João Lourenço "está no bom caminho", diz docente universitário

Jurista e docente universitário angolano, Lazarino Poulson, sublinha, ainda assim, que Presidente angolano tem o desafio de "consolidar a sua influência política".

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Presidente angolano, João Lourenço LUSA/Fernando Villar

O Presidente angolano, João Lourenço, "está no bom caminho" e Angola vai na direcção do desenvolvimento sustentável, "não para defender interesses deste ou daquele indivíduo", defendeu, esta terça-feira, o jurista e docente universitário angolano Lazarino Poulson, em entrevista à agência Lusa.

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O Presidente angolano, João Lourenço, "está no bom caminho" e Angola vai na direcção do desenvolvimento sustentável, "não para defender interesses deste ou daquele indivíduo", defendeu, esta terça-feira, o jurista e docente universitário angolano Lazarino Poulson, em entrevista à agência Lusa.

"Sob o ponto de vista político, o Presidente João Lourenço tem um desafio: primeiro consolidar a sua influência política. Depois de um período longo, que é um período em que tivemos um Presidente 38 anos, há necessidade de se impor como Presidente e é seguramente o que nós estamos a assistir nesses dois meses de governação (...). É um desafio político que o Presidente tem e está no bom caminho", disse Lazarino Poulson.

No plano político, Poulson sublinhou que João Lourenço tem a questão da democratização do país, um processo que "ainda está inacabado".

"Falta eliminar algumas tensões políticas que ocorrem no interior de Angola. Há ainda o problema das liberdades, tanto a liberdade de imprensa como a liberdade de expressão, de manifestação, de reunião, que no período anterior não foram suficientemente respeitadas(...), não ocorreram com a abertura e a necessidade que num país democrático ocorre", destacou, referindo-se aos cerca de 38 anos de exercício do poder do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.

As reformas em curso, no plano político, devem estender-se ao sector económico, porque falta saber qual o modelo que Angola deve ter, advertiu.

"Continuaremos a ter o modelo de Estado-previdência, de bem-estar, o Estado que faz quase tudo e a que temos assistido até agora? O Estado chegou ao ponto de ter supermercados, de ter lojas. Então a questão que se põe hoje é se continuaremos com esse Estado-previdência ou se passaremos para um estado neoliberal. Por aquilo que temos vindo a assistir, parece que vamos procurar o meio-termo: a necessidade de diminuir a máquina administrativa do Estado (...). Há também que proceder a reformas a nível económico", defendeu.

Reconhecendo que "toda a mudança traz algum receio" e que "as coisas novas provocam alguma desconfiança", Lazarino Poulson disse não estar surpreendido com as primeiras medidas do novo Presidente angolano.

"Muito sinceramente, estava à espera. Enquanto foi candidato, o actual Presidente sempre fez referência de que iria proceder a mudanças. Portanto, ele só está a cumprir as suas promessas eleitorais. Obviamente que as questões sensíveis, como alguns interesses em que ele tocou, fazem parte. Quem se surpreendeu é quem não compreendeu que estamos num processo de mudança", acentuou.

"Particularmente, acho que elas são necessárias e acho que, os que têm interesses afectados, têm obviamente de repensar o seu modo de actuação e ver que o país está a embarcar num modelo de desenvolvimento, de sustentabilidade da economia e não para defender interesses deste ou daquele individuo", acrescentou.

O desafio que João Lourenço abraçou assenta na confiança, na confiança que os investidores externos precisam de ter para apostarem em Angola, mas antes importa "credibilizar" as instituições angolanas, declarou.

"Se tivermos instituições fortes e credíveis, refiro mesmo as várias instituições públicas: Presidência da República, Assembleia Nacional e o poder judicial, num primeiro momento, se essas instituições forem fortes e credíveis, vão obviamente conferir confiança aos investidores, o que vai permitir que haja uma economia mais forte, porque Angola nesse período [governação de José Eduardo dos Santos] foi uma economia que se baseou num único produto, que era o petróleo", argumentou Lazarino.

Caracterizando a economia angolana como "débil", sem "sustentabilidade", diversificação e sem ser autossuficiente, Lazarino Poulson lamentou que o país não tem apostado numa "economia de escala, com 'clusters'".

"Andamos à volta dos petrodólares que deram uma imagem de um país emergente, mas, que no fundo, não tinha bases sólidas, bases seguras. Mas quando houver fortalecimento das instituições, o que vai permitir maior robustez da nossa economia, aí sim, vamos ter, no mundo e na nossa região, outro tipo de influência, que não é só influência política e militar", concluiu.

Licenciado e Mestre em Direito pela Universidade Agostinho Neto, em Luanda, Lazarino Poulson, 44 anos, é autor de várias obras, entre as quais "Justiça Administrativa Angolana", em co-autoria com Carlos Feijó, antigo chefe da Casa Civil do Presidente José Eduardo dos Santos.

Sem ambições políticas, disse à Lusa ser na vertente académica e da consultoria jurídica que deseja contribuir para o desenvolvimento de Angola.