Violet, a DJ feminista que privou com Donatella Versace
A portuguesa de 33 anos, que normalmente se posiciona no circuito underground, já passou música em desfiles da Versace e foi elogiada por Naomi Campbell e Bella e Gigi Hadid.
Ser DJ nunca foi o sonho de criança de Inês Coutinho, mas tornou-se realidade há dez anos, altura em que começou a explorar o software de música e produção. Em 2012, e depois de fundar a banda de hip hop A.M.O.R., lançou-se a solo sob o nome de Violet, produzindo dois EPs e criando a própria editora Naive. Actualmente, gere a editora, toca em clubes nacionais e internacionais e é uma das responsáveis pela Rádio Quântica, emissora underground que fundou com o companheiro, o também músico Photonz. “Quisemos dar uma voz emancipatória a artistas portugueses e lusófonos que normalmente não fariam parte dos alinhamentos de clubes como o Lounge e o Lux”, conta Violet em conversa telefónica com o PÚBLICO.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Ser DJ nunca foi o sonho de criança de Inês Coutinho, mas tornou-se realidade há dez anos, altura em que começou a explorar o software de música e produção. Em 2012, e depois de fundar a banda de hip hop A.M.O.R., lançou-se a solo sob o nome de Violet, produzindo dois EPs e criando a própria editora Naive. Actualmente, gere a editora, toca em clubes nacionais e internacionais e é uma das responsáveis pela Rádio Quântica, emissora underground que fundou com o companheiro, o também músico Photonz. “Quisemos dar uma voz emancipatória a artistas portugueses e lusófonos que normalmente não fariam parte dos alinhamentos de clubes como o Lounge e o Lux”, conta Violet em conversa telefónica com o PÚBLICO.
É do pequeno estúdio situado na Rua das Gaivotas 6 (estrutura cultural que acolhe o Teatro Praga), em Lisboa, que a DJ de 33 anos emite a música “de todo o mosaico cultural, político e artístico que antes não tinha uma plataforma”. Partindo da junção da “lógica de rave e dança com a experimentação melódica e texturas sonhadoras”, Violet serve-se de uma fusão de géneros que ultrapassa o house e o techno e que vai desde instrumentais sem voz a canções mais calmas. Sem descurar, no entanto, a defesa dos direitos das mulheres e da comunidade queer. Foi, aliás, uma faixa produzida a propósito do Dia da Mulher que fez com que o seu nome chegasse, em 2015, à equipa de Donatella Versace. “Fizemos uma cover de Transition, dos Underground Resistance, que foi muito ouvida em todo o mundo e por sorte chegou ao consultor de música da Versace, que decide as músicas que vão passar nos desfiles”, recorda.
Simon Hold mostrou a música à designer italiana, que “ficou inspirada pela letra que dá quase vontade de conquistar o mundo” e quis usá-la numa apresentação da Versace em Paris. “Na altura, ela usou só a voz, mas ficou a saber que eu era uma mulher politicamente activa pelos direitos das mulheres e, tendo em conta que se identifica com essa luta, quis incluir outros instrumentais nos desfiles seguintes”. Violet realça que Donatella Versace está envolvida em todas as etapas da concepção dos desfiles da marca e nota que a produção das faixas acabou por ser uma co-criação com Photonz e com a própria Donatella. “Tive em conta não só a visão das criações, como da pessoa que acabei por conhecer e com quem me consigo identificar facilmente.”
A escala monumental do evento foi “impressionante para alguém que só tinha ido uma vez à ModaLisboa”, mas revelou-se uma experiência menos intimidante do que o esperado. “Tanto a Donatella como a equipa são pessoas muito humanas e terra-a-terra”, afirma Violet, acrescentando que “há um certo snobismo e frieza habitualmente associados ao mundo da moda, mas a Versace tem uma outra humanidade”. De acordo com a artista, a humilde conduta da Versace reflecte o reality check motivado pelo trágico assassinato de Gianni Versace em 1997. “Parecem estar todos muito concentrados em fazer viver o génio de Gianni e eu acho que ele também era uma pessoa muito humana e muito doce”, declara.
O feedback positivo sobre a sua música foi unânime entre os grandes nomes da moda. No ano passado, Naomi Campbell fez uma publicação no Instagram com um excerto da letra escrita por Violet. “De alguma forma ela ficou tocada pela letra e isso voltou-me a tocar a mim”, refere. Já as irmãs Bella e Gigi Hadid fizeram questão de elogiar a portuguesa pessoalmente, quando esta tocava num jantar após o desfile de Milão com Photonz. “Disseram-nos que a nossa música era sempre a melhor para se desfilar”, conta.
O sexismo e a misoginia na música
Violet faz música há dez anos, mas só há dois conseguiu torná-la na sua única e principal actividade. “É muito difícil encontrar um equilíbrio entre o espaço onde tocamos e um salário que seja suficiente para sermos apenas DJs”. A DJ acredita que a receita para o sucesso inclui, além do trabalho e da confiança, uma boa dose de sorte e o estabelecimento de uma sólida rede de contactos. “Hoje em dia ser músico envolve um trabalho contínuo em várias frentes e não só fazer música.”
Além da gestão entre o tempo e o orçamento mensal, os maiores desafios da indústria são o sexismo e a misoginia. “A música gosta de achar que não há problemas de sexismo, racismo ou homofobia e isso leva a que as pessoas não vigiem tanto estes comportamentos e que muita gente nem sequer tenha noção que os tem”, justifica. Violet faz questão de dar a mão a outras mulheres da música e à comunidade queer através de workshops grátis de DJing e de produção. “Tento chamar mais raparigas para este mundo e mostrar-lhes que elas são talentosas como qualquer homem”, justifica.
Apesar de ter uma das maiores casas de alta costura no seu currículo, a vida de Violet continua a ser uma mescla de pessoas de todos os backgrounds que se juntam em sítios menos comerciais para ouvir música mais experimental. “Pode-se dizer que os clubes onde eu toco não são a Versace do mundo da música”, nota a DJ com uma gargalhada, admitindo que não mantém uma relação frequente com a marca. “É uma espécie de encontro anual, e estou à espera do próximo.”