Negociações com professores abrem caminho ao diálogo com outros sectores

Carlos Silva acredita que os trabalhadores da administração pública têm sido os mais penalizados quando é preciso reduzir os custos de financiamento do Estado.

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"Temos que fazer uma alteração comportamental, até de paradigma do país. O que é preciso é coragem política", disse Carlos Silva Ricardo Lopes

O secretário-geral da União Geral de Trabalhadores (UGT), Carlos Silva, afirmou este sábado em Setúbal que as negociações do Governo com os professores abrem caminho à negociação para reposição de direitos de todos os outros trabalhadores da administração pública.

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O secretário-geral da União Geral de Trabalhadores (UGT), Carlos Silva, afirmou este sábado em Setúbal que as negociações do Governo com os professores abrem caminho à negociação para reposição de direitos de todos os outros trabalhadores da administração pública.

"Precisamente por causa de alargar de forma abstracta e genérica aquilo que é este princípio de compromisso — um compromisso acordado para retomar negociações em Dezembro é que esta luta me parece importante. É importante porque se dirige exclusivamente a um nicho importante — os professores —, mas que abre a porta a toda a administração pública", disse Carlos Silva no encerramento do III Congresso da UGT de Setúbal.

"Vai custar dinheiro, mas isso agora depende da forma como for negociado com o Governo e toda a gente está ciente de que é necessário fasear ao longo do tempo, ao longo dos anos. Fechar a porta a uma qualquer negociação é que, na nossa óptica, seria um erro, porque o que está aqui em causa é um princípio básico da negociação colectiva", acrescentou.

Para o secretário-geral da UGT, com o actual Governo abriu-se uma expectativa de reposição de direitos dos trabalhadores que foram suspensos ou congelados durante os últimos anos, mas que é preciso compaginar com os compromissos internacionais, com o crescimento da economia, com a dívida pública e com o défice.

Carlos Silva considerou também que os trabalhadores da administração pública têm sido os mais penalizados quando é preciso reduzir os custos de financiamento do Estado e alertou para as consequências das restrições orçamentais em diversas áreas que resultam na falta de recursos em diversos sectores, ao mesmo tempo que defendia a necessidade de um pacto de regime entre todos os partidos com representação parlamentar.

"Quando alguém vem do estrangeiro — FMI, BCE e Comissão Europeia — dizer que é preciso reduzir os custos de financiamento do Estado, a primeira coisa para onde se olha é para salários de quem trabalha. Verificou-se o que aconteceu este ano: eram necessários bombeiros, forças de segurança, era necessário investir nos hospitais e centros de saúde, era preciso gente para acudir à catástrofe que assolou Portugal de norte a sul, e Junho e Outubro, e não tínhamos gente que chegasse, não havia recursos", disse.

"Temos que fazer uma alteração comportamental, até de paradigma do país. O que é preciso é coragem política. E daí eu ter afirmado que há matérias que necessitam de um pacto de regime entre os partidos que têm governado o país nestes 43 anos de democracia, mas também daqueles que, não tendo governado, têm representação parlamentar, contribuem com muitas medidas positivas para o OE (Orçamento do Estado), para as alterações legislativas necessárias — o PCP, O BE, “Os Verdes”. Todos têm apresentado medidas positivas ao Governo", justificou.

Na sessão de encerramento do Congresso da UGT de Setúbal, Carlos Silva deixou também um apelo ao ministro da Saúde para não deixar que se prolongue a greve por tempo indeterminado dos técnicos de diagnóstico e terapêutica.

"O senhor ministro da Saúde não pode continuar a ignorar — eu sei que ele não ignora, mas também tem que abrir a porta a uma negociação com os técnicos de diagnóstico e terapêutica — aqueles que trabalham na imagiologia, na radiografia, que estão em greve. Não faz sentido manter uma greve por tempo indeterminado a ver quem é que estica mais a corda", disse.

"Quando vivemos com um Governo à esquerda, apoiado por partidos à esquerda do parlamento, em que a sensibilidade social é algo que faz parte da própria essência da esquerda politica, nós temos que reivindicar ao governo que seja sensível. Não permitam que uma greve destas se mantenha porque se a greve existe por alguma razão é. Vamos discutir quais são as razões e o que é necessário fazer para a desbloquear", concluiu o secretário-geral da UGT.