"Não sabia que ele era enxovalhado daquela maneira"
Avó de um dos rapazes agredidos na Casa dos Rapazes de Viana do Castelo acha que o neto ainda não está a salvo.
Rosália Alegria viu o vídeo do neto, de 13 anos, “a ser enxovalhado e a levar porrada”. Ouviu o coordenador ordenar-lhe que tirasse as mãos da cara e um rapaz a aconselhar: “Tira as mãos senão levas um soco, burro.” Ouviu-o chorar. E ouviu a directora técnica da Casa dos Rapazes de Viana do Castelo dizer: “Pára de fazer esse barulho. Pareces um porco.” E ouviu o estalo. Não era um momento de descontrolo, era a reunião semanal, que juntava técnicos, monitores e rapazes.
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Rosália Alegria viu o vídeo do neto, de 13 anos, “a ser enxovalhado e a levar porrada”. Ouviu o coordenador ordenar-lhe que tirasse as mãos da cara e um rapaz a aconselhar: “Tira as mãos senão levas um soco, burro.” Ouviu-o chorar. E ouviu a directora técnica da Casa dos Rapazes de Viana do Castelo dizer: “Pára de fazer esse barulho. Pareces um porco.” E ouviu o estalo. Não era um momento de descontrolo, era a reunião semanal, que juntava técnicos, monitores e rapazes.
“Ele é doente”, começa por contar a antiga jardineira. “Tem um problemazinho mental, não é muito, mas tem. É uma criança muito meiga, mas irrita-se muito. Em casa não o podia ter. Ele jogava-se à gente, a mim e ao meu marido.” Aquilo, porém, não lhe parece certo. “A instituição tem de estar preparada para lidar com ele.”
O rapaz e o irmão gémeo foram abandonados pela mãe. Eram pequenos. Contavam um ano e meio. O pai e a madrasta não os tratam bem. “Ela fechava-os no quarto, prendia-os com uma corda, dava-lhes porrada.” A Protecção de Menores retirou-os e colocou-os num centro de acolhimento temporário.
Chegou a morar com os avós
A avó quis cuidar deles. E eles vieram morar com ela e com o marido. Tinham três anos. Os problemas adensaram-se na pré-adolescência. “Ele tirava dinheiro à gente. Ele começou a mandar o irmão roubar para ele.” O avô bateu-lhes. E a Protecção de Menores voltou a retirá-los à família. Tinham 12 anos. Um foi enviado para a Figueira da Foz e o outro para Viana do Castelo.
“Eu já sabia que ele levava porrada, ele já me tinha dito, mas não sabia que ele era enxovalhado daquela maneira”, comenta. "Aquilo não se faz." Não sabe em que pé está a investigação. "Ninguém me diz nada."
Está convencida de que o neto ainda não está a salvo. Ainda na véspera fora vê-lo ao lar para o qual foi transferido, no Barreiro. “Não vai à escola. Sai quando quer, entra quando quer. Anda de pernas abertas. Está assado. Não sei se não se lava. Não tem ninguém que o mande lavar-se. Engordou. As virilhas dele estão numa miséria.” Suspira. Não serve qualquer lar de infância e juventude. “Tem de ser uma instituição preparada para lidar com ele.”