Explosão na rota do submarino San Juan põe fim à esperança

Submarino argentino desapareceu na semana passada com 44 tripulantes a bordo. Marinha diz que a explosão foi detectada pela equipa dos Estados Unidos e pela Comissão do Tratado de Proibição de Armas Nucleares.

Foto
Os familiares dos tripulantes dizem que foram enganados pelas autoridades Marcos Brindicci/Reuters

Ao fim de oito dias em que o silêncio só foi sendo interrompido por uma mão-cheia de falsos alarmes, os familiares dos 44 tripulantes do submarino argentino San Juan receberam esta quinta-feira a pior notícia possível: a Marinha anunciou que foi registada uma explosão muito perto do local onde o submarino comunicou pela última vez, na quarta-feira da semana passada.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Ao fim de oito dias em que o silêncio só foi sendo interrompido por uma mão-cheia de falsos alarmes, os familiares dos 44 tripulantes do submarino argentino San Juan receberam esta quinta-feira a pior notícia possível: a Marinha anunciou que foi registada uma explosão muito perto do local onde o submarino comunicou pela última vez, na quarta-feira da semana passada.

O porta-voz da Marinha argentina, Enrique Balbi, tinha acabado de dar a notícia aos familiares dos tripulantes quando chegou à sala de imprensa improvisada na base de Mar del Plata – a base de onde o San Juan tinha partido e onde deveria ter chegado no domingo passado, depois de uma missão de controlo de pesca ilegal mais a sul, na Terra do Fogo, onde o Atlântico se cruza com o Pacífico.

“Recebemos uma informação do nosso embaixador na Áustria sobre um evento anómalo, singular, curto, violento e não nuclear consistente com uma explosão”, disse o porta-voz da Marinha. Pouco depois, questionado sobre a ausência de destroços, Enrique Balbi precisou: “Quando há uma explosão num espaço confinado, falamos de uma implosão e não de uma explosão que termina com coisas a flutuar à superfície, ainda que isso não tenha sido descartado.”

Quase em simultâneo, as centenas de familiares dos 44 tripulantes começaram a manifestar a sua fúria contra a Marinha argentina, acusando os responsáveis pelas buscas de terem escondido informação desde o desaparecimento do San Juan – e de terem permitido que circulassem rumores como o registo de sete tentativas de chamadas por satélite a partir do submarino, de sons compatíveis com pancadas no casco e o avistamento de uma balsa salva-vidas.

“São uns desgraçados perversos! Manipularam-nos! Mentiram-nos!”, gritou Itatí Leguizamón, mulher de um dos tripulantes. “Mataram o meu irmão, filhos da puta. Mataram o meu irmão, porque os mandam para um submarino atado com arames”, acusou um homem que saía de carro da base de Mar del Plata, segundo o jornal argentino Clarín.

O homem referia-se à acusação feita por Itatí Leguizamón na quarta-feira – segundo ela, o submarino sofreu um “problema grave” em 2014, pouco depois de ter saído da inspecção. “Está tudo atado com arame. Custa-me a acreditar que isto seja uma surpresa para eles. Digo-o com toda a naturalidade, porque toda a gente sabe. Qualquer pessoa que trabalha aqui sabe; outra coisa é o que eles não querem dizer”, disse Leguizamón.

Em defesa das autoridades argentinas, o porta-voz da Marinha disse que a informação sobre a explosão só foi confirmada esta quinta-feira, apesar de os registos indicarem que aconteceu na passada quarta-feira, três horas depois da última comunicação com o submarino.

“A rede de sensores sismográficos e hidro-acústicos grava, e depois é preciso analisar e estudar toda essa informação. É como quando se faz uma tomografia computadorizada e o médico nos diz para voltarmos dentro de uns dias, porque tem de a estudar. Não sei quando chegou aos Estados Unidos este cruzamento de dados de várias agências, nem quanto tempo demorou a análise para que esta informação nos tenha chegado ontem [quarta-feira]”, disse Enrique Balbi.

Na quarta-feira começou a falar-se de uma “anomalia acústica” registada pelos meios de busca norte-americanos na área do desaparecimento do San Juan, e já esta quinta-feira chegaram à Argentina as informações pedidas pelo seu embaixador em Viena, na Áustria, à comissão preparatória da Comissão do Tratado de Proibição de Armas Nucleares.

Apesar de o tratado ainda não estar em vigor (falta a ratificação de oito países com tecnologia nuclear), a comissão preparatória já monitoriza há vários anos a ocorrência de explosões nucleares em terra e no mar. E foi a ela que o embaixador argentino em Viena, Rafael Grossi, recorreu para se perceber se houve alguma explosão na área em que se pensava estar o submarino San Juan.

Depois de analisar as informações disponíveis, a organização com sede na Áustria confirmou o registo de um evento “compatível com uma explosão não nuclear” que, quando cruzado com a informação recolhida pelos Estados Unidos sobre uma “anomalia acústica”, reforçou a convicção da Marinha argentina.

Quanto à causa dessa explosão ainda nada foi dito – o porta-voz da Marinha disse apenas que não há nenhum indício de que tenha sido provocada por um ataque externo, como alguns têm especulado: “Não tenho nenhuma informação para confirmar essa conjectura. Temos apenas uma localização e o que se produziu, e não a causa do que aconteceu.”

A explosão foi registada ao largo do Golfo de São Jorge, a 430 quilómetros do ponto mais próximo da costa argentina, a uma profundidade ainda desconhecida. Foi nesta zona que o submarino comunicou pela última vez, na passada quarta-feira, quando o comandante disse à base que tinha  registado uma falha no sistema de baterias e um curto-circuito.