Judith Leiber, a rainha das clutches, está a reunir os designs num museu
A designer de 96 anos vendeu há anos a sua marca, cujo nome continua a ser um dos mais relevantes da indústria da moda. No museu que estabeleceu nos Hamptons, quer agora reunir um exemplar de cada um dos mais de 3500 designs que fez ao longo de quatro décadas.
De Abril a Agosto deste ano, alguns dos mais de 3500 designs de Judith Leiber foram expostos no Museum of Arts and Design, em Nova Iorque. As malas contavam a história da artesã húngara de origem judaica, que escapou ao Holocausto e construiu uma empresa de sucesso nos EUA, tornando-se um nome incontornável da indústria da moda, no que toca a malas de festa.
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De Abril a Agosto deste ano, alguns dos mais de 3500 designs de Judith Leiber foram expostos no Museum of Arts and Design, em Nova Iorque. As malas contavam a história da artesã húngara de origem judaica, que escapou ao Holocausto e construiu uma empresa de sucesso nos EUA, tornando-se um nome incontornável da indústria da moda, no que toca a malas de festa.
A criadora – que vendeu a marca em 1993 – está agora, aos 96 anos, a construir um museu para as suas criações, num edifício de estilo renascentista nos Hamptons. Até hoje já são 1500 as peças que enchem o espaço – desde malas em pele e tecidos de qualidade às pequenas clutches de festa, também conhecidas como minaudières. Foi aqui que a criadora se destacou, na segunda metade do século XX: com pequenas malas decoradas por cristais Swarovski, com formas inusitadas, como pinguins, melancias, ovos, mochos e outros animais e frutas.
"Simplesmente pensei que seria boa ideia tentar fazer alguma coisa estranha que nunca tivéssemos visto antes", conta à Harper's Bazaar.
Mamie Eisenhower, primeira-dama dos Estados Unidos, foi uma das suas primeiras clientes e uma figura que ajudou a catapultar a sua carreira, quando usou uma das suas criações para o baile inaugural da presidência do marido, em 1953. Muitas outras figuras relevantes, como Barbara Bush, também se tornaram fãs do trabalho de Leiber. Ainda hoje, a lista de celebridades que são clientes é interminável, desde Rihanna a Julia Louis-Dreyfus, passando por Diane Kruger.
"O que ela fez foi revolucionário. Ela deu uma narrativa às malas e clutches", comenta Harold Koda, citado pelo New York Times, que enquanto curador do Costume Institute do Metropolitan Museum of Art (MET) adquiriu cerca de 80 peças da criadora. "O foco conceptual torna [as malas] divertidas ou surreais, às vezes as duas coisas. Ela faz-me lembrar Salvador Dalí e dos seus telefones de disco", diz.
Muitas das malas que se vêem hoje em dia, apesar de terem a etiqueta, não terão sido desenhadas pela criadora, que vendeu a marca em 1993 a uma empresa britânica, por milhões de dólares. Aquela acabou depois por ser comprada pelo Pegasus Apparel Group e pertence hoje à Authentic Brands Group. Leiber continuou durante alguns anos a colaborar de forma criativa e desenhou a sua última mala em 2004. As peças estão há venda, por exemplo, nos armazéns Neiman Marcus e Bergdorf Goodman – na grande maioria são minaudières, num estilo semelhante ao da própria Judith. Os preços variam entre os mil e seis mil dólares.
Na lista dos judeus para exterminar
Na caça aos modelos originais, a gestora da colecção do museu, Ann Fristoe Stewart, corre as leiloeiras e lojas de peças vintage. "Ela [Judith] desenhou mais de 3500 malas, por isso nem a meio vamos", conta à Harper's Bazaar. Em 1993, Leiber ganhou o prémio de lifetime achievement, do Council of Fashion Designers of America (CFDA).
Se hoje ainda é a rainha incontestável das clutches brilhantes de festa; outrora, Judith Leiber teve o seu nome na lista de judeus para exterminar, de acordo com a biografia no site do Leiber Museum.
Nascida em Budapeste, viu-se impedida de voltar para Londres – onde iria estudar –, com o rebentar da Segunda Guerra. Nessa altura, trabalhou como aprendiz numa fábrica de malas, aprendendo o processo de fabrico de uma ponta à outra e tornando-se uma artesã mestre.
Apesar de ter visto os tios serem mortos por soldados nazis, Leiber e a sua família, encontraram asilo num pequeno apartamento com dezenas de pessoas, através das ligações do pai ao consulado da Suíça. "Havia 26 pessoas num T1. Era bastante terrível. Desenhava malas na minha mente para sobreviver à miséria", conta à Harper's Bazaar.
No final da guerra, casou-se com um militar norte-americano e os dois foram viver para Nova Iorque. Trabalhou para várias empresas, antes de começar a sua própria, com apoio do marido, em 1963. "No mundo da alta moda, Judith era conhecida como a única pessoa que conseguia desenhar e fazer uma mala, da idealização ao magnífico produto acabado", refere ainda a biografia.