Beber álcool sozinho destrói o amor monogâmico. Pelo menos nestes pequenos roedores

Os arganazes-do-campo são conhecidos pelas suas relações que duram para a vida toda. Mas não se houver álcool à mistura, diz um estudo agora publicado: se só um dos roedores beber, é provável que a relação acabe.

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Um arganaz-do-campo fêmea e um macho Zack Johnson

Os arganazes-do-campo – uns pequenos roedores que vivem na América do Norte – são animais curiosos: além de serem uma das poucas espécies de mamíferos monogâmicos e de tomarem ambos conta dos seus filhos, são também ávidos consumidores de álcool — e preferem-no à água. Só que o álcool e as suas relações duradouras podem não se conjugar assim tão bem, segundo um estudo publicado na semana passada na revista científica Frontiers in Psychiatry. Os casais em que apenas um dos roedores bebe têm maiores probabilidades de se separarem, já que o arganaz-do-campo alcoólico acaba por preferir outras companheiras.

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Os arganazes-do-campo – uns pequenos roedores que vivem na América do Norte – são animais curiosos: além de serem uma das poucas espécies de mamíferos monogâmicos e de tomarem ambos conta dos seus filhos, são também ávidos consumidores de álcool — e preferem-no à água. Só que o álcool e as suas relações duradouras podem não se conjugar assim tão bem, segundo um estudo publicado na semana passada na revista científica Frontiers in Psychiatry. Os casais em que apenas um dos roedores bebe têm maiores probabilidades de se separarem, já que o arganaz-do-campo alcoólico acaba por preferir outras companheiras.

“Identificámos que o consumo de álcool voluntário discordante, mas não quando é concordante, inibe a preservação dos vínculos entre o casal, por parte dos arganazes-do-campo machos”, lê-se nas conclusões do estudo. A equipa verificou que quando havia uma discrepância no consumo de álcool – se o macho bebia e a fêmea não – havia uma probabilidade maior de os arganazes-do-campo preferirem acasalar com uma nova parceira (desconhecida) do que aquela com quem tinham uma relação. Se ambos bebessem, os vínculos permaneciam intactos.

Ainda que o efeito contrário se manifestasse nas fêmeas – que preferiam o parceiro original mesmo que elas bebessem –, os autores do estudo dizem que, em experiências futuras, analisarão a forma como o álcool afecta as preferências das fêmeas no que diz respeito à sua escolha de parceiros.

Para chegar a estas conclusões, foram definidos três grupos: num deles, os machos da espécie Microtus ochrogaster tinham acesso constante a uma solução aquosa com 10% de etanol (e só a água, se desejassem), enquanto as fêmeas só tinham acesso a água. Num outro grupo, os machos continuavam com acesso a álcool e também as fêmeas podiam optar pela mistura de álcool com água ou só água. Havia ainda um terceiro grupo de controlo em que tanto os machos como as fêmeas bebiam unicamente água.

Comparação com os seres humanos

O consumo excessivo de álcool, sobretudo em casais em que um elemento bebe e o outro não, é uma das causas mais frequentes de divórcio em humanos, contextualiza o estudo desenvolvido nos EUA por dois investigadores da Universidade de Saúde e Ciência do Oregon. Nos Estados Unidos, por exemplo, o abuso de substâncias alcoólicas ou drogas é a terceira principal causa de divórcio. Mas, no caso dos humanos, é difícil saber se beber demais é uma causa ou um efeito dos problemas conjugais, nota a revista National Geographic.

Independentemente disso, os investigadores referem que é possível estabelecer um paralelo entre o comportamento dos roedores e o dos humanos: “Os casais em que os dois elementos bebem grandes quantidades de álcool são muitas vezes tão estáveis quanto os casais sóbrios e significativamente mais estáveis do que os casais em que só um elemento bebe.”

Ainda que estes resultados possam ajudar a perceber a forma como o álcool e a monogamia se conjugam nos seres humanos, há que ter cautela. “Temos de ter em atenção ao factor humano”, diz o autor do estudo Andrey Ryabinin à revista New Scientist, referindo ainda que há muitos outros factores a ter em conta e que fazer este tipo de estudos em seres humanos seria pouco ético. “Mas agora identificámos que a biologia tem aqui um papel, e podemos estudar isso.”

No que diz respeito à monogamia destes animais, tinha sido identificado em Junho, pela primeira vez no arganaz-do-campo fêmea, o circuito neuronal em actividade e que é responsável pelo sistema de recompensa no cérebro, encarregue pelas emoções positivas, por exemplo, que permite o aparecimento do vínculo entre o casal. O amor monogâmico acontece não só nos arganazes-do-campo mas também em algumas aves (como os cisnes e os mandarins) e em menos de 5% das espécies de mamíferos, onde se incluem os seres humanos, os lobos ou as lontras.

Antes disso, um estudo publicado na revista Nature mostrava que não havia distinção no relacionamento entre os machos e as fêmeas da espécie, antes de haver acasalamento. Depois, bastava um dia de acasalamento para que os machos ficassem ligados às fêmeas para o resto das suas vidas. O estudo indicava ainda que era a produção de vasopressina, conhecida como a “hormona da fidelidade”, que determinava o vínculo dos machos. Em contraste, a espécie arganaz-montanhês, também pertencente ao género Microtus, tem poucos receptores da vasopressina nos seus neurónios.