Alcoologia do Centro suspende internamento por não ter dinheiro para pagar auxiliares
Alcoólicos vão deixar de ser admitidos para internamento já no início do próximo mês. Entre 22 de Dezembro e 2 de Janeiro, serviço fica reduzido às consultas externas.
A Unidade de Alcoologia do Centro, em Coimbra, vai encerrar o serviço de internamento entre 22 de Dezembro e 2 de Janeiro, por não conseguir pagar as horas extraordinárias devidas aos assistentes operacionais. “É uma medida extrema, mas não temos forma de manter o serviço aberto com o número de horas extraordinárias que já devemos”, confirmou ao PÚBLICO a coordenadora daquela unidade, Ana Feijão.
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A Unidade de Alcoologia do Centro, em Coimbra, vai encerrar o serviço de internamento entre 22 de Dezembro e 2 de Janeiro, por não conseguir pagar as horas extraordinárias devidas aos assistentes operacionais. “É uma medida extrema, mas não temos forma de manter o serviço aberto com o número de horas extraordinárias que já devemos”, confirmou ao PÚBLICO a coordenadora daquela unidade, Ana Feijão.
“Estamos há três anos a alertar a ARS [Administração Regional de Saúde] do Centro para a situação de ruptura em termos de assistentes operacionais e a resposta é sempre a mesma: não se pode contratar mais ninguém”, acrescentou Ana Feijão, para explicar: “A solução para manter o serviço a funcionar tem sido recorrer ao trabalho extraordinário dos assistentes operacionais, vulgo auxiliares, mas já lhes devemos tantas horas que a única solução é mandá-los para casa."
Mesmo com esta pausa de duas semanas, a compensação em tempo de descanso salda apenas 30% das horas devidas àqueles profissionais. Entre estes está agora correr um abaixo-assinado reivindicando o pagamento de todas as horas em dívida até ao final do ano. “Até somos capazes de os convencer a esperar mais um bocado, porque não é possível satisfazer-lhes essa reivindicação a não ser que fechássemos já o internamento, mas não é justo que isto lhes seja pedido”, considera a coordenadora.
A Unidade de Alcoologia do Centro é especializada no tratamento de pessoas com abuso ou dependência de álcool em regime de ambulatório ou internamento. Funciona na dependência da ARS do Centro desde que, em 2012, o Governo extinguiu o Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT). As dificuldades sentem-se desde então. “Não é a primeira vez que recusamos a admissão de novos doentes e fechamos o internamento. Isto vem acontecendo pontualmente desde há dois ou três anos", conta Feijão, para quem "o serviço só não entrou em ruptura mais cedo por causa do sacrifício dos profissionais".
Com 30 camas, esta unidade de alcoologia tem seis médicos, quatro assistentes sociais, três psicólogos e 14 enfermeiros. “Curiosamente a ruptura dá-se pela falta dos profissionais mais baratos ao Serviço Nacional de Saúde, os auxiliares”, nota a coordenadora. Dos seis assistentes operacionais do quadro, dois têm estado de baixa por doença prolongada. “Fazer as escalas de três turnos diários com quatro profissionais é uma tarefa impossível”, sustenta aquela médica, para explicar que há noites em que o turno é assegurado por dois enfermeiros e um assistente operacional, quando devia ser o contrário. “Até acaba por ficar mais caro, mas é a forma possível”.
Desta vez, a solução apontada pela ARS foi mesmo reduzir o serviço às consultas externas e aos tratamentos de ambulatório. “No princípio de Dezembro deixaremos de internar aqueles doentes que só teriam alta no final do mês”, precisa Feijão. O internamento neste serviço está programado para ter uma duração de três semanas, durante as quais os utentes recebem assistência farmacológica, psicoterapêutica e ocupacional, além das reuniões com alcoólicos abstinentes.
Os constrangimentos orçamentais são comuns às três unidades de alcoologia do país (Centro, Norte e Lisboa) e levaram a um aumento generalizado dos tempos de espera para internamento. No caso do Porto, um alcoólico sujeita-se a 67 dias de espera, em média. Em Lisboa — onde apenas 10 das 25 camas disponíveis estão ocupadas, porque não há médico — a espera média fixa-se nos 57 dias. No caso do Centro, o tempo médio de espera foi de 39 dias, entre Janeiro e Setembro, mas, segundo Feijão, agravou-se entretanto para os 46 dias. “Quando suspendermos o internamento” — conclui aquela responsável — “vai aumentar e muito”.
O PÚBLICO tentou sem sucesso obter uma reacção da ARS do Centro, que tutela este serviço.