Ramalho Eanes sobre Belmiro: “Um homem a quem o país muito deve”
No dia do funeral de Belmiro de Azevedo, que morreu nesta quarta-feira aos 79 anos, várias personalidades recordam o empresário e dono da Sonae.
Marcelo: "Homem singular e muito marcante"
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Marcelo: "Homem singular e muito marcante"
O Presidente da República lembrou Belmiro de Azevedo esta tarde, no Porto, perto da igreja de Cristo Rei, onde prestou homenagem ao empresário: "Foram mais de 40 anos em que afirmou as suas qualidades invulgares de liderança, de determinação e de visão de futuro", disse Marcelo, salientando que Belmiro olhava sempre "largo e longe".
"E, depois, com um estilo muito corajoso, não só fisicamente, mas psiquicamente corajoso, e este somatório de qualidades fizeram dele não só um grande empresário do Norte, mas um grande empresário nacional e internacional", referiu o Presidente, sublinhando que Belmiro de Azevedo, mais do que um "traço, cultura e linhagem familiar", deixou "um exemplo" para o país. "Quando arrancou, nos anos 70 e 80, que foi quando o conheci, pensava no Portugal do fim do século ou do século XXI e ninguém pensava, eram poucos que pensavam assim e essa capacidade de ver mais longe, de ir mais longe, de querer fazer mais, e que nunca abandonou, foi sempre acompanhada de grande independência e coragem", frisou.
Rui Moreira: "Um homem muito corajoso"
"Era uma pessoa muito desassombrada, dizia muito o que lhe ia na alma, o que lhe ia no peito, e tinha essa característica fundamental de ser um homem muito corajoso: não dizia aquilo que as pessoas gostavam de ouvir, dizia aquilo que achava que devia dizer, nos momentos certos, momentos apropriados", considerou o autarca do Porto.
Ramalho Eanes: “Um homem a quem o país muito deve”
O antigo Presidente da República Ramalho Eanes afirmou que Belmiro de Azevedo "é um homem a quem o país muito deve", porque "teve uma grande contribuição quer para a modernização económica do país quer para o desenvolvimento social".
Além dos contributos "para a modernização enquanto grande empreendedor, homem capaz de criar riqueza e trabalho, homem capaz de aproveitar oportunidades e descobri-las e, depois, explorá-las com ambição, ousadia, risco e, sobretudo, competência", Ramalho Eanes destacou também a "acção exemplar e ímpar em matéria de liderança e de capacidade executiva".
"Transformou a Sonae numa grande e moderna escola de negócios, uma escola prática de gestão moderna, de liderança e de aquisição de capacidade de competências competitivas", referiu o antigo Presidente junto à Igreja onde decorre a missa de corpo presente do empresário. "Não há modernização e desenvolvimento sem empresas autónomas, sem empresas perfeitamente integradas na sociedade civil, sem empresas que, nessa situação, são capazes de manter um diálogo simultaneamente de colaboração, de exigência e, se necessário, de contestação", disse classificando o empresário como "um homem muito especial" e acrescentando que era "extremamente simples, afectuoso e sempre muito crítico" dos seus próprios amigos e do país
"Na modernização económica, relevante foi o seu papel enquanto empreendedor que cria riqueza e fomenta emprego, que sabe não só aproveitar as oportunidades de negócio como até criá-las e, depois, desenvolvê-las, com ambição, com ousadia e risco, quase sempre com reconhecido sucesso, através de uma liderança e de uma capacidade executiva reconhecidamente invulgares e exemplares", elogiou ainda o antigo Presidente da República Ramalho Eanes.
Passos Coelho: "Um exemplo"
O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, destacou que Belmiro de Azevedo "será seguramente um exemplo" para quem está no mundo empresarial, mas também na política, e afirmou admirar a sua independência perante governos e políticos. "Não só respeito como admiro [o facto de Belmiro de Azevedo ter sempre demonstrado distância relativamente a políticos e governos]", respondeu Pedro Passos Coelho. Segundo o líder do PSD, Belmiro de Azevedo "foi alguém que se destacou" no país, "não apenas por ser um grande empreendedor, um bom gestor, um empresário audacioso", mas também porque "foi alguém que cultivou sempre valores importantes e que, não sendo absolutamente consensuais, são valores nos quais muitas pessoas se revêem e que são importantes na sociedade portuguesa". Passos Coelho apontou ainda "o nível grande de exigência que [o empresário] colocava no que fazia", bem como a "independência com que o fazia, valorizando sobretudo as condições de lealdade em que as economias devem funcionar e procurando reclamar do Estado, do poder político, um nível de isenção, de neutralidade que, sem excluir a regulação que é necessária, possa ajudar a dar mais verdade à iniciativa e ao mérito".
"E nessa medida é alguém que adquiriu um estatuto muito relevante que será seguramente exemplo para muitas pessoas que estão na actividade económica e empresarial, mas também na actividade política e na sociedade", vincou. Para o social-democrata, "as pessoas devem ter tanto quanto possível essa independência, reclamar essa distância e exercê-la, com respeito pelos outros, como é evidente".
"Mas é esse mesmo respeito que impõe a diversidade e a neutralidade", disse, e "o facto de ter sido sempre alguém que falou com imensa liberdade sobre tudo isso merece ser tão respeitado quanto aqueles que do lado da política também falam e se sentem com essa liberdade relativamente ao mundo dos negócios e da economia".
Fernando Gomes: "Maior referência empresarial do pós-25 de Abril"
O ex-presidente da Câmara do Porto e administrador da SAD do Futebol Clube do Porto, Fernando Gomes, recordou hoje Belmiro de Azevedo como "a maior referência empresarial do pós-25 de Abril". "Quando pensamos em todos aqueles que tiveram a coragem de enfrentar no mundo difícil no pos-25 de Abril, [Belmiro de Azevedo] foi provavelmente o mais corajoso, porque nunca deixou de dizer o que pensava, mesmo que isso lhe pudesse trazer algumas consequências menos positivas", afirmou Fernando Gomes. Para o ex-autarca, o empresário "foi sempre muito frontal". "Morreu uma grande referência do Norte, alguém que sempre se manteve aqui com todas as suas estruturas, nunca cedeu, e isso é também uma perda muito grande, desde logo para o país, mas também para a região, que não tem assim tanta gente de referência como Belmiro de Azevedo", disse.
O empresário Belmiro de Azevedo morreu na quarta-feira aos 79 anos. O funeral realiza-se esta quinta-feira, no Porto.