Uma cómica na Greenwich Village dos anos 1950
Amy Sherman-Palladino, a criadora de Gilmore Girls, tem uma nova série na Amazon. Chama-se The Marvelous Mrs. Maisel e é sobre uma ex-dona-de-casa a tentar singrar no mundo da stand-up numa Nova Iorque anos antes da era de Mad Men. Está disponível desde quarta-feira.
As protagonistas que Amy Sherman-Palladino cria não falam como pessoas normais. Ultra-inteligentes, disparam frases a um ritmo rápido, cheias de mordacidade e comicidade, com frequentes referências à cultura pop e a um pingue-pongue que remete para os tempos das comédias screwball do cinema. Era assim em Gilmore Girls (Tal Mãe, Tal Filha, em português), a série estreada no ano 2000 sobre a relação entre Lorelai e Rory Gilmore, uma dupla de mãe e filha que falava exactamente assim, que deu fama à criadora. E continua a ser assim em The Marvelous Mrs. Maisel, a nova série de Sherman-Palladino cuja primeira temporada, de oito episódios, chegou esta quarta-feira ao Amazon Prime Video.
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As protagonistas que Amy Sherman-Palladino cria não falam como pessoas normais. Ultra-inteligentes, disparam frases a um ritmo rápido, cheias de mordacidade e comicidade, com frequentes referências à cultura pop e a um pingue-pongue que remete para os tempos das comédias screwball do cinema. Era assim em Gilmore Girls (Tal Mãe, Tal Filha, em português), a série estreada no ano 2000 sobre a relação entre Lorelai e Rory Gilmore, uma dupla de mãe e filha que falava exactamente assim, que deu fama à criadora. E continua a ser assim em The Marvelous Mrs. Maisel, a nova série de Sherman-Palladino cuja primeira temporada, de oito episódios, chegou esta quarta-feira ao Amazon Prime Video.
Na série, Rachel Brosnahan, de House of Cards, faz de Miriam “Midge” Maisel, que, quando a acção começa, é uma dona-de-casa a viver na Nova Iorque de 1958 com dois filhos e um marido que tem a ambição de ser cómico de stand-up profissional. É um passatempo que ela encoraja e na qual o acompanha, tirando notas quando ele actua em clubes de Greenwich Village, a zona de Manhattan dada a pequenos cafés e clubes onde, além de música folk tocada por pessoas como Bob Dylan, a comédia estava rapidamente a evoluir enquanto arte, com nomes como Lenny Bruce à cabeça.
Um dia, percebe que o marido roubou uma rábula que correu particularmente bem a Bob Newhart, um dos mais populares cómicos da altura. Ele desculpa-se, a dizer que toda a gente na comédia começa assim. Pouco depois, o marido diz que há meses que a anda a trair com a sua secretária e deixa-a. Nessa mesma noite, já depois de beber uns copos, Midge sobe ao palco do The Gaslight Café, um sítio que existia na vida real e onde o marido dela actuava, e começa a falar sobre a vida e aquilo por que está a passar. Surpreendentemente, as pessoas riem.
Aquela pessoa que tirava notas e encorajava o marido sem talento a seguir a arte de fazer rir como um passatempo ganha, assim, a ambição de se tornar cómica. Para isso, Midge conta com a a ajuda de uma manager interpretada por Alex Borstein (que já tinha aparecido em Gilmore Girls e Bunheads, outra série de Sherman-Palladino). A aspirante a cómica começa obsessivamente, a estudar os mestres da altura: vê, por exemplo, Jack Paar a apresentar o Tonight Show, mesmo contra a vontade dos pais, ouve um álbum de Redd Foxx, e vai ao Copacabana ver Red Skelton.
Acima de tudo, Midge começa, mesmo que duvidem dela por ser mulher, a aprender e aperfeiçoar a sua arte, o que a faz ser presa mais do que uma vez por usar linguagem imprópria e exposição indecente em palco. É nessas andanças que se cruzar com Lenny Bruce, que foi várias vezes preso por “obscenidade” e é aqui ressuscitado por Luke Kirby, de Rectify.
Esta é a premissa de The Marvelous Mrs. Maisel, que faz uma reconstituição de época sumptuosa e mostra uma Nova Iorque anos antes daquela que era retratada em Mad Men, com uma banda sonora a condizer. A série não cai, felizmente, no erro que muitas séries e filmes que mostram comédia de stand-up ou de sketches cometem com frequência: a comédia de Midge tem realmente piada. Ou, pelo menos, potencial. E, ao contrário do que é comum, a série centra-se numa mulher a trabalhar num universo onde a vantagem costuma estar do lado dos homens. Não é como se não existissem desde sempre mulheres no universo da stand-up – Joan Rivers, por exemplo, que passou por Greenwich Village, é uma das referências para a personagem –, mas nem sempre são as que chegam mais longe nem aquelas em que este tipo de ficção tende a preferir retratar.