Ken Burns, o melhor documentarista de que nunca ouvimos falar

The War, originalmente transmitida no serviço público americano de televisão PBS e que podemos descobrir agora em Portugal no serviço de streaming Netflix, são 15 horas de televisão divididas em sete episódios com uma duração média de duas horas — e não têm nem um grama de gordura.

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Ken Burns, considerado talvez o maior documentarista televisivo americano, é um nome que pouco ou nada diz aos espectadores portugueses (e, mais latamente, aos espectadores não americanos). A RTP mostrou as suas séries sobre o jazz e sobre Mark Twain, mas (salvo erro ou omissão) por cá não se conhecem os trabalhos que fizeram o seu nome — as suas monumentais séries sobre a Guerra Civil Americana, The Civil War (1990), e sobre a intervenção americana na Segunda Guerra Mundial, The War (2007), vistas do lado dos homens comuns que nelas combateram.

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Ken Burns, considerado talvez o maior documentarista televisivo americano, é um nome que pouco ou nada diz aos espectadores portugueses (e, mais latamente, aos espectadores não americanos). A RTP mostrou as suas séries sobre o jazz e sobre Mark Twain, mas (salvo erro ou omissão) por cá não se conhecem os trabalhos que fizeram o seu nome — as suas monumentais séries sobre a Guerra Civil Americana, The Civil War (1990), e sobre a intervenção americana na Segunda Guerra Mundial, The War (2007), vistas do lado dos homens comuns que nelas combateram.

Formalmente, não há nada de particularmente inovador no trabalho de Burns, que alterna as “cabeças falantes” dos depoimentos com narração em off (gravada por alguns dos maiores actores americanos) e material de arquivo (as suas panorâmicas sobre fotografias deram até origem ao “efeito Ken Burns” em programas de montagem em computador). Mas a forma é, em Burns, apenas uma ferramenta que serve para contar uma história, e a História, com uma multiplicidade de cambiantes que tornam o espectador consciente da dimensão humana, de sangue, suor e lágrimas. Como se faz isso? Com tempo — as suas séries, decantadas ao longo de anos e muitas vezes com múltiplos projectos a correr em simultâneo, recusam a duração formatada da “hora televisiva”. The War, originalmente transmitida no serviço público americano de televisão PBS e que podemos descobrir agora em Portugal no serviço de streaming Netflix, são 15 horas de televisão divididas em sete episódios com uma duração média de duas horas — e não têm nem um grama de gordura.

Enquanto não vemos a sua produção mais recente — The Vietnam War, uma absoluta obra-prima —, podemos começar a descobrir o seu trabalho anterior no Netflix, que propõe para além de The War os três episódios (seis horas) da minissérie de 2011 sobre a Lei Seca, Prohibition. E vale, muito, a pena.

A rubrica Televisão encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO