Os passadiços vão chegar ao Pulo do Lobo, a cascata do Guadiana

Quase meio milhão de euros vão ser investidos na construção de um quilómetro de passadiços que descem pela encosta da margem esquerda do Guadiana e se prolongam até às quedas de água.

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PEDRO CUNHA

A partir do final do próximo ano, todos os que pretendam visitar a cascata Pulo do Lobo vão passar a dispor de melhores condições de acesso. A Câmara de Serpa vai avançar com a instalação de um conjunto de passadiços em madeira que garantem segurança num local bastante acidentado e perigoso.

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A partir do final do próximo ano, todos os que pretendam visitar a cascata Pulo do Lobo vão passar a dispor de melhores condições de acesso. A Câmara de Serpa vai avançar com a instalação de um conjunto de passadiços em madeira que garantem segurança num local bastante acidentado e perigoso.

Os que optem por chegar à queda de água por Serpa já o podem fazer por um novo traçado. O anterior “caminho de cabras” que desafiava a suspensão das viaturas, ao longo de seis quilómetros, foi asfaltado e a Estrada Municipal 514 que lhe dá acesso sofreu alterações. Chegados ao local, para além do enquadramento natural deslumbrante, os visitantes encontram agora um parque para estacionar digno desse nome, ao contrário do que acontecia anteriormente, quando as viaturas tinham de ser deixadas num sítio ermo.

Mas é sobretudo no acesso final ao Pulo do Lobo que vão ser realizadas as alterações mais significativas. As pessoas vão poder descer, em segurança, os cerca de 50 metros da íngreme margem do rio — até agora percorridos ao som de inevitáveis “ai-ai” — por uma escadaria em madeira com cerca de 300 degraus que serpenteia a encosta e interrompida, a cada 18 degraus no máximo, por patamares de descanso que funcionam como miradouros.  

Concluída a descida, encontram dois passadiços em madeira que se estendem ao longo da margem do rio: um para montante, que acompanha o percurso do Guadiana mais calmo, e outro para jusante, em direcção ao ponto onde de repente o rio aperta dos cerca de 30 metros de largura para menos de três, criando uma garganta de rocha por onde as águas se precipitam de uma altura de 16 metros. É a famosa cascata do Pulo do Lobo. José Saramago, que visitou este acidente geológico provocado por um abaixamento do nível do mar no período quaternário, há 10 mil anos, viu como na estreita garganta o “rio ferve entre paredes duríssimas, rugem as águas, espadanam, batem, refluem e vão roendo, um milímetro por século, por milénio, um nada na eternidade”.  

A estranha e ao mesmo tempo soberba formação geológica, onde a água e o vento foram erodindo a rocha dura, ao longo de milénios, vai estar mais acessível à observação sem o risco de quedas ou dos abeiramentos perigosos quando se pretender observar como “rugem as águas” no maior desnível que se pode encontrar no leito dos rios portugueses. O curso do Guadiana regressa à placidez depois da sua queda abrupta, no Pego do Sáveis, o grande caldeirão onde algumas das espécies de peixes migradoras chegam para desovar, subindo o rio, vindas do mar, através do “Grand Canyon” português. É o troço do rio chamado “a Corredoura”, que se estende por um vale fundo e estreito ao longo de uma dezena de quilómetros até às proximidades da vila de Mértola, um dos locais mais expressivos do vale do Guadiana e que dentro de um ano pode ser observado em segurança.  

Uma das versões lendárias sobre o Pulo do Lobo refere que a designação se deve às estreitas e apertadas margens, que podiam ser transpostas de um salto por um lobo quando perseguia a sua caça. Muitas outras reportam-se ao tempo em que as pessoas das povoações próximas, para sobreviverem, ali arriscavam a vida, transportando clandestinamente sacos de café, açúcar ou farinha e tudo o mais que se vendesse. São as histórias das terras do contrabando, de caminhos feitos por barrancos e vaus percorridos a altas horas da noite, com pesadas cargas às costas de e para a fronteira espanhola a uma vintena de quilómetros. Caminhos vigiados por guardas-fiscais e carabineros, implacáveis nas suas batidas e perseguições.

Com a materialização deste projecto há muitos anos reclamado, o município de Serpa pretende “criar uma estrutura de apoio à valorização e visitação do sítio do Pulo do Lobo”, tornando acessível o acesso pedonal e permitindo o desfrute do Guadiana nas imediações da cascata.

Para além dos passadiços de madeira, serão também instaladas sinalética e estruturas interpretativas e informativas sobre o espaço envolvente. A autarquia pretende ainda sensibilizar a comunidade escolar, a população e todos os que visitam o concelho de Serpa “para a temática da conservação e preservação da riqueza natural, ambiental e paisagística do Parque Natural do Vale do Guadiana”.

A operação Passadiços do Pulo do Lobo, candidatada ao Alentejo 2020, foi aprovada pelo valor superior a 463 mil euros, montante que é comparticipado pelo fundo da União Europeia Feder no montante de 320 mil euros.