Caitlyn Jenner: “Sou porta-voz da minha história”
Na Web Summit, a transgénero revela que teria votado em “qualquer candidato” republicano.
Na sua primeira visita a Lisboa, a ex-atleta olímpica e actual estrela de televisão, Caitlyn Jenner passou pela Web Summit para falar sobre a sua história como mulher transgénero e debater, ao lado da atleta Allison Wagner e do ex-primeiro-ministro grego George Papandreou, a evolução da marca dos Jogos Olímpicos ao longo dos anos.
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Na sua primeira visita a Lisboa, a ex-atleta olímpica e actual estrela de televisão, Caitlyn Jenner passou pela Web Summit para falar sobre a sua história como mulher transgénero e debater, ao lado da atleta Allison Wagner e do ex-primeiro-ministro grego George Papandreou, a evolução da marca dos Jogos Olímpicos ao longo dos anos.
Referindo-se ao seu passado como orador frequente – quando era convidado para falar sobre o seu sucesso, depois de uma carreira olímpica premiada com duas medalhas de ouro – Jenner lembrou como costumava apresentar-se numa figura masculina, escondendo a roupa interior feminina. Recorde-se que Caitlyn Jenner nasceu Bruce Jenner e foi na sua qualidade de atleta masculino de decatlo que ganhou o ouro para os EUA no início da década de 1970. “Saía do palco e sentia-me uma fraude”, conta, acrescentado: “Finalmente posso apresentar-me a uma audiência e sim, por baixo tenho cuecas e soutien.”
Jenner não se considera porta-voz da comunidade transgénero, embora reconheça estar numa posição privilegiada, mas antes porta-voz da sua própria história. Num discurso ilustrado por metáforas e momentos da sua vida, tentou explicar à audiência como é ser transgénero. Segundo Jenner, o “T” de LGBT é “de longe o mais incompreendido”. Lançou ainda uma questão às mulheres na plateia, “quando é que soubeste que eras uma rapariga?”, comentando que se para estas é um dado adquirido, “para uma pessoa trans esse pensamento passa pela sua cabeça 24 horas por dia”.
A estrela televisiva do reality show Keeping up with the Kardashians – Bruce tem seis filhos, entre eles, a modelo Kendall Jenner – admite ter lutado com esta questão durante grande parte da sua vida, sobretudo depois da carreira olímpica, durante a década de 1980. Então, tinha estabelecido que iria viver de forma “autêntica”, como mulher transgénero, pelo menos a partir dos 40 anos, mas quando esse momento chegou, em 1989, sentiu que ainda não era a altura certa. “Simplesmente não conseguia ir mais além.” Acabou por fazer a transição em 2015, anunciando ao mundo numa entrevista com Diane Sawyer.
O voto em Trump
Questionada por uma norte-americana, durante uma sessão de perguntas e respostas, por que razão decidiu votar em Donald Trump há um ano, Jenner respondeu abertamente. Embora reconheça as mensagens e políticas contra a comunidade trans – Trump impediu estas pessoas de serem militares –, Jenner explica que sempre esteve no lado mais conservador do espectro político, nomeadamente em relação ao peso do governo. Quanto às questões sociais admite ser bem mais liberal, nunca tendo votado no partido de Hillary Clinton e de Barack Obama. “Ela simplesmente não era uma boa candidata”, acrescentou.
“Ia votar para qualquer candidato [que representasse o Partido Republicano]. Acabou por ser” Donald Trump, conta. Será que voltaria a reelegê-lo? “Temos um longo caminho pela frente, vamos ver o que acontece”, responde cautelosa.
"Levar o doping a sério"
“Apesar de ter passado por muito na minha vida, ainda estou orgulhosa daqueles momentos que tive nos Jogos Olímpicos”, começou por dizer Caitlyn Jenner, durante a manhã, ao lado de Allison Wagner e Papandreou, lembrando a sua primeira participação na competição, em 1972.
Se, ao longo dos anos, a organização tem estado cada vez mais virada para o lucro, tornando-se “um grande jogo de dinheiro”, a ex-atleta elogiou o “movimento olímpico” por “realmente levar o doping a sério”. Jenner defende que isso acaba por ser uma debilidade: “Somos culpados por muito do doping precisamente porque levamos o doping a sério. Temos dez mil atletas nos jogos. Um ou dois são apanhados e isso torna-se a história.”
Allison Wagner – que em 1996 levou para casa uma medalha de prata na natação, ficando atrás da atleta mais tarde acusada de doping, Michelle Smith – mostra-se bastante mais céptica. “Se levam tão a sério porque é que quase metade dos atletas não são testados?”, questiona. Além disso, aponta, tem de haver medidas para que as pessoas não possam alterar as amostras entregues para análise, acrescentando que deve haver uma entidade independente do Comité Olímpico que fiscalize o uso de doping.
Caitlyn Jenner aproveitou para falar brevemente sobre questões de transgénero, apontando que os Jogos estão à frente de “qualquer outra organização desportiva”. “Têm agora guias para atletas gender non conforming poderem competir”, mencionou, acrescentando que ainda está para chegar o primeiro atleta transgénero aos Jogos Olímpicos.