Faculdade de Belas Artes do Porto precisa de obras e mais espaço, mas não há dinheiro

A associação de estudantes pinta uma faculdade esquecida, mergulhada em problemas. Já o reitor da Universidade do Porto diz que as referências à degradação das condições são “excessivas”. Há planos de reabilitação e obras, mas não há dinheiro para avançar com eles.

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De momento, há dois projectos de obras para a FBAUP Adriano Miranda

Oficinas sem sistemas de extracção de ar e sem sistemas de emergência para o caso de intoxicação. Salas em que chove dentro. Falta de aquecimento. Sobrelotação de alunos. Falta de funcionários. Um edificado desadaptado a pessoas com mobilidade reduzida. A lista de problemas da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP) que a associação de estudantes elaborou continua. No entanto, o reitor da Universidade do Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, classifica como “excessivas” “quaisquer referências a uma degradação generalizada das condições nos actuais edifícios da FBAUP”.

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Oficinas sem sistemas de extracção de ar e sem sistemas de emergência para o caso de intoxicação. Salas em que chove dentro. Falta de aquecimento. Sobrelotação de alunos. Falta de funcionários. Um edificado desadaptado a pessoas com mobilidade reduzida. A lista de problemas da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP) que a associação de estudantes elaborou continua. No entanto, o reitor da Universidade do Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, classifica como “excessivas” “quaisquer referências a uma degradação generalizada das condições nos actuais edifícios da FBAUP”.

José Carlos Paiva, o director da faculdade, reconhece a maioria das condicionantes. Mas resolver todos os problemas da FBAUP e avançar com dois projectos, um de reabilitação e outro de construção, ficaria por mais de sete milhões e 700 mil euros. E não há dinheiro – a cada ano a faculdade dá 300 mil euros de prejuízo.

A situação orçamental do estabelecimento de ensino, argumenta José Carlos Paiva, “resulta da política orçamental dos Governos”, que têm “restringido os orçamentos das universidades”. É por causa disso que problemas graves têm sido “congelados”, explica. Problemas como a falta de sistemas de extracção de ar e ventilação para pós, fumos ou substâncias tóxicas nas oficinas que assim o exigem, como as de Metal e Madeira, de Pedra, de Técnicas de Impressão e de Fotografia.

Carolina Grilo Santos, presidente da associação de estudantes e aluna da FBAUP há sete anos, já sentiu as consequências na pele. Teve uma intoxicação com amoníaco enquanto trabalhava numa oficina: “O único sistema de ventilação que temos é uma pequena janela redonda. Se é preciso fazer uma preparação com amoníaco e se de repente vier um vento, que foi o que me aconteceu, respira-se o amoníaco todo. E eu estava com máscara.” José Carlos Paiva diz reconhecer a gravidade da questão, mas argumenta que ainda “não houve condições orçamentais” para resolvê-la.

A lista elaborada pela associação de estudantes aponta ainda a falta de um sistema de emergência com dispositivos de activação em caso de intoxicação ou exposição a materiais perigosos e a ausência de um sistema de águas propício ao uso de materiais líquidos tóxicos (como tintas à base de óleo).

Mas as queixas ao nível das instalações não ficam por aí. Para Carolina, um dos problemas mais graves da faculdade reside no local onde é leccionada a técnica de trabalhar pedra. A oficina não é totalmente coberta e o telhado é composto por placas de fibrocimento que contêm amianto. Em resposta, o director explica que os alunos “só trabalham nos tempos em que há condições atmosféricas para isso” e que as telhas de fibrocimento “não têm perigosidade nenhuma porque o espaço é absolutamente arejado.”

Já dentro de um dos ateliês do Pavilhão de Escultura e Pintura, vêem-se nas paredes mensagens escritas por alunos acerca das comuns inundações na sala. Há uns anos, conta Carolina, chegou a chover em cima de trabalhos. Desde aí, as infiltrações continuaram e nada se fez. Há humidade, não há aquecimento e, nos pavilhões em que o sistema existe, “não se liga porque não se pode gastar dinheiro em energia”, revela a presidente da associação de estudantes. A tudo isto acresce a falta de espaço – as salas, ateliês e oficinas estão sobrelotados.

E se há alunos a mais, há funcionários a menos. Existem cerca de dez técnicos especializados, que servem de apoio às actividades lectivas na FBAUP. Um número que teria de ser duplicado, diz Carolina, tendo em conta o número de estudantes e atendendo ao facto de que é necessária a presença de um técnico para que qualquer oficina esteja aberta.

Escola pouco amiga das cadeiras de rodas

A acessibilidade é outro dos pontos fracos das instalações. Pessoas com mobilidade reduzida não conseguem aceder a dois pavilhões. “Fotografia, vídeo, impressão e gravura, vitral, mosaico e cerâmica. Uma pessoa com dificuldades na mobilidade não consegue fazer estas disciplinas todas”, revela Carolina.

Sediada num palacete oitocentista, a faculdade enquadra alguns edifícios classificados como património. É este um dos motivos dados por José Carlos Paiva para realçar a dificuldade inerente à construção de acessibilidades. O director afirma, no entanto, que a escola tem “encontrado soluções” para que os alunos com mobilidade reduzida possam frequentar todas as aulas.

De momento, existem dois projectos de obras para a FBAUP. O primeiro, de reabilitação, está “estudado, orçamentado e licenciado”, tendo já sido aprovado pela Câmara do Porto. Este plano de 400 mil euros resolve os problemas de acessibilidade, inclui os sistemas de circulação de ar e de emergência e, ainda, um sistema integrado de aquecimento. O director diz que está tudo pronto a avançar, assim que o dinheiro chegue – o que ainda não aconteceu. O pedido de financiamento encontra-se em concurso na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N).

O segundo plano de obras compreende a construção de um novo edificado, num terreno vizinho à escola que a Universidade do Porto adquiriu, com o objectivo de resolver, a longo prazo, a falta de espaço. Prevê-se que a verba ultrapasse os sete milhões de euros – dinheiro que ainda não se sabe de onde virá.

Neste momento, os estudantes sentem que as más condições que presenciam são reflexo da faculdade nunca estar “no topo das prioridades da Universidade do Porto”. Já Sebastião Feyo de Azevedo, o reitor da universidade, fala na aquisição do terreno vizinho da FBAUP como “o maior investimento da Universidade do Porto em construção de novas instalações dos próximos anos” e relembra que, há 10 anos, “a Universidade do Porto inaugurou um novo edifício de cinco pisos dentro do complexo da FBAUP”. Descarta, por isso, “qualquer acusação de que a Faculdade de Belas Artes é desconsiderada ou subalternizada em relação às restantes 13 faculdades da Universidade do Porto em qualquer das suas áreas de actividade, mas muito particularmente no que toca a planos de beneficiação de instalações”.