Pelo menos 20 autarcas vão tentar governar quatro anos em minoria
Há "geringonças" autárquicas para todos os tipos, mas em dois terços das câmaras que ganharam sem maioria não houve acordos para governar.
Passaram 45 dias desde as eleições autárquicas e já quase todos os novos presidentes tomaram posse e formaram equipas. Mas entre as três dezenas de autarcas que foram eleitos sem maioria absoluta (16 do PS, seis da CDU, seis do PSD, três independentes e um do CDS), há pelo menos 20 que não conseguiram ainda estabelecer acordos de governação. Desses, nove são do PS, cinco do PSD, três da CDU, dois são independentes e um é do CDS.
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Passaram 45 dias desde as eleições autárquicas e já quase todos os novos presidentes tomaram posse e formaram equipas. Mas entre as três dezenas de autarcas que foram eleitos sem maioria absoluta (16 do PS, seis da CDU, seis do PSD, três independentes e um do CDS), há pelo menos 20 que não conseguiram ainda estabelecer acordos de governação. Desses, nove são do PS, cinco do PSD, três da CDU, dois são independentes e um é do CDS.
Bernardino Soares (Loures) é um dos autarcas que estão a governar à vista há mais de um mês. O presidente comunista manteve a promessa da campanha e não fez qualquer contacto com o PSD por causa da polémica sobre ciganos que envolveu André Ventura, mas na abordagem ao PS levou uma nega redonda. Os socialistas (tanto eleitos como os dirigentes da concelhia) negaram qualquer interesse em negociar e nem sequer se chegou à fase de falar de pelouros, conta ao PÚBLICO Bernardino Soares. “Responderam que quem ganha deve governar e é assim que vai ser. Não temos medo nem do exercício de competências nem da capacidade de negociação.”
A oposição já mostrou que não lhe vai fazer a vida fácil – ainda na passada semana foi aprovada uma moção sobre uma estrada com o voto contra da CDU – e Bernardino terá que gerir o processo de discussão do orçamento (de 120 milhões de euros) este mês. “Não há dramatismo. Vamos analisar as propostas da oposição e conversar antes dos documentos formais. Vamos ouvir, ver no que podemos fazer cedências e procurar consensos.”
Vida difícil vão ter também outros dois presidentes comunistas que estão em minoria no executivo mas optaram por não distribuir pelouros pela oposição - na Vidigueira e em Vila Viçosa. Mas o problema não é exclusivo da CDU.
Em Fafe, Barcelos, Alandroal, Mêda, Manteigas, Marinha Grande, Ponta do Sol, Crato ou Lamego são os socialistas que estão em minoria sem terem conseguido fazer acordos com outras forças políticas. O que significa que pelo menos na primeira prova que é aprovar um orçamento a negociação será a palavra de ordem. Na Mêda, depois de quase quatro anos com a ajuda do vereador do PSD, Anselmo Sousa viu-se agora confrontado com uma "nega", tendo que funcionar na base de acordos pontuais - mas não perde a esperança de, com o passar do tempo, vir a ter o apoio formal dos sociais-democratas, com pelouros, como aconteceu em 2014.
E nas câmaras de Castro Marim, Porto de Mós, Marvão, Porto Santo ou Celorico da Beira são os autarcas do PSD que se debatem com a mesma questão. Alguns deles nem sequer desejaram coligações, como é o caso de Carlos Ascensão, de Celorico da Beira. Ainda não distribuiu pelouros e no discurso da tomada de posse não se mostrou muito preocupado. "Saberei ouvir, mas também saberei decidir sem dilação", disse.
Há ainda um independente, no Redondo, e um centrista, em Oliveira do Bairro, que vão governar em minoria, procurando acordos pontuais e insistindo em negociações constantes.
Pelo contrário, em 11 casos, foi possível encontrar soluções que permitirão aos presidentes terem a ilusão de que venceram com maioria absoluta. Um dos casos mais mediatizados foi o de Fernando Medina, em Lisboa. Coube a Ricardo Robles, eleito nas listas do Bloco de Esquerda, salvar a face a Medina, aceitando ser vereador a tempo inteiro. A CDU pôs-se ao fresco.
Aconteceu o mesmo em Almada. Só que aí, Inês de Medeiros também não pôde contar com Joana Mortágua, do BE. Assumiu então o ónus de distribuir pelouros pelo PSD, levando pela primeira vez o bloco central àquela autarquia da margem Sul. A dose repetiu-se no Barreiro, em Alcochete e em Vila Franca de Xira (aqui também com o CDS).
Mas em Matosinhos, Luísa Salgueiro, do PS, deu pelouros à CDU, contrariando a ideia de que haveria uma orientação central do PCP para que os comunistas não facilitassem a vida aos socialistas. O mesmo pode acontecer em Coimbra, onde o eleito da CDU, Francisco Queirós, deverá voltar a garantir a Manuel Machado a governabilidade socialista da câmara. Ainda não há acordo oficial e na autarquia acredita-se que poderá demorar ainda algumas semanas, mas um dirigente local do PCP disse há dias ao jornal Campeão das Províncias que existe essa “disponibilidade para convergência”. Em Palmela, foi a CDU que ofereceu pelouros ao PS.
Mas como a realidade nacional da "geringonça" em nada atrapalha a política autárquica, no Seixal e na Moita a CDU concedeu pelouros ao PS e ao PSD, no primeiro exemplo, e também ao CDS, no segundo.
Se há uma ideia a reter na questão das "geringonças" autárquicas é que tudo é possível. Em Terras do Bouro, Manuel Tibo (PSD) conseguiu já esta semana selar, com um aperto de mão, a entrada da vereadora Ana Genoveva Araújo (independente) para a sua equipa a tempo inteiro, passando a ter três vereadores, o que lhe garante a maioria absoluta (são cinco no total). E em Portalegre, Adelaide Teixeira (independente) deu início a uma negociação que culminou com um “executivo” improvável que junta independentes, CDU e PSD.
Na contabilidade das alianças feitas, a coligação mais comum junta o PS à direita, ora ao PSD, ora a PSD/CDS. São quatro casos. A seguir vêm as alianças entre o PS e os partidos da esquerda (uma com o Bloco, em Lisboa, e uma com a CDU em Matosinhos, que pode repetir-se em Coimbra). A CDU também se coligou três vezes: uma com o PS; uma com o PS e o PSD; e outra com o PSD e o CDS.