Partido governamental aprova afastamento de Mugabe
Deposto pelos militares, contestado nas ruas, o ditador do Zimbabwe viu confirmado o seu afastamento da liderança do partido neste domingo.
Robert Mugabe prepara-se para fazer uma declaração no canal de televisão estatal, horas depois de ter sido afastado da liderança do partido governamental.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Robert Mugabe prepara-se para fazer uma declaração no canal de televisão estatal, horas depois de ter sido afastado da liderança do partido governamental.
O Comité Central da União Nacional Africana do Zimbabwe-Frente Nacional (ZANU-PF) votou este domingo a favor da destituição de Robert Mugabe do cargo de primeiro secretário, abrindo caminho à sua saída do poder onde esteve durante 37 anos.
O afastamento de Mugabe, de 93 anos, da liderança da ZANU-PF é visto como uma forma de forçar a sua saída da presidência. Mugabe esteve reunido este domingo com as chefias militares, mas é incerto que se mostre disponível a abandonar o poder que exerceu com mão-de-ferro durante quase quatro décadas.
Para evitar uma humilhação maior, o partido deu um prazo de 24 horas (quando forem 10h em Portugal continental) para que Mugabe se demita por iniciativa própria. Uma fonte próxima das negociações disse à Reuters que o ainda Presidente terá concordado em anunciar a demissão ainda este domingo.
Caso o impasse nas negociações se mantenha, o Parlamento poderá avançar na terça-feira para a abertura de um processo de impeachment, de acordo com algumas fontes do partido.
O órgão dirigente do partido que sempre governou o Zimbabwe desde a independência, em 1980, nomeou o ex-vice-Presidente Edward Mnangagwa para substituir Mugabe. "Ele foi expulso. Mnangagwa é o nosso novo líder", declarou um dos membros do Comité Central, citado pela Reuters. O anúncio foi recebido com danças por alguns dos delegados partidários reunidos em Harare.
"Este é o dia que marca o renascimento e o desenvolvimento do nosso país", disse o líder de uma das estruturas regionais da ZANU-PF, Said Mike Madiro, citado pelo Guardian.
A decisão era expectável e surge na sequência da detenção do ditador pelo Exército, que tem estado a negociar a sua demissão da presidência do país. Também a primeira-dama, Grace Mugabe, foi destituída do seu cargo à frente da estrutura feminina da ZANU-PF e expulsa do partido.
Nos últimos dias, Mugabe viu as estruturas que foram a base da sua governação assumirem uma forte oposição à sua manutenção na presidência. Para além do Exército e do partido, também a influente associação que reúne os veteranos da "guerra da libertação" — na qual o próprio Mugabe participou e de onde retira a sua legitimidade — tem exigido a sua saída.
No sábado, dezenas de milhares de pessoas encheram as ruas do centro de Harare e marcharam, lado a lado com tanques do Exército, até à mansão onde Mugabe está detido para exigirem o seu afastamento.
Os militares decidiram agir contra Mugabe depois da exoneração de Mnangagwa, visto como um forte candidato a suceder-lhe na presidência, no início do mês. A demissão foi forçada pela primeira-dama, que também partilha ambições de chegar ao poder.