O poder da Educação na conquista da igualdade
As mudanças de comportamentos e de mentalidades em direção a sociedades mais justas fazem-se através do investimento colectivo na Educação de qualidade.
O que nos faz ter um pensamento crítico? O que nos faz conseguir separar o trigo do joio numa sociedade cada vez mais rápida na propagação de notícias que tantas vezes não têm nenhum fundamento? O que nos faz crescer desenvolvendo a empatia? O que nos faz respeitar os outros? O que nos faz saber quais são efectivamente os nossos deveres e os nossos direitos? O que quer dizer liberdade, igualdade, cooperação, desenvolvimento, solidariedade, cidadania, tolerância, dignidade ? Como identificar e reagir à violência, à discriminação, às desigualdades com base no género, na cultura, na cor, nas opções sexuais e nas escolhas de vida quando não violam os direitos humanos? E o que verdadeiramente significa uma sociedade onde se defendem, protegem e promovem os Direitos Humanos?
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O que nos faz ter um pensamento crítico? O que nos faz conseguir separar o trigo do joio numa sociedade cada vez mais rápida na propagação de notícias que tantas vezes não têm nenhum fundamento? O que nos faz crescer desenvolvendo a empatia? O que nos faz respeitar os outros? O que nos faz saber quais são efectivamente os nossos deveres e os nossos direitos? O que quer dizer liberdade, igualdade, cooperação, desenvolvimento, solidariedade, cidadania, tolerância, dignidade ? Como identificar e reagir à violência, à discriminação, às desigualdades com base no género, na cultura, na cor, nas opções sexuais e nas escolhas de vida quando não violam os direitos humanos? E o que verdadeiramente significa uma sociedade onde se defendem, protegem e promovem os Direitos Humanos?
E o que são os Direitos Humanos?
Há dezassete anos que ando pelas escolas do nosso país, a conversar demoradamente sobre estas temáticas com alunos e alunas, professores e professoras e às vezes também, pais, mães e encarregados de educação. Faço questão de reservar dias específicos para visitar escolas secundárias e universidades no sentido de partilhar a minha experiência enquanto Embaixadora de Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População e Presidente da Associação Corações Com Coroa. Tem sido uma viagem muito interessante, com picos de grande entusiasmo por parte de determinados docentes que, num comovente exercício da sua missão ensinam, de forma transversal, todos estes conceitos, e oferecem, através das suas disciplinas, competências sociais e pessoais para que os/as jovens possam tomar decisões responsáveis e ler o mundo. E parte destes professores e professoras especiais o convite para me receberem. Durante as sessões, tentamos falar abertamente de tudo, sem tabus. Mas é nestas alturas que sou confrontada com um terreno de areia movediça onde se espelha violência no namoro, racismo, homofobia, bullying, e fico a perceber que existe também uma escola cansada onde no seu ADN não constam estas estratégias de educação para a cidadania e para o desenvolvimento e onde a mudança acaba por nem sempre acontecer. Se tivesse de fazer uma conclusão, diria que existe um espaço imenso para se trabalhar na construção de uma sociedade bem mais saudável.
É já um lugar-comum afirmar que quanto mais conhecemos, mais refletimos, mais relatórios lemos, mais perguntas colocamos. Porque ficamos mais conscientes do impacto das desigualdades no emergir das discriminações e vice-versa, do sofrimento e das injustiças que daí resultam, e dos limites à nossa intervenção para resolver alguns, dos muitos, problemas.
Quando fundei a Corações Com Coroa há 6 anos tive esse propósito, criar um pequeno grupo de Corações Capazes de Construir para que nos debruçássemos sobre as temáticas que nos assaltam a indignação. E tentarmos agir para colmatar o que está ao nosso alcance.
Todos os anos, por exemplo, organizamos uma conferência aberta ao público, com entrada gratuita, onde também atribuímos os Prémios de Comunicação a trabalhos de jornalismo e de publicidade, que se tenham destacado na promoção dos Direitos Humanos.
Exactamente pelo facto da Educação formal e não formal serem áreas que nos interessam particularmente, este ano escolhemos como tema “ O Poder da Educação na Conquista da igualdade”.
Não se trata apenas de acreditar, achar ou sentir.
Sabemos que as mudanças de comportamentos e de mentalidades em direção a sociedades mais justas, mais desenvolvidas e mais igualitárias se fazem pelo gozo dos direitos fundamentais, mas sobretudo através do investimento colectivo na Educação de qualidade.
Olho para a Educação não apenas enquanto sistema formal de ensino, ou seja, a escola, o pilar estruturante que permite criar as bases do saber ler, escrever, contar, pensar, ser e fazer, com equipamentos e profissionais, curricula e programas, livros e cadernos, crianças e jovens a aprender, mas também enquanto sistema que funciona quase por meio de vasos comunicantes que determina depois a forma como apreendemos, exercitamos e replicamos a cidadania num exercício de plena igualdade.
Além da teoria dos triângulos, dos números primos e de outros ensinamentos, aprendemos também a identificar e a perceber as percentagens que têm construído a história mais antiga ou mais recente da igualdade e da origem das discriminações que persistem.
Relembro aqui algumas:
- 58% de todas as novas infecções por VIH entre jovens no mundo são de pessoas de 15 a 24 anos.
- 95% dos partos em meninas adolescentes acontece nos países menos desenvolvidos.
- Em Portugal, diferença salarial entre homens e mulheres, nas mesmas funções, é de 14,9%.
- Em Portugal, os números da violência doméstica (32.507) obrigam-nos a refletir:
79,9% vitimas mulheres maioritariamente com 25 ou mais anos de idades
84,3% agressores homens maioritariamente com 25 ou mais anos de idade.
Em muitas localidades e países, a ausência de serviços de assistência à infância, impede que meninas e raparigas possam frequentar a escola e não permite que mulheres jovens e adultas façam parte da força de trabalho renumerada e com proteção social.
Quando chego ao pátio da escola, do politécnico ou da universidade, não vejo apenas alguns rapazes e raparigas que se magoam com olhares, palavras, gestos ou emojis, vejo de facto, um enorme potencial transformador de participação social, cívica e politica que pode não estar a ser realizado.
Será que precisamos de um movimento que ultrapasse o que penso e digo, para o que sou e faço?
O poder transformador da educação em cidadania activa, empreendedora e democrática está em cada um e em cada uma de nós. A educação é também informação livre e de qualidade, acesso a bens culturais, oportunidade de escolha e direito à decisão, incluindo quando e com quem constituir família.
A educação assente em valores que respeitem e ensinem a ouvir e a dizer sim e não, e que reconheça e efective os direitos humanos como essenciais ao desenvolvimento que queremos, sem deixar ninguém para trás.
Esperamos mais, muito mais de cada pessoa, por isso levantamos questões para pensar, debater e ser capaz de construir resposta durante a tarde de dia 20 de novembro, das 15h às 19.00 na Fundação Caloust Gulbenkian:
Quem faz a educação de um povo?
Como construímos sociedades mais participantes, solidárias, responsáveis, cooperantes e conscientes num mundo que se deseja melhor para toda a gente?
A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico