Há uma nova galeria para assinalar no mapa - e não é na Miguel Bombarda

A Lehmann + Silva abriu na Rua do Duque da Terceira, perto da Faculdade de Belas Artes, e aposta numa exposição multidisciplinar.

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Quando a porta da Lehmann + Silva se abre, o que salta à vista é a gargalhada inscrita a negro num gigante tapete bege tradicionalmente marroquino pendurado, que prende o olhar para o contraste entre uma técnica secular e a linguagem digital – algo presente em todas as peças de “Leisure”, do espanhol Josep Maynou, um dos cinco artistas a estrear a nova galeria portuense. Esses contrapontos entre coisas que, à partida, não combinam, também se expandem às obras dos restantes artistas, portugueses e espanhóis, que definem a linha estética da Lehmann + Silva no seu primeiro suspiro – a conjugação entre a “frescura” e o “conservadorismo”, como diz ao PÚBLICO Mário Ferreira da Silva, o galerista que empresta uma metade do nome do espaço – o outro é Frederick.  

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Quando a porta da Lehmann + Silva se abre, o que salta à vista é a gargalhada inscrita a negro num gigante tapete bege tradicionalmente marroquino pendurado, que prende o olhar para o contraste entre uma técnica secular e a linguagem digital – algo presente em todas as peças de “Leisure”, do espanhol Josep Maynou, um dos cinco artistas a estrear a nova galeria portuense. Esses contrapontos entre coisas que, à partida, não combinam, também se expandem às obras dos restantes artistas, portugueses e espanhóis, que definem a linha estética da Lehmann + Silva no seu primeiro suspiro – a conjugação entre a “frescura” e o “conservadorismo”, como diz ao PÚBLICO Mário Ferreira da Silva, o galerista que empresta uma metade do nome do espaço – o outro é Frederick.  

Mas a “lufada de ar fresco” não está só patente na primeira exposição, intitulada “How To Do Things”, com a curadoria de Juan Luis Toboso. O espaço está localizado a poucos metros da Faculdade de Belas Artes do Porto (FBAUP), algo distante do circuito artístico habitual da cidade, que percorre a calçada da Miguel Bombarda. Essa é a maior aposta da galeria, que se insere numa zona onde vivem “muitos artistas” – um deles, conta Mário, “ajudou emprestando um andaime” quando contratempos de última hora surgiram. Isto faz com que se respire “um sentido de comunidade”, mas a visão da Lehmann + Silva atira para o futuro, com a premissa de se lançarem curadores e artistas e levá-los a feiras internacionais. “É uma galeria de bairro para o resto do mundo”, como explica o galerista, onde todos os artistas estão convidados a deixar portefólios. Também se acena aos estudantes da faculdade plantada ali ao pé, numa dinâmica que a galeria pretende explorar.  

Até Dezembro , a arte vai-se falar em linguagens várias na Lehmann + Silva. Apesar do frio da estação, Mário Ferreira da Silva assegura que “não haverá humidade da galeria”, uma vez que existe um corredor “que funciona como caixa-de-ar”. A preocupação também passa por preservar as obras, e o galerista não percebe só do negócio das artes – também é formado na área, o que, para duas interessadas transeuntes que visitaram o local na antevisão, justifica “esta preocupação, algo que não se costuma ver”.  

O prelúdio desta história arranca com uma mão cheia de artistas, portugueses e espanhóis, cujos trabalhos seguem a linha estética desenhada por Juan Luis Toboso, que tentou estabelecer “um fio condutor entre as matérias e as suas qualidades performativas, encontrando algum tipo de força ou energia que as mesmas transmitissem”, como explicou. Para além de tapetes que se riem, também há filmes fotográficos do lisboeta Ramiro Guerreiro que aprofundam a utilidade da arquitectura moderna, numa declaração de “amor-ódio”, como explica o curador; a poucos passos, fotografias e vídeo de um homem que adivinha o tempo a partir do movimento das formigas, “The Muotathal prophet” um trabalho desenvolvido pelo espanhol Fermín Jiménez Landa para a bienal manifesta 11. As obras de Joana Conceição também atraem o olhar pelas cores vivas em “temas recorrentes da tradição da pintura”, em acrílicos sobre tela afastados da parede branca. Com “Flor de sal”, de Diana Carvalho, podem-se confundir fotografias com pinturas, mas o olhar atento denuncia certos elementos que, propositadamente, colocam dúvidas.

A multidisciplinaridade de “How To Do Things” é algo que Mário Ferreira da Silva pretende solidificar como traço da nova galeria, o único que, por agora, a caracteriza, já que a “personalidade” da Lehmann + Silva é um processo em construção. Há no entanto, a certeza de que o próximo ano vai exigir “grandes investimento e muita organização profissional”: o galerista assegura que, em 2018, o espaço albergará “de seis a oito exposições, um número elevado”. A maior vontade da dupla Lehmann e Silva passa por “construir, rapidamente, um bom portefólio, para poder exportar os artistas e as galerias”, o que justifica a ambição. Todo e qualquer artista está convidado para deixar portefólios que os directores do espaço irão ler, como assegura uma das metades, e não há limite para idade ou barreiras de género ou linguísticas, porque a Lehmann + Silva não quer rótulos se não um – o de uma galeria “intelectualizada”. 

Texto editado por Ana Fernandes