LEFFEST: artista sírio vinha a Portugal ver filme com o seu trabalho, mas não teve visto
Nizar Ali Badr deveria estar esta quarta-feira no Lisbon & Sintra Film Festival para ver e conversar sobre Imagens do Oriente, sobre a guerra na Síria. Visto Schengen foi-lhe negado. “Que vergonha, Europa, falsa imagem de liberdade.”
O artista sírio Nizar Ali Badr não pôde viajar até Portugal esta semana, onde devia comparecer esta quarta-feira numa sessão especial do Lisbon & Sintra Film Festival, por falta de visto. “Infelizmente – o que eu esperava – as autoridades europeias não me deram o visto Schengen para viajar até Portugal e estar presente no festival”, escreve Ali Badr numa carta aberta publicada na rede social Facebook. “Que vergonha, Europa, falsa imagem de liberdade”, escreve. A sessão, que inclui um filme com as esculturas com as quais o artista retrata a guerra na Síria, avançará ainda assim em Sintra.
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O artista sírio Nizar Ali Badr não pôde viajar até Portugal esta semana, onde devia comparecer esta quarta-feira numa sessão especial do Lisbon & Sintra Film Festival, por falta de visto. “Infelizmente – o que eu esperava – as autoridades europeias não me deram o visto Schengen para viajar até Portugal e estar presente no festival”, escreve Ali Badr numa carta aberta publicada na rede social Facebook. “Que vergonha, Europa, falsa imagem de liberdade”, escreve. A sessão, que inclui um filme com as esculturas com as quais o artista retrata a guerra na Síria, avançará ainda assim em Sintra.
Nizar Ali Badr, escultor, começou a reagir à guerra na sua Síria natal com esculturas com seixos e pedras por não ter uma câmara para registar a violência que dilacera o seu país há mais de cinco anos. Recriou enforcamentos, corpos feridos, combates corpo a corpo ou grupos encabeçados por corações. É um dos convidados do festival que decorre entre Lisboa e Sintra e deveria estar presente esta quarta-feira na sessão especial que mostrará Imagens do Oriente (Images D’Orient), no Centro Cultural Olga Cadaval, como informa a organização do evento num post no Facebook onde partilha a carta aberta que Nizar Ali Badr redigiu ao seu cuidado, mas também endereçada à imprensa, à “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, à “Federação Internacional dos Direitos Humanos” ou “ao deus em que acreditem”.
O artista sírio foi “impedido de viajar para Portugal por não lhe ter sido concedido o visto Schengen”, escreve a organização do LEFFEST sobre a sessão que é composta por uma actuação do violinista Gidon Kremer, a leitura de um texto de Elfriede Jelinek, Os Suplicantes, sobre os refugiados, a curta-metragem Imagens do Oriente, em que são animadas as esculturas de seixos de Nizar Ali Badr.
António Costa, director adjunto do festival, explicou ao PÚBLICO que o pedido de visto foi feito na semana passada e que terça-feira, no momento de levantamento do mesmo, ele foi negado. “Com a ajuda do Ministério dos Negócios Estrangeiros”, disse sobre o facto de ser necessário recorrer às embaixadas de países circundantes da Síria para pedir o visto para entrar no espaço Schengen, “tentou-se na Embaixada de Espanha em Beirute”, no Líbano. Viajaria com o seu assistente, que seria também seu intérprete, mas no momento final, o visto de entrada não foi autorizado, algo que já teria sucedido ao artista nos últimos anos.
Nizar Ali Badr queixa-se de que “as autoridades não dizem [o] porquê” de não terem atribuído o visto para poder entrar no espaço Schengen, composto por 26 países, entre os quais Portugal. E queixa-se que estará presente uma comitiva em torno do filme realizado por Sandro Kancheli, no qual estão presentes “120 obras” suas – em troca, pediu para ser “convidado para a estreia na Suíça mas as autoridades europeias não deram o visto”, lê-se na carta aberta. A sessão desta quarta-feira será rematada por uma conversa com Kancheli e Gidon Kremer, na qual deveria também participar Nizar Ali Badr (que também se identifica pelo nome artístico Jabal Safoon, que significa “Monte Jafoon”).
Este Verão, quando da estreia da primeira secção do Festival de Edimburgo (Escócia) dedicada aos artistas árabes, vários intérpretes de países como a Síria, o Egipto, o Sudão ou a Palestina foram impedidos de entrar no país. Como escreveu o diário britânico The Guardian, foi o caso de bailarinos, actores ou técnicos que viram os seus vistos recusados e não puderam apresentar as suas peças e trabalhos. Na altura, o festival fez várias leituras das cartas do Ministério da Administração Interna britânico em que eram recusados os vistos e a actriz Emma Thompson participou numa dessas sessões.
A cantora Conchita Wurst, vencedora da Eurovisão em 2014, cancelou a sua presença no mesmo festival porque três dos elementos da sua banda, de nacionalidade síria, não obtiveram visto de entrada. Em Julho, o ilustrador iraniano Ehsan Abdollahi viu também negada a sua candidatura a visto de entrada para participar no Festival Literário de Edimburgo.
Já em 2015, por exemplo, e como noticiou na altura o diário britânico The Independent, o artista Thaier Helal foi impedido de entrar no Reino Unido pelo Ministério da Administração Interna britânico quando viajava para estar presente na inauguração da exposição das suas obras na Ayyam Gallery. Helal já tinha, no passado, obtido vistos para o espaço Schengen, mas as autoridades britânicas disseram não estar “satisfeitas” com as garantias de que o artista estava “genuinamente a procurar entrar no Reino Unido como um visitante em negócios” nem que ele “tencionasse deixar o Reino Unido no final da visita”. Depois, as autoridades deram-lhe a oportunidade de fazer uma segunda candidatura e a entrada foi-lhe permitida.