Avaria em ETAR obriga Câmara de Serpa a dar água da rede ao gado

Uma pequena povoação com pouco mais de 150 habitantes suporta, há três anos, maus cheiros, o flagelo de moscas e mosquitos por faltada reparação da ETAR.

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A população de Vales Mortos, uma pequena localidade com pouco mais de 150 habitantes, espera há três anos que a Câmara de Serpa repare a ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) que serve a pequena comunidade, sem a qual os esgotos não tratados correm a céu aberto. Mas como a autarquia tarda em solucionar o problema, a população recorreu a um abaixo-assinado, subscrito por 155 residentes, entregue ao município na semana passada, a exigir uma intervenção urgente. O pior é que os dejectos correm para uma pequena albufeira, onde o gado bebia, tendo provocado já a morte de alguns animais e obrigado, em período de seca, a que a câmara dê de beber ao gado com água da rede.

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A população de Vales Mortos, uma pequena localidade com pouco mais de 150 habitantes, espera há três anos que a Câmara de Serpa repare a ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) que serve a pequena comunidade, sem a qual os esgotos não tratados correm a céu aberto. Mas como a autarquia tarda em solucionar o problema, a população recorreu a um abaixo-assinado, subscrito por 155 residentes, entregue ao município na semana passada, a exigir uma intervenção urgente. O pior é que os dejectos correm para uma pequena albufeira, onde o gado bebia, tendo provocado já a morte de alguns animais e obrigado, em período de seca, a que a câmara dê de beber ao gado com água da rede.

O transtorno na qualidade de vida das pessoas “é uma evidência”, salienta ao PÚBLICO José Maria Gomes, porta-voz dos residentes de Vales Mortos, referindo-se aos maus cheiros e às nuvens de moscas e mosquitos provocados pela falta de tratamento dos efluentes domésticos.  

Desde 2014 que “os dejectos são enviados para uma barragem particular por uma vala a céu aberto que dista cerca de 100 metros do povo e da escola do 1.º ciclo do ensino básico e pré-escolar”, diz o documento que acompanha o abaixo-assinado. E sempre que o “vento sopra de uma certa maneira, cheira mal e as pessoas queixam-se que eu sei lá” ,confirmou ao PÚBLICO, Maria Cardeira, moradora em Vales Mortos.  

José Maria garante que o equipamento “nunca ficou bom desde a sua construção” em 2007. No entanto, foi a partir de 2014 que as situações anómalas se tornaram mais frequentes e os esgotos oriundos da povoação passaram a ser lançados numa barragem particular sem qualquer tratamento. “A porcaria foi-se acumulando na albufeira que era o ponto de encontro das pessoas do povo onde, em saudável convívio, se tomava banho e pescava”, destaca o porta-voz da pequena comunidade. Hoje, a albufeira está transformada num “foco infeccioso”, denuncia Artur Borges Pinto, proprietário de uma unidade de agro-turismo nas proximidades.

Em ano de seca extrema, a água da barragem recuou substancialmente, sendo visível a consolidação dos dejectos que se foram acumulando ao longo de três anos. As consequências do “foco infeccioso” estendem-se ao aparcamento de gado que apascenta nas proximidades da albufeira. Desde que os esgotos de Vales Mortos começaram a afluir à barragem “já se registou a morte de bovinos e outros animais ficaram doentes”. O produtor pecuário depressa percebeu que o problema estava na água da albufeira. “Foi à câmara e exigiu uma solução para o problema”, conta José Maria, frisando que na altura estariam na exploração cerca de 350 cabeças de gado bovino, para além de rebanhos de ovelhas e varas de porcos. Agora, o abeberamento dos animais está a ser assegurado com água potável, pelo sistema público de abastecimento de água.

A população tem dificuldade em entender esta opção da autarquia quando recebe na caixa do correio folhetos a apelar à poupança de água que classificam de um “bem precioso”.

“Não é razoável nem compreensível que a câmara sugira à população o uso racional da água e depois forneça caudais da rede pública para abeberamento de centenas de cabeças de gado”, protesta o porta-voz de Vales Mortos, lembrando que o problema foi criado pela Câmara de Serpa quando de uma “forma encapotada” abriu uma vala para escoar os efluentes que a ETAR não trata.

Tentam que este povo se habitue a levar com a porta na cara”, protesta o porta-voz da população da pequena aldeia, realçando a “vontade de alterar a realidade que está a condicionar o bem-estar dos residentes na aldeia de Vales Mortos”.

Para além do cheiro que consideram “insuportável”, temem que o “perigo de transmissão de doenças por moscas e mosquitos” e a contaminação dos alimentos e da água venha a afectar uma população maioritariamente idosa. No documento que acompanha o abaixo-assinado lembram os alertas lançados em Setembro pelo ex-Director Geral de Saúde, Dr. Francisco George, depois de terem sido detectados mosquitos potencialmente transmissores de dengue. Pouco depois apareceu o vírus do Nilo Ocidental numa égua em Alcácer do Sal, a uma distância de 120 quilómetros de Vales Mortos.

O PÚBLICO fez várias tentativas para obter esclarecimentos junto da Câmara de Serpa, mas sem sucesso.