Dublin mostra que nem só Paris e Berlim têm posição dura sobre o "Brexit"
David Davis responsabilizou os dois motores europeus pelo impasse das negociações. Mas a Irlanda quer garantias escritas de que não haverá controlos na fronteira com Irlanda do Norte
O ministro britânico para o “Brexit”, David Davis, acusou nesta sexta-feira a França e a Alemanha de serem os principais opositores ao início das negociações sobre o futuro das relações bilaterais, garantindo que há vários outros Estados-membros que “querem avançar”. Mas acabaria por ser o Governo irlandês a deitar água fria nas expectativas de Londres, ao avisar que só dará “luz verde” à próxima fase das discussões se tiver garantias escritas de que não haverá controlos na sua fronteira com a Irlanda do Norte.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O ministro britânico para o “Brexit”, David Davis, acusou nesta sexta-feira a França e a Alemanha de serem os principais opositores ao início das negociações sobre o futuro das relações bilaterais, garantindo que há vários outros Estados-membros que “querem avançar”. Mas acabaria por ser o Governo irlandês a deitar água fria nas expectativas de Londres, ao avisar que só dará “luz verde” à próxima fase das discussões se tiver garantias escritas de que não haverá controlos na sua fronteira com a Irlanda do Norte.
A troca de palavras aumenta de tom à medida que se aproxima a cimeira de Dezembro, quando os líderes dos restantes 27 países voltarão a avaliar o andamento das negociações do “Brexit”, até agora exclusivamente dedicadas aos termos da saída britânica, em Março de 2019.
De forma unânime, os parceiros europeus insistem que não será possível passar à segunda fase sem que o Reino Unido clarifique quais os compromissos financeiros que pretende liquidar antes da saída – um montante que Bruxelas calcula na ordem dos 60 mil milhões de euros. O Governo britânico tem dado sinais de que poderá fazer novas cedências, mas insiste que não se comprometerá com um valor antes de estarem definidas as bases de um futuro acordo comercial.
“É claro que eles estão a dizer isso, mas também é claro que muitos deles querem avançar”, disse Davis numa entrevista à BBC, garantindo que “países como a Dinamarca, a Holanda, Itália, Espanha ou a Polónia podem ver que há grandes benefícios” em começar já a discutir o futuro. O ministro deu a entender que essa posição só ainda não vingou por causa da oposição de Paris e Berlim – “os dois jogadores mais influentes na Europa”, mas que Londres vê como mais inflexíveis nestas negociações.
“Aquilo em que eles acreditam pode ter grande influência, por vezes decisiva. Mas esta é uma decisão de toda a Europa, é uma decisão de 27 países”, afirmou Davis. Já na véspera, num discurso perante empresários em Berlim, tinha lançado farpas ao Governo de Angela Merkel, insistindo que “pôr a política à frente da prosperidade nunca é uma escolha inteligente”.
Mas a Irlanda fez questão de recordar nesta sexta-feira que não é apenas a chamada “factura do divórcio” que está a complicar as discussões. O primeiro-ministro Leo Varadkar encontrou-se com a homóloga britânica em Gotemburgo, à margem da cimeira sobre direitos sociais na UE, e no final afirmou que não basta o Reino Unido prometer que não serão repostos os controlos na fronteira com a Irlanda do Norte – uma questão sensível política e economicamente dos dois lados da ilha. “Queremos isso escrito em termos práticos nas conclusões da primeira fase das negociações” do Brexit”, afirmou Varadkar.
Tanto Londres como Bruxelas insistem que não querem barreiras físicas entre as duas Irlandas, mas encontrar uma solução tornou-se mais difícil depois de Theresa May ter anunciado que, quando deixar a UE, o Reino Unido abandonará o mercado único e a união aduaneira. Dublin entende que uma saída poderá passar por criar um regime especial para a Irlanda do Norte, mantendo-a de alguma forma associada aos mecanismos europeus, mas a sugestão foi considerada inaceitável pelo Governo britânico, dependente do apoio dos unionistas irlandeses para ter maioria no Parlamento.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, que também se reuniu com May em Gotemburgo, mostrou estar em sintonia com Dublin, ao sublinhar que, tal como no caso do dinheiro, ainda não houve progressos suficientes nas discussões sobre a fronteira irlandesa. E repetindo o ultimato que tinha sido feito na semana passada pelo chefe dos negociadores europeus, Michel Barnier, acrescentou: “A fim de evitar qualquer ambiguidade, deixei claro à primeira-ministra britânica que estes progressos precisam de acontecer até ao início de Dezembro, o mais tardar”.