Schulz sob pressão para dar a Merkel as chaves para um quarto mandato
Líder do SPD estará disponível para apoiar um governo minoritário liderado pela chanceler, mas a CDU ainda acredita na reedição da "grande coligação".
Foi Angela Merkel quem domingo à noite sofreu uma derrota pesada (talvez a maior da sua carreira), mas é Martin Schulz, o líder dos sociais-democratas, que está agora sob maior pressão para desbloquear a crise política na Alemanha e negociar com a chanceler a formação de um novo governo – seja o apoio a um nunca antes tentado executivo minoritário, seja a repetição da “grande coligação”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Foi Angela Merkel quem domingo à noite sofreu uma derrota pesada (talvez a maior da sua carreira), mas é Martin Schulz, o líder dos sociais-democratas, que está agora sob maior pressão para desbloquear a crise política na Alemanha e negociar com a chanceler a formação de um novo governo – seja o apoio a um nunca antes tentado executivo minoritário, seja a repetição da “grande coligação”.
Schulz tinha fechado a porta a um novo entendimento com os conservadores logo a 24 de Setembro, quando o SPD obteve o pior resultado da sua história (20%), e voltou a fazê-lo na segunda-feira, com o apoio unânime da liderança do partido, após o colapso das negociações entre os conservadores (CDU e o partido irmão da Baviera, a CSU), liberais e Verdes.
O fim de linha para a chamada “coligação Jamaica” e a insistência do SPD numa “cura de oposição” colocavam a Alemanha perante dois cenários, nenhum dos quais capaz de garantir a estabilidade que o país preza: um governo minoritário, opção que desagrada a Merkel; ou a convocação de novas eleições, hipótese que o Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, quer evitar, receando um resultado idêntico ao de Setembro e uma nova subida do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
Com a CDU a manter-se, para já, firme no apoio à chanceler – que não tem um sucessor óbvio dentro do partido – a pressão transferiu-se para Schulz, um líder cada vez mais contestado. Depois de tanto Steinmeier como Merkel lhe terem pedido para reconsiderar, o jornal Bild noticiou que, numa reunião da bancada parlamentar, 30 dos 153 deputados do SPD criticaram a rapidez com que a direcção excluiu negociar com Merkel. “Não devemos ficar presos a uma opção, mas levar algum tempo a ponderar as vantagens e desvantagens”, disse ao jornal do partido Johannes Kahrs, presidente do Seeheimer Kreis, um das três principais facções que compõem o SPD.
Já nesta quinta-feira, confirmando informações avançadas pela agência Bloomberg, o Die Zeit noticiava que Schulz está disponível a negociar o apoio limitado a um governo minoritário de Merkel (potencialmente coligada com os Verdes) a troco de garantias ("um pacto de estabilidade") de que seriam aprovadas algumas das medidas do programa social-democrata. Terá sido este plano, adianta o mesmo jornal, que Schulz levou ao encontro desta quinta-feira com Steinmeier, a que se seguiu uma reunião com a direcção do SPD. “Estou certo de que encontraremos uma boa solução para o nosso país nos próximos dias”, disse à agência noticiosa DPA o líder social-democrata, ainda antes da reunião na presidência.
Mas a CDU continua a acreditar num recuo maior e esta quinta-feira o líder da bancada do partido no Bundestag, pediu a Schulz para reconsiderar, a bem da estabilidade da União Europeia. “O país economicamente mais forte da Europa não se pode tornar um anão político”, avisou Volker Kauder, em entrevista ao jornal Suedwest Press. Na resposta, o “número dois” do SPD, Karl Lauterbach disse à televisão ZDF que “se nenhuma outra opção funcionar” o partido será obrigado a “pensar de novo sobre uma grande coligação”, mas adiantou que continua céptico sobre essa opção. Um cenário, sublinha a Reuters, que poderia implicar a saída de cena de Schulz, que é para já candidato à reeleição no congresso de 7 e 9 de Dezembro.