mensagem era a defesa do fim da moeda única europeia.
Dois anos depois, no Verão de 2015, quando a Alemanha estava dominada pela resposta à crise dos refugiados na Europa, o partido já tinha orientado a sua mensagem para a luta contra a imigração – Bernd Lucke saiu então do partido, acusando-o de estar a transformar-se num partido xenófobo, e Frauke Petry foi eleita para o seu lugar.
Petry foi durante dois anos a cara do partido, e ficou conhecida por várias declarações anti-imigrantes e contra o multiculturalismo, sendo considerada pela generalidade dos analistas a líder do sector conservador e nacionalista da AFD.
Mas, em Abril de 2017, Petry acabou por perder uma outra luta interna, desta vez entre a sua ala e ala de Björn Höcke, vista como a mais extrema das duas – a perda de influência de Frauke Petry ficou também a dever-se à queda do seu partido nas intenções de voto.
Depois disso, a Alternativa para a Alemanha escolheu Gauland e Alice Weidel, que levaram o partido ao grande resultado das eleições de Setembro passado. E, já este fim-de-semana, realizou o seu primeiro congresso desde a entrada em força no Parlamento, onde foram escolhidos Joerg Meuthen e Alexander Gauland.
Gauland é o novo homem forte do partido, um político muito experiente e antigo membro da CDU de Angela Merkel. Saiu do partido conservador em 2010, depois de Merkel ter recuado na decisão de não apoiar o resgate financeiro da Grécia. Fazia parte de uma ala na CDU que defendia um regresso ao conservadorismo, já que consideravam que Merkel tinha levado o partido para uma área mais progressista.
Apesar de não ser visto como um político tão radical como Björn Höcke, Alexander Gauland já fez várias declarações controversas. Em Setembro passado, o novo co-presidente do Alternativa para a Alemanha disse que os alemães deveriam ter orgulho dos soldados que lutaram nas duas guerras mundiais, incluindo os nazis, argumentando com o orgulho que os britânicos têm em Churchill e os franceses em Napoleão.