Mixórdia

No Serviço Nacional de Saúde, o task-shifting é a palavra da moda.

Várias funcionárias do setor da limpeza do Hospital de Viana do Castelo adquiriram, durante uma manhã, uma nova e inédita função. Trocando de farda, fizeram-se passar por assistentes operacionais e executaram, ilegitimamente, tarefas para as quais não estavam preparadas. Esta iniciativa terá sido ordenada pelo Conselho de Administração para fazer face aos efeitos da greve geral.

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Várias funcionárias do setor da limpeza do Hospital de Viana do Castelo adquiriram, durante uma manhã, uma nova e inédita função. Trocando de farda, fizeram-se passar por assistentes operacionais e executaram, ilegitimamente, tarefas para as quais não estavam preparadas. Esta iniciativa terá sido ordenada pelo Conselho de Administração para fazer face aos efeitos da greve geral.

Este parece ter sido um facto isolado mas a ideia de aplicar um downgrade nos recursos humanos da saúde anda a germinar na mente de alguns administradores, gestores e políticos deste setor. O task-shifting é a palavra da moda.

O task-shifting propõe que um determinado ato normalmente executado por um profissional de saúde seja executado por outro profissional menos diferenciado e não formado nem treinado para essa tarefa. Não fará sentido, do ponto de vista técnico, nem para a qualidade do ato praticado nem para a segurança do doente, mas fará sentido para quem, irresponsavelmente, põe a contabilidade economicista e gestionária acima do bem-estar das pessoas.

Empregadas de limpeza a substituírem assistentes operacionais, assistentes operacionais a substituírem enfermeiros e enfermeiros a substituírem médicos foi a fórmula milagrosa defendida pelo Coordenador do Conselho Nacional de Saúde (CNS) numa entrevista a uma rádio nacional. Desprezando a imprescindível contratação dos recursos humanos necessários para os hospitais e centros de saúde, propõe resolver o problema através do task-shifting.

Os 27.618 médicos (e não 40.000 como afirmou) e os 42.393 enfermeiros (e não 60.000 como afirmou) do Serviço Nacional de Saúde (SNS) são, tendo em conta o número de habitantes, manifestamente insuficientes em Portugal ou em qualquer parte do mundo.

Andar a trocar tarefas e responsabilidades numa perigosa mixórdia profissional não é uma proposta sensata para resolver os graves problemas de recursos humanos que o SNS atravessa. Além disso, demonstra um profundo desconhecimento pela realidade técnica da prestação dos cuidados de saúde.

O que a Saúde precisa é de um upgrade no seu pensamento estratégico que valorize os seus quadros, a exigência da sua formação e da sua qualificação e que coloque profissionais onde são necessários.

O caminho das trocas e baldrocas não é o que a Saúde está a precisar.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico