Um quarto dos doentes internados por pneumonia nos distritos de Beja e Setúbal morreu
A média nacional ronda os 20%. Relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias mostra que a pneumonia continua a ser uma das principais causas de internamento por doenças respiratórias e, depois do cancro do pulmão, a que causa mais mortes.
A pneumonia continua a ser uma das principais causas de internamento por doenças respiratórias e, a seguir ao cancro do pulmão, a que causa mais mortes. Em 2015, foi responsável por 8700 óbitos, segundo o relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias, que é apresentado nesta quinta-feira, em Lisboa. E há distritos que se destacam pela negativa: em Beja e Setúbal um quarto dos doentes internados por pneumonia morre. A média nacional ronda os 20%.
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A pneumonia continua a ser uma das principais causas de internamento por doenças respiratórias e, a seguir ao cancro do pulmão, a que causa mais mortes. Em 2015, foi responsável por 8700 óbitos, segundo o relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias, que é apresentado nesta quinta-feira, em Lisboa. E há distritos que se destacam pela negativa: em Beja e Setúbal um quarto dos doentes internados por pneumonia morre. A média nacional ronda os 20%.
Segundo o relatório, que avalia dados entre 2005 e 2015, também os distritos de Portalegre (22%), Santarém e Faro (ambos com 21%) têm uma taxa de mortalidade ligeiramente acima da média. “As pneumonias são um caso muito grave. Estamos a trabalhar em conjunto com a Universidade do Minho, que está a fazer investigação epidemiológica, e foi possível ver algumas coisas interessantes. Quem morre mais é quem chega mais tarde aos hospitais. Pensamos que a curta duração dos internamentos se deve ao facto de as pessoas morrerem precocemente. Quando chegam já vão tarde e o tratamento não vai a tempo de curar. Acreditamos que está directamente relacionado com o acesso”, diz ao PÚBLICO um dos coordenadores do relatório, António Carvalheira.
Acessibilidade, destaca o pneumologista, que tem várias componentes e que devem ser avaliadas: a distância das pessoas ao hospital, a disponibilidade de médico de família, mas também a identificação, pelo próprio doente, dos sintomas de pneumonia.
O número elevado de mortes reflecte também o envelhecimento da população – pessoas com mais idade estão mais fragilizadas e têm mais doenças associadas, como problemas cardíacos ou respiratórios –, já que “são os idosos que têm mais pneumonias e uma taxa de mortalidade maior: pessoas com 80 ou mais anos têm uma taxa de mortalidade superior a 27%”, salienta o médico.
“Nos idosos, as manifestações de pneumonia aparecem mais como queixas gerais [como dores ou um estado confuso] e as queixas respiratórias não são tão evidentes. Quando são, é tarde”, explica.
Segundo o relatório, as maiores incidências de internamentos por pneumonia registam-se em distritos do interior, nomeadamente Bragança, seguida por Castelo Branco, Vila Real e Portalegre. Já Setúbal e Faro são os distritos com maior número de readmissões [doentes que voltam a ser internados pela mesma razão].
António Carvalheira destaca ainda um outro dado: “Apesar de haver um maior número de internamentos e de mortes no Inverno, a taxa de mortalidade é maior no Verão. As pessoas estão menos alertadas para a doença e para os sintomas, procuram cuidados mais tarde e os resultados são piores."
O relatório faz também referência a esta questão, dizendo que “pode haver outros factores, não avaliados, responsáveis por este aumento de mortalidade, como sejam o aumento de resistência aos antibióticos, tratamento inadequado ou alteração do espectro bacteriano”.
Mortalidade aumenta 53% em 16 anos
Apesar do documento salientar que em 20 anos os internamentos por pneumonia aumentaram 171% (estão acima dos 43 mil) e que a mortalidade registou um crescimento de 53% em 16 anos, a comparação com os anos mais próximos mostra uma tendência de decréscimo de óbitos, ainda que ligeira.
O médico admite que poderá estar relacionada com a campanha de vacinação para a pneumonia, que deixou doentes e médicos mais atentos. A comparticipação da vacina – com receita custa ao utente 11 euros, quando o preço de venda ao público é 76 euros – também poderá ser um factor a ter em conta.
A vacinação é, aliás, uma das recomendações do Observatório, a par da melhoria de acessibilidade aos cuidados de saúde, do diagnóstico precoce e do aumento da informação junto da população.
Falta reabilitação respiratória
A falta de programas generalizados de reabilitação respiratória é outro dos problemas: “Só existem 25 centros de reabilitação respiratória em Portugal continental e estes tratam menos de 3000 pessoas com doenças respiratórias por ano – menos de 2% dos doentes com indicação para reabilitação respiratória."
“A média europeia é de 30% [de doentes a fazer reabilitação cardíaca] e em alguns países é superior a 70%. É uma diferença abissal. Os nossos doentes estão menos preparados do ponto de vista físico, o que acaba por gerar mais gastos porque vão mais vezes ao hospital”, aponta o médico, salientando que existem mais de 600 mil doentes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) sintomáticos com indicação para fazer reabilitação respiratória.
“Nunca houve investimento nesta área. A reabilitação respiratória como a rede de espirometrias fazem parte do plano do programa para as doenças respiratórias da Direcção-Geral da Saúde, mas passou mais de um ano e está tudo igual”, salienta António Carvalheira, destacando que a falta de ar é o principal sintoma dos doentes que precisam de reabilitação respiratória. Esta limitação “leva à depressão, à ansiedade e a uma inibição muscular”, deixando estes doentes cada vez mais limitados.