O grande Zé Pedro
Devo-lhe muitas dessas bebedeiras de água: é o espírito que se leva mais do que aquele que se bebe.
Recuperamos esta crónica, originalmente publicada a 30 de Novembro de 2017, por ocasião do primeiro aniversário da morte de Zé Pedro.
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Recuperamos esta crónica, originalmente publicada a 30 de Novembro de 2017, por ocasião do primeiro aniversário da morte de Zé Pedro.
O Zé Pedro era um artista e um senhor. Estava sempre bem disposto, fazia questão de ajudar os outros e tinha uma alma generosa que aceitava as diferenças nas maneiras de falar, viver e fazer música.
O Zé Pedro era bem educado e sorridente. A boa educação consiste em tornar mais confortável e agradável a existência dos outros: bem cultivada, é uma forma de bondade. O Zé Pedro tinha essa bondade e, para mais, usava-a bem.
Em 2005 tive de deixar de beber álcool e o Zé Pedro ajudou-me.
Disse-me que não custava nada, que era como continuar a beber, porque nos ríamos à mesma, como se tivéssemos bebido.
Na altura não acreditei mas é verdade. Assim fez e assim foi. Bebi muitas vezes à saúde do Zé Pedro com água das Pedras, rindo-me como se estivesse a beber whisky. Devo-lhe muitas dessas bebedeiras de água: é o espírito que se leva mais do que aquele que se bebe. Nunca me hei-de esquecer que foi o Zé Pedro que me ensinou isso: foi uma lição de felicidade e de sabedoria, como tantas que conheço dele.
Os Xutos e Pontapés são uma grande banda que é amada com razão, para além da força musical que têm. Há neles uma honestidade, um espírito de missão, uma coragem, uma beleza, uma rendição ao prazer, à alegria e à expressão do amor, da música e da rebeldia. Pode-se falar deles, X&P, sem falar nos grandes músicos que contém? Magicamente, sim, quase que sim.
O Zé Pedro deixa os Xutos e Pontapés como se continuassem com ele. É obra dele e é obra deles.
Obrigado, Zé Pedro, por teres dado tudo.