Diabetes ainda é responsável por quase três amputações por dia
No ano passado fizeram-se 1037 amputações nos membros inferiores por causa da diabetes, menos 600 que seis anos antes. Pelo contrário, a prevalência da doença durante a gravidez continua a bater recordes, revelam os dados do programa nacional, apresentado nesta terça-feira, Dia Mundial da Diabetes.
O número de amputações provocadas pelo chamado pé diabético diminuiu quase 37% entre 2010 e 2016. No ano passado foram feitas 1037 amputações nos membros inferiores por causa da diabetes, menos 600 que seis anos antes. Ainda assim, são quase três por dia, nota o balanço do Programa Nacional para a Diabetes que é apresentado nesta terça-feira, dia mundial da doença.
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O número de amputações provocadas pelo chamado pé diabético diminuiu quase 37% entre 2010 e 2016. No ano passado foram feitas 1037 amputações nos membros inferiores por causa da diabetes, menos 600 que seis anos antes. Ainda assim, são quase três por dia, nota o balanço do Programa Nacional para a Diabetes que é apresentado nesta terça-feira, dia mundial da doença.
O que para a coordenação do programa é uma “evolução francamente positiva”, é para Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal o reflexo da necessidade de se “encontrar políticas mais eficazes”. Porque o número de amputações é ainda elevado, diz o seu presidente, José Manuel Boavida.
Os novos dados confirmam a tendência de que cada vez menos o diagnóstico de pé diabético (uma das complicações da diabetes responsável por elevados graus de incapacidade) significa uma amputação nos membros inferiores: nunca se fizeram tão poucas amputações minor (parte do pé) e major (ao nível da coxa, perna ou tornozelo) como no ano passado, concluiu o balanço do programa nacional para a doença. O que se deve ao “investimento na participação dos médicos e enfermeiros de família” no diagnóstico precoce desta complicação, afirma a coordenadora do programa, Cristina Valadas. Contudo, sublinha, “é necessário continuar a investir na prevenção".
“Mas isto só vai melhorar quando houver medidas nos hospitais”, acredita o presidente da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP). Apesar de reconhecer o “enorme avanço na participação” dos cuidados primários, José Manuel Boavida critica a demora do Ministério da Saúde em criar uma "via verde" para o pé diabético, que seria a “única maneira de reduzir o internamento, a estadia hospitalar e o número de amputações”.
A APDP defende a criação, nos hospitais públicos, de uma linha de comunicação directa entre as urgências e as consultas, a chamada "via verde", como já existe para o acidente vascular cerebral. A medida estava prevista num projecto de resolução, aprovado por unanimidade em 2015, na Assembleia da República, mas nunca foi implementada.
“Quer exista 'via verde' ou não”, para a coordenadora do programa para a diabetes é preciso garantir que “as pessoas são rapidamente diagnosticadas nos centros de saúde e encaminhadas para as consultas de especialidade”. Também a Associação Portuguesa de Podologia alerta para a necessidade de haver mais consultas multidisciplinares do pé diabético nos cuidados primários.
É nas unidades de saúde de Loures, Odivelas, Sintra e na região do Alentejo que existe “mais carência” de consultas especializadas para a diabetes e onde existem mais amputações, diz Cristina Valadas. Pelo contrário, é no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa que existe a menor baixa taxa de amputação major em diabéticos.
Rastreio nos centros de saúde
Uma das prioridades do programa nacional para a diabetes, pensado até 2020, é diminuir o número de amputações major (foram 433 em 2016, cerca de 42% do total de amputações). Cristina Valadas quer generalizar as avaliações de risco nos centros de saúde, procedimentos onde enfermeiros ou médicos observam possíveis lesões, deformações ou perda de sensibilidade nos pés e, a partir daí, calculam o risco de amputação.
No ano passado fizeram-se quase 787 mil avaliações de risco. No primeiro semestre deste ano, já foram contabilizados perto de 472 mil. Importa ainda que os doentes estejam atentos aos riscos. “Ensina-se as pessoas a olhar para os pés”, especifica Cristina Valadas.
O próximo passo é fazer um levantamento nacional sobre como está a funcionar o rastreio do pé diabético, à semelhança do que foi feito com a retinopatia diabética, outra das complicações crónicas associada à doença e uma das principais responsáveis de cegueira evitável nos adultos. Este levantamento permitiu à coordenação do programa encontrar “novas soluções”, entre as quais, a descentralização dos rastreios. Agora os centros de saúde convocam as pessoas com diabetes para despistagens.
Diabetes na gravidez
Em Portugal, segundo o Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico, estima-se que a prevalência da diabetes nos adultos (dos 25 aos 74 anos) seja de 9,8%, acima da média europeia (9,1%), com a agravante de que “44% das pessoas não sabem que têm a doença”, sublinha Cristina Valadas.
Apesar de ser mais comum nos homens (12,1%) do que nas mulheres (7,7%), a prevalência da diabetes gestacional continua a bater recordes. Revelam os dados preliminares de 2016 que 5033 mulheres desenvolveram diabetes durante a gravidez (7,5% das grávidas), o que se traduz num aumento de quase 41% em seis anos. A prevalência “é especialmente preocupante” nas mulheres com mais de 40 anos: 16,5% das gestantes tiveram diabetes.
O aumento desta forma da doença — que normalmente termina com a gravidez, mas amplia o risco de mãe e filho terem diabetes mais tarde — está relacionada com a maternidade tardia. Por isso, diz José Manuel Boavida, “a atitude perante a gravidez tem que ser repensada”: as mulheres, “estando mais atentas ao peso e à alimentação”, e os médicos “acautelando situações de risco”. Em última análise, diz o presidente da APDP, é necessária uma “política de natalidade que permita às mulheres ter filhos mais jovens”.
Quanto às metas até 2020, define o programa, há que diminuir em 5% o número de mortes antes dos 70 anos, prevenir a diabetes em 30 mil pessoas com elevado risco e permitir que 30 mil pessoas tenham acesso a meios de diagnóstico que lhes permitam saber que têm a doença. Para isso, haverá mais avaliações de risco e continua a “batalha pela adopção de estilos de vida saudáveis”, alimentação equilibrada e, vinca Cristina Valadas, exercício físico regular.