Na Birmânia não há “discriminação religiosa”, diz chefe militar ao Papa
Visita de uma semana à Birmânia e ao Bangladesh terá no centro o drama dos refugiados muçulmanos rohingya.
O Papa Francisco, que ontem chegou à Birmânia, teve um primeiro e breve encontro oficial com o chefe do Exército, general Min Aung Hlaing, na Catedral de Santa Maria, em Rangum. Num país onde a fatia de leão do poder permanece nas mãos dos militares, esta era uma das reuniões aguardadas com mais expectativa. Hlaing assegurou ao Papa que “não existe discriminação religiosa na Birmânia e há liberdade religiosa”, de acordo com uma declaração publicada na sua página de Facebook.
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O Papa Francisco, que ontem chegou à Birmânia, teve um primeiro e breve encontro oficial com o chefe do Exército, general Min Aung Hlaing, na Catedral de Santa Maria, em Rangum. Num país onde a fatia de leão do poder permanece nas mãos dos militares, esta era uma das reuniões aguardadas com mais expectativa. Hlaing assegurou ao Papa que “não existe discriminação religiosa na Birmânia e há liberdade religiosa”, de acordo com uma declaração publicada na sua página de Facebook.
Já se sabia que esta etapa da visita de uma semana à Birmânia e ao Bangladesh seria um dos maiores desafios diplomáticos do Papa. A Birmânia é um país de maioria budista onde as tensões étnicas e religiosas estão à flor da pele.
A grande dúvida é saber se o Papa irá utilizar uma palavra particularmente controversa — rohingya. Não é um acaso que Francisco tenha decidido visitar os dois países que estão no centro do drama desta comunidade que pertence à minoria muçulmana originária do noroeste da Birmânia.
Apesar de terem sempre levado uma vida marcada pela exclusão, nos últimos tempos os rohingya têm sido alvo de uma ofensiva militar por parte do Exército birmanês que os tem obrigado a abandonar o estado de Rakhine e procurar refúgio no Bangladesh. Desde Agosto que mais de 600 mil rohingya fugiram para o país vizinho, onde os campos de refugiados estão sobrelotados e as condições de vida são altamente precárias. O Governo diz que a operação militar visa neutralizar um grupo terrorista que atacou vários postos policiais e fronteiriços na região.
Porém, a ONU descreve a acção militar como um “exemplo perfeito de limpeza étnica” e multiplicam-se as críticas em relação à inacção da líder de facto do Governo, Aung San Suu Kyi, que tinha encontro marcado com Francisco para esta madrugada. Na semana passada, a Birmânia e o Bangladesh chegaram a um acordo para viabilizar o regresso dos refugiados durante os próximos dois meses.
Na Birmânia, os rohingya não são reconhecidos como etnia — as autoridades descrevem-nos como “imigrantes ilegais bengalis” — e vêem-se privados de acesso à cidadania e a grande parte dos direitos.
O termo rohingya é evitado publicamente e esse é um obstáculo diplomático que terá de ser enfrentado pelo Papa. Um dos principais receios é a de que a referência explícita por parte de Francisco, que é o primeiro Papa a visitar o país, possa originar reacções violentas entre os grupos budistas mais radicais. Nas vésperas da visita, o próprio cardeal de Rangum, Carles Bo, apelou ao Papa para não pronunciar a palavra rohingya.
Noutras ocasiões, Francisco já se referiu aos “irmãos e irmãs rohingya”, deixando apelos às autoridades birmanesas para que travem a violência em Rakhine. No Bangladesh, onde chega quinta-feira a agenda do Papa prevê um encontro com um grupo de refugiados.
O porta-voz da Santa Sé, Greg Burke, não revelou se Francisco pretende usar o termo, embora tenha sublinhado que “não se trata de uma palavra proibida”. “Iremos decidir durante a viagem”.
Na Birmânia, apenas 700 mil pessoas de uma população total de 51 milhões são católicas, mas isso não o impediu de ter uma recepção calorosa no aeroporto de Rangum. “Viemos aqui ver o Santo Padre, acontece apenas de cem em cem anos”, dizia à Reuters Win Min Set, um líder religioso local.