Públicas virtudes de Louis C.K.

Há aqui a vontade de baralhar as pistas mais automáticas do moralismo comum. É igualmente forçoso reconhecer que isso se vai diluindo na inconsequência.

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Para quem conheça mal (e provavelmente também para quem conheça bem) o trabalho televisivo e a persona de Louis C.K., este filme de que ele é autor e protagonista será muito difícil de dissociar das recentes revelações sobre alguns dos seus hábitos — para mais, quando abundam as piadas sobre masturbação. Curioso é que o filme, numa espécie de premonição incauta, reflicta directamente algumas das questões lançadas por casos como o de Louis C.K.: as relações entre a obra pública e a vida privada, entre a moralidade ou falta dela da segunda e o olhar comum sobre a primeira. Numa personagem que até certo ponto o filme trata com bastante inteligência (ao que ajuda ter um actor como John Malkovich), condensam-se essas preocupações: é um grande cineasta, ídolo da personagem interpretada por Louis (um autor de programas de televisão), talvez uma projecção muito distorcida de Woody Allen (num filme que não passa sem várias tentativas de “homenagear” Manhattan), mas sobre ele recai a suspeita de ser um “pervertido” com histórias sórdidas com menores no currículo. O que é desvalorizado como “rumor” ganha toda a importância do mundo quando é a filha do protagonista a envolver-se com o “grande cineasta”, sendo que ela ainda nem 18 anos tem e ele tem quase 70.

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Para quem conheça mal (e provavelmente também para quem conheça bem) o trabalho televisivo e a persona de Louis C.K., este filme de que ele é autor e protagonista será muito difícil de dissociar das recentes revelações sobre alguns dos seus hábitos — para mais, quando abundam as piadas sobre masturbação. Curioso é que o filme, numa espécie de premonição incauta, reflicta directamente algumas das questões lançadas por casos como o de Louis C.K.: as relações entre a obra pública e a vida privada, entre a moralidade ou falta dela da segunda e o olhar comum sobre a primeira. Numa personagem que até certo ponto o filme trata com bastante inteligência (ao que ajuda ter um actor como John Malkovich), condensam-se essas preocupações: é um grande cineasta, ídolo da personagem interpretada por Louis (um autor de programas de televisão), talvez uma projecção muito distorcida de Woody Allen (num filme que não passa sem várias tentativas de “homenagear” Manhattan), mas sobre ele recai a suspeita de ser um “pervertido” com histórias sórdidas com menores no currículo. O que é desvalorizado como “rumor” ganha toda a importância do mundo quando é a filha do protagonista a envolver-se com o “grande cineasta”, sendo que ela ainda nem 18 anos tem e ele tem quase 70.

Embrulhando isto numa série de outras questões — o feminismo, por exemplo, objecto de vários diálogos — é forçoso reconhecer a I Love You Daddy a vontade de discutir, ou pelo menos baralhar as pistas mais automáticas, do moralismo comum. É igualmente forçoso reconhecer que isso se vai diluindo numa progressiva inconsequência, à medida que o realizador prefere — para nós, surpreendentemente — investir no sentimentalismo da relação pai/filha como forma de passar ao largo, tão incólume quanto possível, das questões que lançou ou em que tocou. A que acresce o facto de não haver muito cinema na cabeça de Louis C.K., o que faz com que os melhores momentos sejam mesmo aqueles em que o filme se parece com televisão, com uma sitcom (as cenas no escritório) ou com uma teleplay (as cenas de abertura, em casa, as personagens a coexistirem no mesmo cenário, a entrarem e a saírem ao ritmo de uma peça de teatro).

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VIDEO_CENTRAL

Vê-se bem por isso e pelos diálogos por norma divertidos, mesmo se o quase-entusiasmo suscitado pelas primeiras cenas vai esmorecendo sem deixar grande rasto.