Basicamente, Manel Cruz gosta de inventar
Em 2018 chega o muito aguardado novo disco, dez anos depois de Foge Foge Bandido. Manel Cruz ainda não sabe o que será exactamente, mas, enquanto não chega, há novas canções para continuar a descobrir. Esta sexta-feira no Vodafone Mexefest, em Lisboa.
Ele anda por aqui e temo-lo visto regularmente no ultimo par de anos, tronco nu neste ou naquele palco, a mostrar canções e mais canções, a mostrar com Nico Tricot, António Serginho e Eduardo Silva canções que são pop sonhadora, folclore vaudeville, tema de cantautor suspenso nos versos que canta, híbridos de Brasis de Chico com sentir e sotaque deste lado do Atlântico. Ele anda por aqui, anda por aqui há muito tempo, a compor e a tocar, a pintar e a imaginar, a fumar e a cozinhar. Vemo-lo nos palcos, descobrimos novas canções e vemo-las transformarem-se, pouco a pouco, de um concerto para o outro. Depois, num jorro, de repente (não é bem de repente, mas fica a ideia), anuncia-se que tudo aquilo que fomos ouvindo será cristalizado, forma de arrumar tudo antes de continuar a seguir em frente. Este é um desses momentos.
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Ele anda por aqui e temo-lo visto regularmente no ultimo par de anos, tronco nu neste ou naquele palco, a mostrar canções e mais canções, a mostrar com Nico Tricot, António Serginho e Eduardo Silva canções que são pop sonhadora, folclore vaudeville, tema de cantautor suspenso nos versos que canta, híbridos de Brasis de Chico com sentir e sotaque deste lado do Atlântico. Ele anda por aqui, anda por aqui há muito tempo, a compor e a tocar, a pintar e a imaginar, a fumar e a cozinhar. Vemo-lo nos palcos, descobrimos novas canções e vemo-las transformarem-se, pouco a pouco, de um concerto para o outro. Depois, num jorro, de repente (não é bem de repente, mas fica a ideia), anuncia-se que tudo aquilo que fomos ouvindo será cristalizado, forma de arrumar tudo antes de continuar a seguir em frente. Este é um desses momentos.
Manel Cruz, o vocalista que conhecemos nos Ornatos Violeta, que ouvimos nos Pluto e nos Supernada, que nos ofereceu dezenas e dezenas de canções da sua pena nesse rico arquivo intitulado Foge Foge Bandido, iniciará em Janeiro a gravação de um novo álbum, com edição marcada para 2018. Nos últimos tempos foi apresentando as canções no Porto, no festival Mimo, em Amarante, e, no mesmo festival, no país em que este nasceu, o Brasil. Agora, será a vez de subir ao palco do Tivoli, em Lisboa (esta sexta-feira, 22h40), como um dos nomes fortes do primeiro dia de Vodafone Mexefest. Em Dezembro, vamos também poder vê-lo no Porto. Actuará dia 15 no Hard Club, no âmbito das comemorações dos 20 anos do icónico espaço nascido em Vila Nova de Gaia e hoje no Mercado Ferreira Borges.
Desde Olinda (a presença no Mimo contemplou um concerto na cidade pernambucana, dia 19, e, antes desse, um no Rio de Janeiro, dia 11), Manel Cruz fala-nos do que é e do que poderá ser o novo disco que aí vem. Tudo em aberto, como é habitual nele. “Não sei sequer se vai ter formato de álbum”, confessa. “É basicamente um conjunto de canções, resultado de uma altura em que decidi que queria parir algo. Peguei no ukulele e fiz umas quantas músicas. E surgiram mais umas ideias na sala de ensaios com os rapazes”.
Manel ainda anda às voltas com as suas ideias para perceber o que poderá ser o novo álbum, primeiro assinado em nome próprio. Mas saberá certamente, imaginamos, perguntamos, porque quer lançá-lo agora. Afinal, ele não é homem de edição fácil — nove anos nos separam de Foge Foge Bandido. Tendo isto em conta, se é para juntar muitas novas canções, registá-las em estúdio e lançá-las, haverá certamente uma razão forte para o fazer. Ou não? “Os motivos são muitos e misturam-se, se calhar enganam-se, não sei”, escreve Manel Cruz na entrevista por mail com o Ípsilon. "Se calhar é só porque sim. A verdade é que só chegar a casa depois de terminar uma música, pô-la na aparelhagem e deitar-me no sofá a ouvir, já justifica o esforço”. Retemos isto que lemos e recordamos o que nos dirá depois Manel Cruz. Falamos do desenho e da pintura, outra das suas paixões, bem documentada em Foge Foge Bandido, que era disco e era livro. Recordamos que ela até antecedeu a música e procuramos saber como se alimentam mutuamente, como se conjugam nele as duas expressões criativas. A resposta é elucidativa. “Eu gosto de inventar, basicamente” – quando seguimos Manel Cruz e o seu percurso, é nisto que nos devemos concentrar. Nisso e no que nos diz a seguir. “Desenho, música, cozinhar, acho que tem tudo a ver com uma necessidade de surpresa. Mas tudo tem momentos de expectativa, desilusão e deleite. São momentos de paixão, com toda a orgânica inerente. Não consigo nem quero perceber o que significam”. “Não lamento palavras, são o meu alimento”, canta em Ainda não acabei, primeira canção do novo álbum revelada (conhecemo-la em Julho e entretanto, já este mês, chegou Beija-flor).
Melhor que questionar o porquê, será aproveitar o que nos chegará agora. Ou seja, as canções de alguém que, ouvimos nos Ornatos Violeta, ouvimos em Foge Foge Bandido, tem posto em canção, com curtas tiradas perfeitas para emoldurar e usar vida fora – exemplo avulso: “Ninguém é quem queria ser / Eu queria ser ninguém” —, um questionamento desta eterna dualidade que nos persegue, tão dados ao coração cheio de certezas felizes, quando, no seguinte, de olhar em volta a descobrir nada mais que incertezas e sombras ameaçadoras – exemplo avulso número 2, ouvido em Canção segredo: “Meu amor, não cantes esta canção / ela não pertence ao mundo que quero para nós / ela não vai embalar o nosso amor”.
Manel Cruz, 42 anos, músico, pai. Disse em entrevistas recentes que procura agora expor na música um olhar mais positivo. Di-lo num momento de particular turbulência mundo fora, repleto de ameaças e extremismos, num tenso impasse quanto ao que inventaremos como futuro. “Às vezes parece que é pecado estar feliz”, diz, ”mas questiono-me se faremos algo de bom pelo mundo se não tivermos algo de bom em nós. A culpa é uma merda, não dá saúde a ninguém. Por outro lado, mostra-nos o que podemos melhorar”. O que procura, intuímos, é expor da forma mais honesta, à flor da pele, aquilo que implica a vida a correr, as contradições em que caímos, o múltiplo que temos em nós. “Enojam-me todos estes chavões do ‘segue o que sentes’ e do ‘acredita em ti’. Uma grande parte das borradas que se fizeram na história aconteceram porque alguém seguiu o que sentia e acreditou nele próprio”, reflecte. “Ser feliz é apenas uma ideia, estar feliz é um momento”.
Esta sexta-feira, vamos ouvir Manel Cruz, Nico Tricot, Eduardo Silva e António Seginho mostrar o novo que vêm desenvolvendo desde que eram Estação de Serviço (assim se baptizaram há dois anos), transformada entretanto em Extensão de Serviço, quando à ideia de fanfarra folk, exageremos, se juntaram mais teclados, mais electricidade, samples. Vão mostrar-nos as canções que farão o álbum que chegará para o ano. Esse que sai agora porque agora é a altura para ele, sem mais. “Tenho o meu tempo”, diz Manel Cruz. “Acordo e não sei quanto tempo passou. Não percebo nada dos tempos do mundo, como ter o disco pronto para o Natal… Depois do Natal vem Janeiro e eu cá estou. Claro que gosto de mostrar, se não gostasse não fazia música. Sinto agora mais vontade de tocar, e há que tocar pois, no futuro, sei lá”. Aproveitemos então.