Morreu Patrícia Almeida, uma fotógrafa de olhar documental
Explorava os espaços, os usos e os comportamentos da vida urbana com um activo olhar documental. A fotógrafa, artista visual e editora Patrícia Almeida morreu esta terça-feira aos 47 anos.
A fotógrafa, artista visual e editora Patrícia Almeida, conhecida essencialmente pela fotografia de tendência documental, explorando os espaços, os usos e os comportamentos da vida urbana, morreu esta terça-feira de manhã. Tinha 47 anos de idade, sofria de cancro. Para ela a fotografia era uma linguagem de procura e criação artística, com as suas exposições muitas vezes a tomarem a forma de instalações onde foi problematizando a relação do homem com o espaço urbano, como se pode comprovar em séries como No Parking, Locations ou Portobello.
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A fotógrafa, artista visual e editora Patrícia Almeida, conhecida essencialmente pela fotografia de tendência documental, explorando os espaços, os usos e os comportamentos da vida urbana, morreu esta terça-feira de manhã. Tinha 47 anos de idade, sofria de cancro. Para ela a fotografia era uma linguagem de procura e criação artística, com as suas exposições muitas vezes a tomarem a forma de instalações onde foi problematizando a relação do homem com o espaço urbano, como se pode comprovar em séries como No Parking, Locations ou Portobello.
O curador e especialista em fotografia Sérgio Mah, que com ela colaborou por duas ocasiões, salienta a “imensa generosidade e a energia incrível” da mulher e o “percurso único no panorama da fotografia e das artes visuais em Portugal” da artista, principalmente pela sequência de trabalhos “em que existe uma espécie de activismo político, com uma dimensão iconoclasta, onde ela se apropria de cartazes e slogans de rua no período da crise da qual viria a resultar o livro e a série Ma Vie Va Changer.”
Em 2015, a propósito desse livro de imagens construído na intimidade de uma família que se documenta a si própria e à turbulência dos anos da crise, como escrevia José Marmeleira no PÚBLICO, a própria Patrícia Almeida dizia que não era um objecto artístico que se resignasse à sobrevivência. “É uma resposta activa, uma forma de agir sobre a representação que a propaganda do Governo português e dos decisores da União Europeia fizeram dessa realidade. Não é um livro dramático ou triste, não dramatiza a crise. Contribuiu para a memória visual de um tempo, constituiu um documento para os historiadores do futuro.”
Formada em História pela Universidade Nova de Lisboa haveria mais tarde de frequentar o Goldsmiths College, em Londres, onde estudou Imagem e Comunicação. Em 2001 partiu para Tóquio onde produziu o livro No Parking e no ano seguinte recebeu o prémio European Photo Exhibition Award. Desde 2003 fazia parte do colectivo de fotógrafos europeus P.O.C. – Piece Of Cake, participando em várias mostras do grupo. Em 2009, o seu trabalho Portobello (projecto que incluía uma exposição na galeria Zé dos Bois e também um livro), com fotografias realizadas no Algarve, foi nomeado para o prémio de arte contemporânea BES Photo (agora Novo Banco Photo), e no ano seguinte acabou por ser mesmo uma das três finalistas do prémio BES Photo 2010, com o projecto All Beauty Must Die.
“Os seus primeiros trabalhos provêm de uma tradição documental de inspiração britânica”, enquadra Sérgio Mah, “sendo o seu trabalho mais paradigmático desse período a série Portobello que deu origem a um livro. É um trabalho importante porque aí traça uma espécie de ironia na relação com os temas, a cultura popular pequeno-burguesa e as fronteiras entre o mau gosto e a vida quotidiana num território como o do Algarve.”
Nos últimos anos esteve particularmente dedicada à editora GHOST, que fundou com o companheiro, o programador e editor David-Alexandre Guéniot, produzindo publicações, exposições e encontros em torno dos livros de artista, privilegiando uma abordagem experimental na criação de narrativas visuais, tendo participado em inúmeras feiras internacionais como a OffPrint em Paris e Londres ou a Pa/per View em Bruxelas.
“É muito interessante essa aproximação a uma cultura de rua de vivência urbana”, analisa Sérgio Mah, “e um certo espírito de militância” que era traduzido nos materiais que escolhia e no facto de ter criado uma editora de “livros de baixo-custo, sem grandes apoios, mas que são publicações com um carácter subversivo e uma energia criativa muito estimulantes.”
O seu trabalho integra as colecções da Fundação Serralves, a Colecção Novo Banco, a Colecção PLMJ do Centro de Artes Visuais de Coimbra e do Centro Português de Fotografia. Entre exposições em nome próprio ou colectivas, integrou a mostra Horizons para a Gulbenkian Paris (2009), comissariada por Sérgio Mah, ou Impressões e Comentários na Fundació Foto Colectania de Barcelona (2010), com João Fernandes como curador.
Era professora na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha (ESAD). Deixa um filho. O corpo vai ficar em câmara ardente a partir das 18h de quarta-feira, na galeria Zé dos Bois, ao Bairro Alto, em Lisboa. com J.A.C.