Converge: Dor e superação
Com quase 30 anos de percurso, os Converge são hoje um espectáculo de reinvenção permanente da música extrema.
Foi só ao quarto álbum, no longínquo ano de 2001, que os Converge se tornaram um nome inescapável na cena hardcore/metal. Esse disco, o fabuloso Jane Doe, juntou a anos de conhecimento acumulado no underground norte-americano uma vontade imparável de levar o rock extremo a novos lugares. Nos quatro álbuns que se seguiram, o grupo de Boston não errou uma única vez, tornando-se na mais relevante banda a cruzar os universos hardcore e metal, talvez porque nunca se reduziu a eles.
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Foi só ao quarto álbum, no longínquo ano de 2001, que os Converge se tornaram um nome inescapável na cena hardcore/metal. Esse disco, o fabuloso Jane Doe, juntou a anos de conhecimento acumulado no underground norte-americano uma vontade imparável de levar o rock extremo a novos lugares. Nos quatro álbuns que se seguiram, o grupo de Boston não errou uma única vez, tornando-se na mais relevante banda a cruzar os universos hardcore e metal, talvez porque nunca se reduziu a eles.
The Dusk In Us, o primeiro disco do grupo em cinco anos, não é excepção neste caminho imaculado. Está cá tudo o que interessa nos Converge: uma secção rítmica tão inventiva que suplanta as convenções dos géneros em que nasceram; estão as guitarras acrobáticas, murros virtuosos no corpo do ouvinte; e está, a dar um sentido narrativo, uma história, a tudo isto, Jacob Bannon, um vocalista de torso esguio a contorcer-se numa ginástica catártica, sincronizada com a pancadaria sónica ^ uma imagem ainda mais impressionante nos concertos do grupo.
A single tear, que abre o disco, é um condensado de tudo isto. Há uma guitarra a alternar entre equações complexas e destruição metal e uma passagem que ficaria bem em qualquer história do emocore (“As a single teardrop fell/ And was swallowed by the sea”). Canções como Eye of the quarrel (bateria a distribuir socos ao ritmo das palavras cuspidas) e I can tell you about pain (título que é todo um programa para a carreira de Jacob Bannon) mostram os Converge a voltarem à primitividade apurada de Jane Doe.
Ao nono disco, os Converge fazem o que querem. Murk & marrow dispensa qualquer estrutura típica: é a secção rítmica, com um baixo sujíssimo, que está no centro, deixando a guitarra de Kurt Ballou entregar-se ao ruído. Reptilian é um desfile da mestria de Ballou, uma colecção de riffs metal que anima qualquer crente no género. Under duress ensina a arte de retorcer electricidade e distorção ^ o refrão é uma maravilha em câmara lenta, com as guitarras a esvaírem-se em feedback. The dusk in us, a canção, tem paisagismo pós-rock e voz grave e sussurrada — lembra os Neurosis ou um Michael Gira (Swans) a conter a violência que há-de chegar.
Nenhuma etiqueta — metal, hardcore, metalcore, pós-hardcore e restantes prefixos e sufixos — os classifica inteiramente. Com quase 30 anos de percurso, os Converge são hoje jubilosa experiência e espectáculo de reinvenção permanente da música extrema.