Trump acredita em Putin quando este diz que não interferiu nas eleições
Presidente americano conversou com Putin sobre a questão à margem da cimeira da APEC. Kremlin garante que assunto não foi abordado. CIA repete que houve interferência.
Os olhos de muitos observadores da cimeira da APEC, que decorreu em Da Nang, no Vietname, estavam postos no Presidente norte-americano, Donald Trump, e no seu homólogo russo, Vladimir Putin. A questão de se os dois iriam ter uma reunião bilateral ganhou relevância numa altura em que nos EUA alguns colaboradores da campanha de Trump estão a ser investigados por alegada colaboração com a Rússia para prejudicar os democratas.
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Os olhos de muitos observadores da cimeira da APEC, que decorreu em Da Nang, no Vietname, estavam postos no Presidente norte-americano, Donald Trump, e no seu homólogo russo, Vladimir Putin. A questão de se os dois iriam ter uma reunião bilateral ganhou relevância numa altura em que nos EUA alguns colaboradores da campanha de Trump estão a ser investigados por alegada colaboração com a Rússia para prejudicar os democratas.
Não houve reunião bilateral por "incompatilidade de horários" dos dois, mas Trump e Putin falaram brevemente à margem da cimeira, em três curtas conversas em que Trump disse que foi abordada a questão da interferência. “De cada vez que me vê, ele diz: ‘Eu não fiz isso’. E eu acredito, acredito mesmo que está a ser sincero”, disse Trump aos jornalistas a bordo do Air Force One à saída de Da Nang, no Vietname. “Ele disse que não interferiu. Eu perguntei-lhe de novo. Não se pode estar sempre a perguntar”, disse ainda Trump quando questionado por jornalistas sobre se tinham falado sobre a interferência nas eleições dos EUA.
Acrescentando que Putin se sentia “muito insultado” com toda a situação, Trump comentou que "isto não é nada bom para o nosso país”.
Enquanto isso, a emissora norte-americana CNN perguntou ao porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, se Putin e Trump tinham discutido a eventual interferência da Rússia nos seus curtos encontros. Peskov respondeu: “Não”.
Mais, o director da CIA, Mike Pompeo, mantém a sua avaliação expressa em Janeiro de 2017: esta diz que houve, de facto, interferência da Rússia nas eleições para prejudicar a candidata democrata Hillary Clinton. O que está actualmente a ser investigado é se houve conluio com a campanha de Trump.
Pompeo causou polémica esta semana quando disse que a interferência russa não teria tido quaisquer efeitos no resultado da eleição, quando na avaliação de Janeiro a CIA dizia claramente que não se tinha dedicado ao impacto das actividades russas.
O antigo embaixador dos EUA na Rússia, Michael McFaul, comentou no Twitter a declaração de Trump "acreditar" em Putin: “O nosso Presidente acredita num agente do KGB mas não na sua própria CIA?”, questionou, referindo-se ao treino que Putin, antigo agente dos serviços secretos russos, recebeu para dissimulação.
Síria: a solução não pode ser militar
Este foi o primeiro encontro que Trump e Putin tiveram desde Julho – quando ocorreu a primeira reunião pessoal dos dois, à margem de uma cimeira do G20 em Hamburgo, e falaram durante horas, partes das quais numa conversa que só foi revelada posteriormente e da qual não houve registo do conteúdo.
Apesar da brevidade das conversas, os dois emitiram um comunicado que se refere, sobretudo, à situação na Síria – em que a Rússia apoia o Presidente Bashar al-Assad (junto com o Irão e o movimento xiita libanês Hezbollah) e os EUA condenam os crimes do regime. Os dois lutam, no entanto, contra o Daesh.
Na declaração, Trump e Putin concordam que “não há solução militar para o conflito na Síria”, onde a ajuda da Rússia foi determinante para a posição de vantagem de Assad.
Os dois assinaram uma declaração em que declaram a sua “determinação de derrotar o ISIS [outro nome para o Daesh]", que após grandes derrotas nos seus bastiões de Mossul (Iraque) e Raqqa (Síria) perdeu o território que conquistou e está ainda presente em pequenas aldeias – mas continua a ter uma importante presença virtual a partir da qual inspira e comanda atentados fora do seu território, uma espécie de “califado virtual”.
Trump e Putin também se manifestaram satisfeitos pelos “esforços para evitar incidentes perigosos entre militares russos e norte-americanos” na Síria, que permitiram mais eficácia contra o Daesh.
Com o movimento extremista quase derrotado no terreno, os dois pedem para que o processo diplomático com Assad e os rebeldes avance.
Trump disse que estava muito contente com a declaração conjunta, e acrescentou que esta permitirá “salvar um número imenso de vidas”.