Nos 25 anos dos Xutos, Zé Pedro recordou 25 singles da banda

Quando os Xutos & Pontapés fizeram 25 anos, editaram a caixa 25 Singles. Zé Pedro, guitarrista e membro-fundador, levou-nos nesse ano de 2004 até ao interior de uma discografia.

Foto
Zé Pedro no Rock in Rio em 2004 Rui Gaudêncio

Texto publicado pela primeira vez a 14 de Janeiro de 2005

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Texto publicado pela primeira vez a 14 de Janeiro de 2005

A ideia desta caixa agradou a Zé Pedro, que adora caixas ou edições especiais; "Tenho os produtos todos que posso ter dos Stones, ou dos U2. Cada vez que encontro uma caixinha nem me interessa se tenho todos os temas espalhados pelos LP. Acho que, para uma banda com história, justifica sempre ter esses bombons para os coleccionadores."

O primeiro single, Sémen/Quero mais (1981), resultou de "uma gravação em cima da hora". Foi uma iniciativa do radialista António Sérgio, responsável pela etiqueta Rotação. "Ele já andava interessado em nós. Apanhou um fim-de-semana vago e desafiou-nos. Foi ir à sala de ensaios, escolher o material, chegar a acordo sobre o que gravar - nesse fim-de-semana gravámos e misturámos quatro temas" que serviram também para Toca e Foge (1982). "Foi a primeira experiência de estúdio, estávamos entre o nervoso e o excitado. Tocávamos juntos há três anos, dávamos concertos, mas uma coisa era 'fazer um exame' e passar para o papel o que se tinha aprendido."

Na altura de Remar Remar (1984), acabou "a euforia do rock português, foi tudo abaixo. Quando o nosso disco [álbum de estreia, 78-82] sai estava a entrar a vaga dos Trovante, o Vitorino, Menina estás à janela". Foi um tempo de poucos espectáculos, o disco como objecto de culto e "relações tremidas" entre Zé Pedro e o guitarra-solo Francis - "tínhamos concepções e objectivos diferentes. Ele queria ir para as grandes editoras, e eu achava devíamos ir dando os nossos concertos, que as coisas se iam resolver naturalmente". Em 1983 o Rock Rendez Vous [RRV, sala de concertos de Lisboa] foi fechado, e um dia os Xutos recebem um telefonema do DJ do RRV, Pita, a propor um concerto de reabertura. "Nessa altura o Francis recusou-se a ir. E acabou por sair. Actuámos em trio, para dez pessoas, e entre elas estava o João Cabeleira! [que se tornou o guitarra-solo do grupo]"

Após a entrada de Cabeleira, em finais de 1983, a solução, como outras vezes aconteceria, para a modorra foi... gravar um disco. "Não íamos procurar editoras, elas não vinham à nossa procura. O Kalu, o único que estava a trabalhar, pagou uma sessão no Angel 1 e gravámos dois temas." Entretanto tinha-se constituído a editora independente Fundação Atlântica, projecto de Pedro Ayres Magalhães (Heróis do Mar), Ricardo Camacho (Sétima Legião) e o crítico Miguel Esteves Cardoso. "O Pedro [Oliveira, guitarrista dos Sétima] soube que estávamos disponíveis e com marcação de estúdio. O Camacho perguntou se estávamos interessados, porque ele queria muito produzir." A saída da Rotação deu-se sem atritos, pois António Sérgio (também de saída) "tratou do contrato, saímos limpinhos".

Na escolha dos temas para o single, Ricardo Camacho "adorou logo" Remar, remar (1984), que Zé Pedro considera ainda "o tema de mais luta" do grupo. A palavra-chave é "resistência". Foi um disco "muito honesto", pois na altura as experiências da banda eram "de remar contra a maré, de não fazer cedências, de não ir atrás de editoras, não desmoralizar, manter-se no lugar, firme e hirto!". O mesmo se pode dizer para o lado B, "Longa se torna a espera" - "estávamos há anos nessa situação".

Barcos gregos/Homem do leme (1986), embora com dois anos de diferença de Remar..., faz parte do mesmo "bolo". Os temas eram tocados ao vivo, sem hipóteses de ser editados. Os Xutos estavam "há um ano" em negociações com a EMI-Valentim de Carvalho. "O Francisco Vasconcelos [director] pensava que o nosso som era demasiado para a frente, que tinha que se esperar para a gente ir apanhar o barco, e nós, totalmente ao contrário, achávamos que as coisas tinham que sair para as pessoas acompanharem as bandas e não as bandas acompanharem as pessoas." Quando o ano de negociações chegou ao fim e a resposta foi um adiamento da edição para o ano seguinte (1987), o grupo "irritou-se". "Ai é? Então vamos gravar este ano!" Resultado: Cerco. O objectivo era "marcar uma posição para a EMI", que conseguiam fazer as coisas sozinhos. Os contactos com a Dansa do Som [editora ligada ao RRV] não foram animadores. Não havia dinheiro, nem estúdios...

A solução foi uma maravilha de engenho: gravaram a bateria no RRV. "Aquilo estava vazio, o Kalu teve que gravar a bateria dos seis temas de cor... nós 'cantávamos' à volta dele, mexíamos os lábios e ele lá deixou as baterias a correr, porque tinha que ir para fora." Pegaram nas baterias e foi no estúdio de Manuel Cardoso (Frodo) que acabaram de gravar o resto de Cerco, editado antes do Natal. Levou boas críticas, e a única parte negativa era a parte do som! "As canções são óptimas, é pena o mau som e tal..."

A foto [da capa de Barcos gregos] tem uma história engraçada. "O fotógrafo que nos arranjaram tinha, em Alcântara, um estúdio familiar, com molduras... Era amigo do Mário Guia, fez-nos à borla." Lá foram para o estúdio, "todos chateados, o homem sem saber o que fazer connosco". Estavam vestidos normalmente, de negro e com os lenços vermelhos. Por fim, diz o fotógrafo: "Já só há uma fotografia, acabou o rolo!" Mas entretanto descobriram uma arca onde estava uma data de coisas, "uns farrapos", com os quais os cinco Xutos se vestiram. "Preparámo-nos exclusivamente para a última foto da noite! Até deu um 'poster'. Foi a última foto do rolo..."

Sai p'rá rua (1987) marca a mudança para uma multinacional. O contrato com a Polygram foi assinado no RRV, na noite de 31 de Agosto - um dos dois dias dos espectáculos gravados para o disco 1º de Agosto no Rock Rendez Vous, que acabou por ser editado apenas em 2000. "O Tozé Brito [da Polygram] já tinha falado connosco - tinha 4 mil contos, dava mil a cada uma de quatro bandas. Xutos, Radar Khadafi, Afonsinhos do Condado e Mler Ife Dada... Disse ele: 'Levem esta massa e fazem o que quiserem, o que eu quero é um disco"'. O que os Xutos gostaram de ouvir. "Com esses mil contos fomos buscar o Carlos Maria Trindade [teclista dos Heróis do Mar], o produtor mais na moda - vinha com ideias dos Heróis, aquelas baterias eram um bocado Depeche Mode."

Quando chegou à altura de escolher um single de apresentação do álbum Circo de Feras quiseram... Sai p'rá rua. "Não percebo por que razão saíram estas duas no single de estreia, afinal eram duas das mais fracas do álbum, hoje nem as tocamos.... Toda a gente estava a embicar para os Contentores (1987), se calhar achámos que era muito fácil ir pelos Contentores..."  Sai p'rá rua foi também o primeiro videoclip dos Xutos: "Passámos um fim-de-semana na fábrica do cortiça do Kalu, foi uma superprodução, andávamos enstusiasmadíssimos com isto tudo."

No final de 1987 pediram um fim-de-semana para gravar um single (7º Single, 1987). Mas havia falta de material... "Lembrámo-nos da Casinha, coisa que já tocávamos há uma data de anos, uma brincadeira que o Tim começou na sala de ensaios, naqueles intervalos de espera enquanto o Kalu montava a bateria." Foi uma pedrada no charco, uma banda rock a pegar num clássico da música ligeira dos anos 30. "Caiu no goto, é verdade. Vendeu para cima de 120 mil discos, ainda hoje quando terminamos os concertos com a Casinha é p'rá doidice." Para além disso, contava ainda com "A minha aventura..", o primeiro de vários divertidos instrumentais western spaghetti. "São malhas do João [Cabeleira] nos ensaios, um gajo vai atrás - temos também a Formiga branca, e o El Tatu..."

Para ti Maria (1988) foi o single do álbum 88. "Foi um disco em que pensámos nas coisas a sério." A produção ficou a cargo de Ramon Galarza e Paulo Junqueiro, dois recém-chegados ao campo dos Xutos. "Tínhamos ido ao Brasil numa embaixada de músicos portugueses - mais o Marco Paulo, Adelaide Ferreira, Lena D'Água." A banda de suporte dos artistas incluía o baterista Ramon Galarza, o baixista Zé Nabo, o teclista Mário Laginha. "Fizemos umas actuações em São Paulo, e encontrámos o Paulo Junqueiro no mesmo hotel, ele era o técnico de som dos Kid Abelha, produziu os Titãs, trabalhava nos estúdios do Gilberto Gil." Surgiu um entendimento e ficou sempre a ideia de trabalhar com os Xutos.

As relações com o Galarza também evoluíram bem, e quando surgiu o projecto de gravar o 88 falaram-lhe, e a resposta foi: "Giro, giro era fazer aqui uma duplazinha, eu e o Junqueiro." O resultado, na opinião do guitarrista, foi "o melhor álbum dos Xutos". Realça o ambiente em estúdio, as músicas que tem, o som, o conceito geral, "é o disco de que mais boas recordações tenho". O Portugal das "9 horas de Lisboa a Bragança" cantado em Para ti Maria parece longínquo, mas nem tanto. "Mesmo com a auto-estrada ainda são umas seis horas! A primeira vez que lá fomos e que o Tim se lembrou de fazer isto foi sair de cá à meia-noite e chegámos lá às 10 da manhã. Era complicado! Naquela altura viajávamos numa Ford Transit, bancos em ângulo recto! Assistimos à construção das auto-estradas todas!"

Um dia, o encenador José Wallenstein convidou os Xutos a fazerem uma canção para a peça Inimigos, com Miguel Guilherme. O single Inimigos (1990) sai com dois temas do álbum Gritos Mudos e dois da peça de teatro. Mas na realidade Gritos Mudos não teve singles. É um álbum mal-amado. "Levou muita trancada, mas foi uma estupidez. No 88 fizemos uma conferência de imprensa para apresentar o disco nas Amoreiras, chegámos em carros antigos, aos críticos caiu-lhes muito mal, acharam que estávamos armados em vedetas." Para piorar, foram para o Brasil gravar o álbum seguinte, havia "intrigas" dentro da banda, não paravam desde 86: as tournées chegavam a 100 concertos por ano, "não tínhamos tempo para nada, ninguém percebia muito bem onde é que estava o dinheiro".

Foi tempo também da falhada "internacionalização". "Tínhamos conhecido os Mano Negra [grupo de rock francês liderado por Manu Chao], tocámos com eles em França. Havia montes de fundos comunitários para intercâmbio, e cada banda francesa convidava uma banda de um país europeu. Quando chegou a altura de receber os Mano Negra cá foi um desastre, tocámos no Infante de Sagres [Porto], um espectáculo fabuloso, e Coimbra, e em Aveiro caiu uma carga de água e teve que ser suspenso - três espectáculos, e acabou o intercâmbio." Mais tarde foram chamados para fechar a última tournée dos Mano Negra em França. Foram de propósito porque "o Manu Chao gostava muito de nós e eles eram porreiríssimos. Quando ele veio cá fui ter com ele, e ele espantado: 'Não me digas que a tua banda ainda existe!?'"

Chegam os anos 90 e estão os Xutos "agarrados a um contrato que não tinha pés nem cabeça, com a Polygram, e com dívidas ao fisco". Ainda hoje Zé Pedro não percebe se a banda não acabou só porque tinha que pagar as dívidas! "Depois tivemos que contrair um empréstimo para pagar as dívidas e tocar para pagar o empréstimo... Quando olhámos bem para o contrato vimos que tínhamos que fazer dois discos em cinco anos..." Na sua "inocência" pensaram "despachar" os discos e tentar sair da Polygram. Alugaram uma casa em Sintra, onde ficavam durante a semana. Para a produção convidaram o seu técnico Fernando Rascão e próprio Kalu, que assinavam como Frank & Stein.

"Queríamos fazer um álbum completo, ocupar os 70 minutos, e fizemos canções para isso, mas quando chegámos à Polygram eles disseram 'nem pensar' em sair, tínhamos que acabar os cinco anos do contrato. Está bem, então repartimos, tirámos umas faixas e fizemos o [álbum] Dizer Não de Vez, e com os restos mais umas novas fizemos o Direito ao Deserto  - entregámos dois álbuns com uns meses e intervalo para eles fazerem o que quiserem, e ficámos dois anos sem fazer nada [até acabar o contrato]."

No meio de aparição de novos artistas, de mudanças de agências, o nível de espectáculos reduziu-se, e estiveram quase a acabar. "Estivemos seis meses sem nos vermos, se não acabámos ali então também já não valia a pena acabar, lá retomámos os ensaios." Foi na altura em que o vocalista Tim esteve com os Resistência, Zé Pedro tinha aberto o Johnny Guitar e entrava no projecto Palma's Gang.

Estupidez e O que foi não volta a ser (1992) aparecem aqui como remixes. Na altura estava muita coisa a aparecer na área da dança, e o guitarrista consumia grupos como os Cult, que tinham uma série de discos só de remixes. Como "o Kalu e o Rascão tinham comprado os primeiros samplers, andavam num entusiasmo à volta dos aparelhos", deixaram-nos tentar. E alguns temas desta fase difícil, como Chuva dissolvente (1992), foram recuperados e tornaram-se clássicos. Zé Pedro lembra que os alinhamentos foram feitos a pensar num único disco, e que a divisão em dois destruiu o conceito. Apesar de tudo, "eles completam-se", mesmo que internamente fiquem "coxos". Foram separados no tempo mas unidos no tema.

Tonto (1993) é uma grande balada. "Estavam em grande força os Guns'n'Roses, aquelas baladas deles era um fascínio para mim. E foi bom entrar com uma balada." Mas Zé Pedro relembra que esteve contra este single, principalmente devido ao vídeo, que "foi no Canadá, por nossa conta e risco. Acabámos por marcar tudo na véspera e fomos a correr, não tinha muita justificação..." As relações com a Polygram estavam a deteriorar-se, tendo a relação com a editora terminado com estes dois discos.

Dá um mergulho (1997) foi o início da relação com a EMI, no álbum Dados Viciados. "O [produtor] Ronnie Champagne era um tipo que nós já conhecíamos dos Blind Zero. Era técnico dos Janes's Addiction." Desta feita os Xutos queriam um disco mais de rock, e queriam "alguém que não tivesse directamente a ver com o grupo". Por aqui, a fase má passara, sentiam-se menos fragilizados. Mas foi um recomeço difícil, em que tiveram que começar a tocar em espaços pequenos. Foi a altura de, seguindo os títulos dos discos, o "dizer não de vez" - "a partir de agora tem que ser assim, à nossa maneira"- e o "direito ao deserto": após a travessia toda, a "recuperação desse espírito todo, rock'n'roll, 'bora lá fazer um disco!"

A banda sonora de Tentação foi uma encomenda do realizador Joaquim Leitão. Os Xutos fizeram toda a banda sonora, que incluía Para sempre (1998), "uma música de amor muito forte, ao princípio até ficámos um bocadinho atrás com a letra". Quanto à experiência sob as ordens de Leitão: "Recebemos o guião para estarmos inteirados da história, montámos o estaminé na sala de ensaios, o Leitão apareceu com os bocados de filme e ia dizendo o que queria." O grupo já tinha uns esboços de temas preparados, construídos face a cassetes VHS com rushes. O realizador aceitou ideias, modificou outras, e noutras ainda criou uma coisa nova - "ele tinha a noção exacta do que queria", diz Zé Pedro. "Gravámos tudo através do computador. Foi um processo diferente do que estávamos habituados, e quando vi o filme pareceu-me que tinha resultado muito bem."

Entretanto começara a recuperação de um formato que à partida não se adequaria aos "punks rockers" portugueses: o acústico. Tudo começou em Ao Vivo na Antena 3, de 1995, após um repto lançado pelo realizador Henrique Amaro. Zé Pedro não estava convencido. "A moda vinha lá de fora, com os Nirvana, mas eu estava contra aquilo, achava que os Xutos não deviam estar a fazer acústicos. Mas para este concerto abri uma excepção e correu muito bem, e quando se foi ver em estúdio aquilo quase não precisava de mais nada. Precisava de um reforço de coros, de uns baixos em dois ou três temas porque o Tim tinha tocado guitarra de 12 cordas e não havia o baixo. Na altura caiu mesmo na batata!," principalmente através da nova versão de Homem do leme.

Em 2001 telefonaram à banda da parte da produtora teatral UAU, a perguntar se não queriam tocar no Teatro Villaret, em Lisboa, em formato acústico. "Era Novembro, não havia grande coisa para fazer, tocava-se lá tipo actor de teatro, voltava para casa todas as noites para dormir..." Mas correu muito bem, e acabaram por lá ficar duas semanas. Zé Pedro crê que estava também em cartaz a peça Sexo Drogas e Rock'n roll, com o Diogo Infante - "ele actuava ao fim-de semana, e nós fazíamos a semana". Nessas sessões aproveitaram o estúdio móvel, pago por eles, para gravar. Pêndulo (2001) "ficou muito boa. Como é do [álbum] Gritos Mudos, nunca recebeu muita importância. Mas é uma música especial, sempre gostei muito dela".

O álbum Nesta Cidade apareceu um ano depois, em 2002, após uma digressão - "chegávamos às três horas de espectáculo, fazíamos intervalo e tudo. Foi giro, no Inverno, em salas, com o Pedro Gonçalves [contrabaixo, Dead Combo] - pelo país em que recuperaram uma série de músicas, duas quais aparecem neste single extra. Primeiro, N'América (2002), com letra de Zé Pedro: "O Tim escreve bem, é o cantor, tem que se identificar primeiro que todos com a letra que canta. É mais difícil ser eu a escrever, apesar de ele conseguir ajeitar-se à minha maneira de escrever." Este tema foi escrito para um amigo de Zé Pedro que foi morar para os EUA - "com aquelas dúvidas todas, ainda lá vive mas vem cá todos os anos, continua com as dúvidas, continuamos amigos, é ele que me compra as guitarra!". Depois, o velhíssimo Leo, em que Kalu vem para a frente de palco cantar e tocar percussão, num "momento grande" do espectáculo. 

Fim do mês (2001) saiu no [álbum] XIII. Com produção de Mário Barreiros, que "infelizmente, estava a montar o estúdio dele e estava muito absorvido por aquilo, pelas obras, pelos atrasos". Alugaram um estúdio em Inglaterra, acabaram o disco cá. "Foi um disco difícil, eu também andava um bocado no álcool e nas drogas, e quando chegámos a Lisboa já não tínhamos muita energia. Acho que não nos dedicámos o suficiente para terminar bem o disco."

Ai se ele cai (2004) é mais um clássico para galeria de singles dos Xutos, e foi o tema mais passado nas rádios portuguesas no ano passado [2004]. "Uma música bem conseguida. Neste disco trabalhámos com o [produtor] Nuno Rafael, um músico de uma geração a seguir à nossa, esteve bem no tratamento de guitarras, montes de efeitos." Este tema foi gravado "num estúdio muito pequenino em que só cabia um ou dois de cada vez, e os outros tinham que ficar de fora tipo sala de espera..." Um disco que correu bem porque "numa banda com 25 anos de carreira, ou entras em estúdio com tudo muito bem preparado, com bom ambiente, ou então ..." Mas é na parte de composição que "vêm ao de cima ressentimentos e tem que se estar muito sensível àquilo que se sente e com que contribui para as músicas."