Morrissey, esta versão incrível de si mesmo

Temos England is Mine, biopic sobre o jovem Steven Patrick, a reedição de The Queen is Dead, o novo álbum a solo. Três Morrissey ou o Morrissey de sempre?

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Os Smiths congregaram à sua volta um culto fervoroso e firmaram um lugar na história da pop pela força de música viva de humor e amor Stephen Wright/Redferns

Imaginamo-lo dobrado sobre a máquina de escrever, poster de James Dean e de Oscar Wilde na parede do quarto, singles da Motown a rodar na aparelhagem, t-shirt dos New York Dolls vestida. Escreve para o mundo, o seu mundo, que não é o único que conhece mas é o único a que quer pertencer. Escreve para uma revista de música e desanca numa banda de barbudos barrigudos, apesar da aparência magra, que tocara música cheia de velhas adiposidades no concerto de que dá conta à publicação. Fala também da sua cidade, Manchester, no noroeste de Inglaterra. “É um lugar perfeito”, escreve ele, “para um surdo-mudo acamado”.

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Imaginamo-lo dobrado sobre a máquina de escrever, poster de James Dean e de Oscar Wilde na parede do quarto, singles da Motown a rodar na aparelhagem, t-shirt dos New York Dolls vestida. Escreve para o mundo, o seu mundo, que não é o único que conhece mas é o único a que quer pertencer. Escreve para uma revista de música e desanca numa banda de barbudos barrigudos, apesar da aparência magra, que tocara música cheia de velhas adiposidades no concerto de que dá conta à publicação. Fala também da sua cidade, Manchester, no noroeste de Inglaterra. “É um lugar perfeito”, escreve ele, “para um surdo-mudo acamado”.

O adolescente que escreve tem cabelo comprido a cobrir-lhe as orelhas, usa óculos e não sabe o que fazer da existência além de ler poemas de Wilde, queixar-se da vida miserável e entediante que leva e do quão miseráveis e entediantes são praticamente todos os que o rodeiam. À noite, no clube, lá o veremos a um canto, cerveja na mão, a observar com desdém os que dançam na pista. Ali fica a ouvir os Roxy Music que adora, encostado a um canto, desenquadrado no cenário. Ali fica, “à espera que o mundo vá ter com ele”, como lhe diz a amiga que pode ser a namorada, ou que acredita ser a namorada - o jovem que não encaixa não encontra razão de ser nessas questões mundanas de namoricos na adolescência.

Aquele é, então, Steven Patrick Morrissey antes de ser Morrissey simplesmente. Antes do encontro com Johnny Marr e do nascimento dos Smiths, antes de dar voz, corpo e esperança a uma geração de desadaptados como ele e de desadaptados das gerações seguintes. Na guitarra jingle-jangle de Marr e na forma como ele, Morrissey, erguia a vitória a timidez e a depressão provocada por saber demais sobre o mundo - e por saber, por isso, que nada valia realmente a pena se não fosse transformado em canção -, os que ouviam perceberam que, afinal, não estavam sozinhos no mundo e que toda a poesia e toda a sensibilidade seriam recompensadas (em forma de álbum usado como guia para atravessar incólume a juventude e, quem sabe, a temível vida adulta que chegaria depois).

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Em 1986 os Smitns editaram um clássico absoluto, The Queen is Dead, que foi agora objecto de uma reedição de luxo Lawrence Watson

Aquele é o Steven Patrick Morrissey de England Is Mine, o filme biográfico que chega às salas portuguesas a 16 de Novembro. Realizado por Mark Gill, nativo de Manchester que cresceu obcecado com a música dos Smiths, retrata a pré-história da banda de Hand in glove. Pretende mostrar como o Steven Patrick enfiado em empregos que detesta, junto de colegas que classifica como “criaturas horrendas”, se transforma com a música e, pela música, se salva (transformando-se em Morrissey, naturalmente). Johnny Marr há-de tocar à campainha da casa de Steven, Steven abrirá a porta com um sorriso sardónico e feliz. Os Smiths anunciam-se. A história está prestes a começar.

“Queríamos criá-lo como uma personagem muito humana”, explicava Gill no Verão à BBC News. “Dizia constantemente que não estávamos a fazer um filme sobre o Morrissey. Era sobre um miúdo que, apesar de acabar por se tornar alguém com grande relevância artística, começou por ser um adolescente normal, a lidar com as mesmas coisas que o resto de nós”. Tendo em conta este fio condutor, surpreenderá alguém que Morrissey tenha recusado dar qualquer apoio ao realizador, que não tenha respondido às solicitações feitas pela equipa de produção e que não tenha sido autorizada a presença de qualquer música dos Smiths no filme? Naturalmente que não. Morrissey falava para todos os solitários e falava para todos os que amavam a música e a poesia e que viam no passado aquilo que devia ser um presente que não mais regressaria (sentiu no punk o despertar de uma letargia insuportável, mas a nostalgia e a devoção por um passado mitificado sempre foi componente primordial do seu gesto artístico).

Morrissey dizia ser um com todos, mas não se imaginava certamente como Gill o pensou. Um adolescente normal, ele, Steven Patrick Morrissey, sangue irlandês, coração inglês, e a música pop como medida de todas as coisas? Isso nunca. Jack Lowden, o jovem actor que lhe dá corpo no filme, desconhecia-lhe o trajecto, o contexto e a música que criara com Johnny Marr, Mike Joyce e Andy Rourke. Ainda assim, ou por isso mesmo, por não carregar consigo o peso do mito, tirou-lhe bem a pinta. Em Agosto, dizia à Big Issue: “Pergunto-me quantas pessoas encontramos na vida que têm na cabeça esta versão incrível de si mesmos? Podem fantasiar sobre ela, podem estar próximo de a deixar expor-se, talvez quando bebam uma cerveja ela surja muito levemente”. Assim é, afinal, com 99,9% da população. Mas, continuava Lowden, “imaginem se toda a gente interpretasse essa versão de si mesmos?”. Seria patético e absurdo, obviamente - e, com toda a probabilidade, um perigo para a sociedade enquanto reunião de indivíduos obrigados a viver em conjunto o mais harmoniosamente possível. Fiquemo-nos portanto, e felizmente, com aquele que se tornou exactamente o que imaginara. Morrissey, a versão incrível de si mesmo, outrora Steven Patrick Morrissey, o miúdo que se escapava para o terraço da empresa de contabilidade em que vegetava para rabiscar no caderno isto que vimos no filme e que transcrevemos de memória: “É-me cada vez mais claro que sou um génio por descobrir, sozinho num mundo de idiotas”.

Sem rumo e sem esperança

England is Mine chegará no preciso momento em que Morrissey edita o 11º álbum do seu percurso a solo, Low in High School (17 de Novembro), e pouco depois de termos sido presenteados com uma edição luxuosa do supracitado The Queen is Dead (álbum original remasterizado, um CD de demos e lados B dos singles, outro de um concerto em Boston e um DVD). The Queen is Dead é, claro, o sucessor de The Smiths (1984) e de Meat is Murder (1985) e o antecessor de Strangeways, Here We Come (1987). É o terceiro álbum dos Smiths, clássico absoluto editado originalmente em 1986 e casa de canções obrigatórias como o tema título, The boy with a thorn in his side, Bigmouth strikes again ou, acima de todos , There’s a light that never goes out, que dobra como manifesto e epitáfio da banda - de “Take me out tonight / cause I want to see people, and I want to see life / driving in your car”, a “and if a double-decker bus / crashes into us / to die by your side / is such an heavenly way to die”. 

Na capa do trintão Queen is Dead, Alain Delon ferido mortalmente, olhando o vazio num fotograma de L’Insoumis (de Alain Cavalier, 1964). Na capa do recém-nascido Low in High School, um muito jovem adolescente que, aos portões do Palácio de Buckingham, vestindo uma t-shirt de Morrissey, carrega numa mão um machado e na outra um cartaz com mensagem explícita: “Axe the monarchy”. “A minha preocupação gravita para qualquer um que se sinta académica ou espiritualmente em baixo na escola... Sem rumo e sem esperança. Poderão os jovens alguma vez viver despreocupados novamente?”. É essa a interrogação que deixa Morrissey, 58 anos, no momento em que apresenta o seu novo álbum à Rolling Stone. Lemo-la e regressamos a Mark Gill, o realizador de England Is Mine. “Uma coisa de que gosto nele é que é um dos únicos artistas que se manteve consistentemente autêntico”, disse recentemente. “Não vejo nenhuma diferença entre as coisas que ele diz agora e algumas das que dizia nos Smiths”.

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Steven Patrick Morrissey antes de ser Morrissey simplesmente: England Is Mine, o filme de Mark Gill chega às salas portuguesas a 16, altura em que é editado o 11º álbum do percurso a solo do cantor, Low in High School

Do adolescente à espera de se tornar a versão incrível de si próprio a Queen is Dead, daí ao “Axe the Monarchy” empunhado na capa do novo álbum, um mesmo Morrissey. Ofereceu-nos algo muito vasto. Deu o mundo a quem julgava não ter voz e lugar nele e inventou um novo espaço na música pop, tornando a fragilidade matéria poderosa, tão poderosa quanto, antes, o tinha sido a violência iconoclasta do punk. Fê-lo a partir de um universo que manteve propositadamente reduzido, praticamente imutável, ao longo das décadas. Com um desejo apenas, acima de todos os outros: ser ouvido, ser visto e ser amado por ser tão visto e tão ouvido. Ecoam ainda os versos de Frankly, Mr. Shankly: “Fame, fame, fatal fame / it can play hideous tricks on the brain / but I’d rather be famous / than righteous or holy, any day”. Terão ficado pelo caminho os de I know it’s over: “It takes strength to be gentle and kind”.

A votação foi manipulada

Esta semana foi notícia o cancelamento à última hora de um concerto em Paso Robles, na Califórnia. Justificação: o sistema de aquecimento do palco avariou e, consequentemente, o frio era demasiado para Morrissey. Nada de novo, na verdade - desde 2012, este é o 124º concerto cancelado por Morrissey. Antes, no início de Outubro, ergueram-se vozes escandalizadas com mais uma aparição, ao vivo e em boa forma, do Morrissey agente provocador. Tudo aconteceu num concerto de promoção de Low In High School emitido pela BBC6. Entre canções, referiu a sua surpresa pela eleição de Anne Marie Waters para a presidência do UKIP, partido conhecido pelas suas posições xenófobas. Anne Marie Waters, islamófoba que se associou a organizações de extrema-direita para conter o que descreve como uma islamização em curso no Reino Unido, concorreu realmente à liderança do UKIP, mas perdeu. “Ah, não, desculpem, ela não ganhou. A votação foi manipulada”, continuou Morrissey perante o público que se quedara em silêncio, sem perceber como reagir. Não certamente por ter sido surpreendido. Afinal, tais declarações e posições são apenas umas mais para juntar a um portefólio que, não sendo novo, se foi recheando mais e mais nos últimos anos. 

O primeiro single de Low in High School, Spent the day in bed, provoca em nós uma reacção ambivalente. Guiado pela melodia do piano eléctrico e com melodia imaculada no refrão, num crescendo pop irresistível, é um dos melhores pedaços de música da sua carreira tardia. Mas que fazer da letra, tão tristemente adequada a estes tempo de paranóia “FAKE NEWS!” berrada em rede social em caixa alta exclamativa, como é de rigor? “Stop watching the news / because the news contrive to frighten you / to make you feel small and alone / to make you feel that your mind isn’t your own”, canta ele, sem graça e sem subtileza. Quem é, afinal, este Morrissey?

Há uma cena curiosa em England is Mine. Acontece quando o pai de Morrissey, pouco depois de se separar da mãe e abandonar o lar, regressa brevemente a casa. Morrissey é ainda o miúdo de cabelo comprido em que não o reconhecemos. Mas vemos o pai, a sua poupa discreta crescendo no topo da cabeça já grisalha, e descobrimo-lo mais parecido com Morrissey que o Morrissey no ecrã. Há também no filme uma solução engenhosa para a ausência da banda-sonora do tempo da acção. Vemos Morrissey no mítico concerto dos Sex Pistols no Free Trade Hall, vemo-lo no de Patti Smith em que conhece Johnny Marr. Vemos sombras agitadas no palco e os corpos em êxtase na plateia. Vemos uns e outros mas, sobre as imagens, o som é o das Marvelettes ou de Martha & The Vandellas.

Ou seja, vemos Morrissey a acordar do torpor, electrizado por toda aquela agitação transformadora - e, na sua cabeça, estão os sonhos pop que alimentava na solidão do quarto, com o gira-discos como único companheiro fiel. O passado que idolatrava, unido à vontade de dizer aquilo que a pop nunca tinha dito, porque a pop nunca tivera as palavras que só ele podia ter, seriam o seu futuro.

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Kevin Winter/Getty Images

No preciso momento em que os Smiths irromperam com estrondo na cena musical britânica, Morrissey queixava-se da falta de originalidade e da confrangedora banalidade da música que era servida às massas. Questionado sobre o maior mal a assolar o cenário musical, apontava o hip hop e a música electrónica de dança, que via como abominações. Muitos anos depois, em 2012, em entrevista ao Ípsilon, nada mudara. “[O hip hop] ouve-se em todo o lado porque soa quase sempre igual e não tem qualquer significado”, acusou. “O mesmo com a música de dança techno. É simplista e sem personalidade. É por isso que está nos centros comerciais, nos elevadores, em qualquer espaço. Em parte, não é ouvida. É apenas papel de parede sonoro”.

No momento em que os Smiths, álbum após álbum e single após single, congregavam à sua volta um culto fervoroso e firmavam um lugar na história da música popular pela força de música viva de humor e amor, de ódio e dor cantados em versos tão justos quanto surpreendentes, tudo suportado por melodias cantadas com afectação cativante e um som tão hábil em abocanhar o legado de perfeição pop dos Beatles (pensemos em Is it really so strange?) como em inventar novas e densas paisagens sónicas (como resistir às intensas reverberações de How soon is now?), Morrissey não se detinha. Conseguira muito, provavelmente mais do alguma vez imaginara, mas não era suficiente. Acusava a BBC de censurar as suas canções e as editoras de sabotarem a inevitável chegada dos seus álbuns e singles ao topo das tabelas de vendas. Pelo meio, lançava Panic!, o single com refrão explícito (“hang the dj”) e frases acusadoras - “the music they constantly play say nothing of my life”). Geoff Travis, da Rough Trade, a editora que lançou os Smiths, comentou que Morrissey “julgava ter o direito divino a uma posição mais alta nas tabelas de vendas”. E que nos disse ele em 2012, Smiths no panteão da pop, ele mesmo a viver em pleno o renascimento iniciado com a edição do celebrado You Are The Quarry, álbum a solo de 2004? “Nunca ouço a minha música em lado nenhum, nunca! Apenas três singles da minha autoria (Suedehead, That’s how people grow up e I’m throwing my arms around Paris) tiveram boa cobertura radiofónica ao longo da minha vida. Nenhuma das minhas outras canções foi sequer tocada na rádio. Talvez seja porque a minha voz é demasiado humana”.

Mesmo as constantes declarações polémicas com que nos tem brindado nos últimos anos não são propriamente novas. Há uma linha que liga os seus ataques ferozes a Thatcher, a governante que pretendia guilhotinada, às explosivas declarações de 2007 ao New Musical Express, quando manifestou tristeza pelo rápido desaparecimento da “identidade britânica”, abafada pelos novos e crescentes fluxos migratórios. Acusado de xenofobia, defendeu-se: “Considero o racismo muito pateta. Quase demasiado pateta para ser discutido. Está para além da razão. Não faz sentido e é grotesco. Nunca ouvi um bom argumento a favor do racismo”. Se recordarmos aquilo que mais o indignava em Margaret Thatcher, não encontraremos aqui contradição. “Tenho uma aversão natural às mudanças sociais”, dizia em 1989. “E como os thatcheristas as abraçam aleatoriamente, às custas da natureza, da beleza e da tradição, sinto-me um pouco perdido, para dizer a verdade”. O Morrissey que, nos Smiths, transformou o mundo que é o único que reconhece válido - “a música é a coisa mais importante do mundo”, disse e repetiu ao longo dos tempos -, não consegue ver ou empatizar para além daquele idealizou, o de Wilde e dos New York Dolls, o de Nico e de Marianne Faithfull, dos hooligans adoravelmente terríveis e da beleza estetizada de James Dean.

Olhamo-lo hoje e não é exactamente o mesmo. Viveu em Los Angeles, onde era seguido com devoção, particularmente pela comunidade latina californiana em quem Morrissey reconheceu algo de seu - são os “marginais”, os “outros”, “invisíveis” - e viveu em Itália, o país onde se dizia sentir em casa, ultrapassadas as reticências manifestadas no passado - demasiado calor e culinária demasiado carnívora para um vegetariano combativo como ele. Pouco a pouco, foi trocando os gladíolos que oferecia ao público e a pose de sensibilidade literata por uma masculinidade exposta em flirts com o imaginário de gangues e ringues de boxe. Com a publicação da sua autobiografia, em 2013, ficámos até a saber que o mais famoso celibatário da pop descobrira como “o eterno ‘eu’ se torna ‘nós’” ao lado do pugilista amador Jack Walters, e que, depois disso, chegou a ponderar “produzir um monstro choramingas em miniatura” com Tina Dehaghani, iraniana criada nos Estados Unidos.

Ao longo de tempo, testemunhámos como o Morrissey adolescente à procura do palco e dos discos se foi aproximando daquele que vemos hoje e, que, em caricatura, podemos descrever como uma versão rede social de si mesmo - tal parece indiciar a ausência de qualquer subtileza na letra da supracitada Spent the day in bed ou na de Israel, outra canção de Low In High School em que, basicamente, acusa aqueles que criticam o país de só o fazerem por “inveja”. Ainda assim, é nesse mesmo álbum que encontramos I wish you lonely. Foi o segundo single a ser apresentado e, nele, Morrissey canta assim, como cantaria o jovem Steven no seu quarto: “I wish you lonely, if only for one day / so that you might see routine for me / Since the day I was born”.

Sobre Morrissey, a verdade eterna é a seguinte: “Continuarei teimosamente a ser eu mesmo, e nada me irá mudar”. Palavras do próprio, claro, teimosamente Morrissey depois de todos estes anos.

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Foi trocando os gladíolos que oferecia ao público e a pose de sensibilidade literata por uma masculinidade exposta em flirts com o imaginário de gangues e ringues de boxe Mark Metcalfe/Getty Images