Pedro para sempre
Fizeste-me tão feliz, Pedro, tantas vezes. A tua felicidade — amar a família, as pessoas, as coisas, os jornais, as músicas, as discordâncias, os amigos — sobrava para a nossa.
Pedro, isto já não vais ler. Já não me importo tanto. Vão ler as pessoas que te amam. Estou aqui para lhes dizer quanto tu as amavas. Não te calavas com a tua mãe, Maria João. Éramos os dois apaixonados pelas nossas mães: havia meninos mais mimados pelas mães? Eu nunca conheci.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Pedro, isto já não vais ler. Já não me importo tanto. Vão ler as pessoas que te amam. Estou aqui para lhes dizer quanto tu as amavas. Não te calavas com a tua mãe, Maria João. Éramos os dois apaixonados pelas nossas mães: havia meninos mais mimados pelas mães? Eu nunca conheci.
Chegavas tu. Passávamos horas a contar histórias das nossas mães e não era naquele género competitivo da tua mãe ser melhor do que a minha. Reconhecíamos que, a partir do mais alto nível, as mães não podem ser melhores do que já são.
Passávamos horas a falar nos nossos filhos. O António Maria é um orgulho nacional desde pequeno - todo ele é (só para começar) honra, inteligência, dedicação, generosidade, abertura, entusiasmo e sabedoria — mas o teu amor por ele ultrapassava toda a justiça. Tu punhas-nos todos a amá-lo também.
Vão ter saudades de ti, Pedro. Tu eras uma criança nos teus afectos, puro como se só os sentimentos contassem. Àqueles que amavas perdoavas tudo. Esse perdão já faz falta. Já faz falta o teu amor. Tudo o que tu davas, de tão bonito e verdadeiro, ficou dado para sempre. Mas era tão bom receber o teu amor directamente, de ti.
As mortes são uma merda mas a tua parece a pior de sempre. Nunca fizeste as coisas pela metade, raios te partam. Tinhas de ser surpreendente até ao fim, mesmo sendo o fim que tão tristemente nos surpreendeu.
Fizeste-me tão feliz, Pedro, tantas vezes. A tua felicidade — amar a família, as pessoas, as coisas, os jornais, as músicas, as discordâncias, os amigos — sobrava para a nossa.
Como é que conseguiste? Como é que vamos viver sem ti? O que é que eu faço aos nossos planos? E agora? Com quem é que eu não vou almoçar todas as quartas-feiras? Já nem disso consigo rir-me, por não estares aqui para te rires comigo.
Tu eras o riso, a aventura de fazer e de andar para a frente, a coragem de bater o pé e insistir, o brio de levantar o queixo e seguir por onde nos desse na real telha.
Teu era o espírito aberto, a alma aberta ao acaso, a abertura do mundo para quem o mundo ama, o ponto de partida multiplicado por cada veneta que se tem, a maneira de amar e ser amado como se o amor fosse a coisa mais fácil e abundante desta vida.
Contigo era. Contigo é e continua a ser. Obrigado por nos teres deixado a melhor coisa que há: o teu amor. Era mútuo, como tu muito bem sabias. Ainda bem que sabias isso e que nada que eu digo aqui seja novidade para ti.
Ao menos isso, Pedro, fica para sempre.
Fica para sempre, Pedro. Espera por nós. Guarda-nos um lugar perto de ti, ouviste?