Task force da UE detecta torrente de notícias falsas russas sobre Catalunha

Equipa de especialistas criada para combater a desinformação oriunda da órbita do Kremlin explicou ao El País que o objectivo era agravar a crise na Catalunha e assim desestabilizar a UE.

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As notícias falsas sobre a Catalunha aumentaram exponencialmente LUSA/TONI ALBIR

A equipa de especialistas criada pela União Europeia em 2015 para detectar e combater os ataques da Rússia através da Internet encontrou, nos últimos meses, um grande aumento de campanhas destinadas a agravar a crise na Catalunha. Este departamento, que depende do Alto Comissariado para a Política Exterior Europeia em Bruxelas, admite que ao seu trabalho diário de desmentir notícias falsas procedentes da Rússia, tradicionalmente centrado em cenários como a Ucrânia ou as repúblicas bálticas, se juntou agora a Catalunha.

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A equipa de especialistas criada pela União Europeia em 2015 para detectar e combater os ataques da Rússia através da Internet encontrou, nos últimos meses, um grande aumento de campanhas destinadas a agravar a crise na Catalunha. Este departamento, que depende do Alto Comissariado para a Política Exterior Europeia em Bruxelas, admite que ao seu trabalho diário de desmentir notícias falsas procedentes da Rússia, tradicionalmente centrado em cenários como a Ucrânia ou as repúblicas bálticas, se juntou agora a Catalunha.

De acordo com o El País, que visitou na quarta-feira o departamento denominado East Stratcom Task Force, esta equipa tem ferramentas que permitiram quantificar o aumento de informações falsas sobre a Catalunha nas redes pró-russas: de quatro por semana passaram para 241. Essas notícias falsas multiplicaram-se nos meios habituais na órbita do Kremlin, tanto em russo como em inglês e castelhano.

Eis alguns títulos recentes detectados: “O espanhol já é ensinado como idioma estrangeiro na Catalunha (publicado no site Vesti.ru a 17 de Setembro). “As ilhas baleares juntam-se à petição pela independência de Espanha (Sputnik, 21 de Setembro), “Altos funcionários da UE apoiam que se empregue a força na Catalunha (publicado na página do Facebook do político moldavo Bogdan Tirdea a 2 de Outubro).

Os analistas desta task force, que pediram para manter o anonimato para evitar as “habituais represálias russas”, explicam que todas as informações veiculadas têm como objectivo debilitar os países-membros da UE e apontar o desmoronamento do Estado liberal ocidental, propondo a Rússia como alternativa.

A primeira informação duvidosa de origem russa sobre a Catalunha apareceu no portal de notícias Izvestia.ru em Setembro do ano passado, com o título “Catalunha reconhecerá uma Crimeia independente”. A nota usava declarações de José Enrique Folch, um activista sem nenhuma conexão com o governo catalão, para sugerir que a independência daquela região beneficiaria a anexação da península ucraniana da Crimeia por parte da Rússia, ao dar-lhe um reconhecimento internacional de que carece tanto na Europa como no resto do mundo ocidental.

A equipa trabalha sob a supervisão directa da comissária para as Relações Exteriores da UE, Federica Mogherini, e é constituída por 17 pessoas, entre diplomatas, informáticos e jornalistas. O seu objectivo expresso, por mandato do Conselho Europeu, é combater a desinformação oriunda da órbita do Kremlin e trabalhar em parceria com vários serviços, privados e públicos, como o site EUvsDisinfo.eu, que aloja uma base de dados com uma selecção das mentiras pró-russas mais comuns.

De acordo com as estimativas da East Stratcom, o Kremlin investe até mil milhões de euros por ano nos seus meios de informação públicos. Entre estes encontram-se os que operam em espanhol: RT, que tem presença em 100 países, e Sputnik, que publica notícias em 33 idiomas.

Além disso, o Governo russo dá a maior importância às notícias falsas e aos “ninhos de trolls”, empresas anónimas que usam perfis falsos e automatizados para dominar os algoritmos das redes sociais e alcançar o maior impacto possível.

“Esta é uma estratégia não militar cujos objectivos são políticos”, asseguram ao El País fontes da East Stratcom. Segundo as mesmas fontes, o objectivo dessa campanha de desinformação é debilitar e desestabilizar o Ocidente, explorando divisões já existentes ou criando outras novas, artificiais.  

Ainda que em Bruxelas haja um reconhecimento quase unânime sobre a necessidade do trabalho desta task force, são muitos os que criticam os poucos recursos que a UE lhe dedica. Em Março passado, 120 políticos, académicos e intelectuais enviaram a Mogherini uma carta aberta em que pediam que triplicasse a capacidade da East Stratcom e que lhe disponibilizasse um orçamento de milhões de euros para que pudesse cumprir o seu mandato.

O Parlamento Europeu apoiou esta petição, apesar da recusa dos governos dos 28. Por enquanto, a equipa não tem orçamento próprio e funciona com fundos do departamento de comunicação da diplomacia europeia.

Do outro lado do Atlântico, o Congresso dos Estados Unidos tem em curso uma investigação sobre a interferência russa nas eleições do ano passado, que deram a vitória a Donald Trump. A East Stratcom Task Force tem indícios de ingerência também nas eleições da Alemanha e França, ambas este ano.

Segundo um recente testemunho das cúpulas das principais empresas da Internet, a propaganda russa expandiu-se na campanha eleitoral norte-americana com um milhar de vídeos no YouTube e quase 3000 contas falsas no Twitter. No Facebook, já terá alcançado 126 milhões de perfis, segundo estimaticas da própria companhia.