Torre de refrigeração que esteve sem funcionar pode ser a origem do surto
Equipamento foi recentemente reactivado. Inspecção-Geral das Actividades em Saúde e Ministério Público investigam o surto. Contágio entrou numa fase descendente, antecipa a directora-geral da Saúde.
A Direcção-Geral de Saúde (DGS) está a investigar se o surto de Legionella teve origem numa das torres de refrigeração do Hospital S. Francisco Xavier que esteve sem funcionar e foi “recentemente” reactivada. O ministro da Saúde afirma, apenas, que “o que aconteceu aqui foi, seguramente, uma falha técnica”. O Ministério Público, que já estava a recolher elementos, abriu formalmente um inquérito.
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A Direcção-Geral de Saúde (DGS) está a investigar se o surto de Legionella teve origem numa das torres de refrigeração do Hospital S. Francisco Xavier que esteve sem funcionar e foi “recentemente” reactivada. O ministro da Saúde afirma, apenas, que “o que aconteceu aqui foi, seguramente, uma falha técnica”. O Ministério Público, que já estava a recolher elementos, abriu formalmente um inquérito.
A directora-geral da Saúde confirmou esta terça-feira ao PÚBLICO que a activação de uma das torres de refrigeração do hospital, nos dias que antecederam o início do surto, é uma das linhas de investigação que está a ser seguida no inquérito interno aberto ao caso. “Só quando tivermos os resultados das culturas que estão a ser feitas e for identificado o genoma das bactérias é que teremos a convicção sobre a origem do surto”, acrescentou Graça Freitas.
Resta a dúvida sobre o número de torres de refrigeração existentes no hospital. A presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, a directora-geral da Saúde e o presidente dos Serviços de Utilização Comum dos Hospitais dão respostas díspares, entre duas e quatro torres.
Além do inquérito interno, o surto, na sequência do qual morreram duas pessoas e 35 estão infectadas, está a ser investigado pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde, a pedido do Ministério da Saúde, e pelo Ministério Público (MP), que esta terça-feira abriu formalmente um inquérito. Por esta razão, o MP decidiu ordenar as autópsias, diligências que considera essenciais para a investigação em curso.
Indícios “desde o primeiro minuto”
O ministro da Saúde admite, apenas, que houve uma “falha técnica” dentro do Hospital S. Francisco Xavier. “O que aconteceu aqui foi, seguramente, uma falha técnica”, ao que tudo indica numa das torres de refrigeração do hospital, reiterou numa conferência de imprensa ao final da tarde desta terça-feira.
A convicção da tutela é que o surto começou dentro do hospital e sobre isso, diz Adalberto Campos Fernandes, houve indícios “desde o primeiro minuto”. O que veio desmentir as afirmações do presidente dos Serviços de Utilização Comum dos Hospitais desta terça-feira, à agência Lusa, e que davam conta da identificação de sete possíveis pontos fora do hospital onde o contágio poderia ter começado.
Em matéria de responsabilidades, Adalberto Campos Fernandes considerou que apontar a falta de financiamento do Sistema Nacional de Saúde como causa deste surto “não é um argumento sério”. De manhã, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, lembrava o desinvestimento dos últimos anos na Saúde, "nomeadamente na área da prevenção e manutenção", situação que afirmou ter consequências.
Surto em fase descendente
Minutos antes, a directora-geral da Saúde, dava conta que o surto de Legionella entrou numa fase descendente e que os resultados preliminares das análises à água do sistema de refrigeração de hospital mostram que as medidas correctivas estão a surtir "um efeito positivo". "A menos que tenha existido nova emissão de aerossóis", é certo para a directora-geral da Saúde que o número de novos casos vai diminuir nos próximos dias, assim como a gravidade da infecção, até à extinção do surto.
Das 35 pessoas infectadas com a doença dos legionários - um dos casos foi confirmado esta terça-feira -, cinco estão nos cuidados intensivos, numa situação estável. O primeiro infectado foi detectado no dia 31 e, três dias depois, o diagnóstico de três doentes era comunicado à DGS.
À margem da conferência de imprensa, o hospital alvo de todas as atenções estava, esta terça-feira, particularmente vazio. “É assim desde sábado”, contou Carla, ao balcão da cafetaria, que “pela hora do lanche, costumava não dar descanso”. “Por esta hora está à pinha é o bar de Santa Marta ou o do Amadora-Sintra, que aqui já ninguém vem”. Raramente as conversas fogem ao tema: os polícias brincam, os médicos alinham. “Mas todos têm medo. As ambulâncias já nem cá vêm”, continua Verónica, outra funcionária. Até lhes “parece que há mais movimento na televisão do que naquelas salas de espera.”
Governo quer mais fiscalização
A intenção do Governo é agora tornar mais exigente a prevenção e vigilância à qualidade do ar interior e exterior dos edifícios e agravar as sanções em caso de incumprimento. Para isso, o Ministério da Saúde e do Ambiente estão a trabalhar juntos, mas não é claro se o Governo pretende voltar a tornar obrigatórias as auditorias periódicas da qualidade do ar interior em edifícios públicos, como pede o BE nas duas propostas de lei entregues no Parlamento esta terça-feira. Estas auditorias a hospitais, escolas e centros comerciais deixaram de ser obrigatórias em 2013, por iniciativa do executivo PSD/CDS.
Legislação mais apertada e um maior "controlo das medidas de prevenção e manutenção” é também a receita do bastonário da Ordem dos Médicos.
Mas, apesar de existirem valores estipulados na lei em relação à presença da bactéria da Legionella no ar e na água, a legislação não determina com que periodicidade as análises devem ser feitas, explicou Maria Manuel Farinha, responsável do departamento de segurança e ambiente do Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ), adiantando que nos últimos dias aumentaram os pedidos de análises na sequência do surto do hospital S. Francisco Xavier que infectou 35 pessoas e levou à morte de duas.
“Existem limites estipulados na legislação no que diz respeito à presença da bactéria, mas não identifica a periodicidade para as análises, nem diz que as empresas têm de fazer planos de prevenção. São regras de boa prática. Apesar de existirem guias, haver uma definição da periodicidade seria mais vantajoso”, disse Maria Manuel Farinha.