Depois de ser despedida, Hope Solo começou a falar mais alto
A guarda-redes norte-americana esteve na Web Summit para falar da luta pela igualdade de género no futebol.
Onde quer que haja futebol no mundo, haverá sempre um treinador ou um jogador a queixar-se de alguma coisa após uma derrota. Aconteceu com Hope Solo, guarda-redes da selecção norte-americana, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro no Verão passado. Os EUA perderam com a Suécia nos penáltis nos quartos-de-final e Solo chamou “cobardes” às nórdicas por serem demasiado defensivas. Por isto, foi despedida pela federação norte-americana e dificilmente voltará à baliza do seu país. Mas o que lhe aconteceu só fez Hope Solo falar mais alto na luta pela igualdade de género no futebol.
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Onde quer que haja futebol no mundo, haverá sempre um treinador ou um jogador a queixar-se de alguma coisa após uma derrota. Aconteceu com Hope Solo, guarda-redes da selecção norte-americana, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro no Verão passado. Os EUA perderam com a Suécia nos penáltis nos quartos-de-final e Solo chamou “cobardes” às nórdicas por serem demasiado defensivas. Por isto, foi despedida pela federação norte-americana e dificilmente voltará à baliza do seu país. Mas o que lhe aconteceu só fez Hope Solo falar mais alto na luta pela igualdade de género no futebol.
“Os homens estão sempre a fazer comentários desses. Eu prefiro pensar em ganhar do que ir para as festas no Rio, como vi muitos fazerem. Tenho muitas amigas na Suécia, joguei lá no início da carreira. Depois do jogo fui ter com a capitã sueca e ela sabia que tinham sido defensivas. Mas o que muita gente disse foi que eu não tinha espírito olímpico”, contou Hope Solo esta terça-feira na Web Summit.
Não poder desabafar sobre um adversário mais defensivo com o mesmo à vontade dos homens é apenas uma das muitas situações em que Hope Solo sente a desigualdade de género no futebol e ainda para mais num país em que o futebol feminino é incomparavelmente mais forte do que o masculino.
A guarda-redes deu o exemplo de quanto ganhou a sua contraparte da selecção masculina Tim Howard num ano em que o Team USA não passou dos oitavos-de-final do Mundial 2014 e da diferença para o que ela ganhou por ter sido campeão mundial em 2015. “Nesse ano, ele fez oito jogos e recebeu mais dez por cento do que eu, que fiz 23 jogos e ganhei o Mundial”, disse Solo, reforçando a mais-valia da selecção feminina para a própria federação norte-americana: “Em 2015, a selecção masculina deu um prejuízo de dois milhões, as mulheres deram um lucro de 20 milhões.”
Por ter deixado a selecção norte-americana, sem perspectiva de poder voltar, e ainda sem ter anunciado o final de carreira, a guarda-redes de 36 anos vai fazendo ouvir a sua voz pela igualdade de género: “Fui despedida e, enquanto a federação for a mesma, eu é que não quero voltar. Achavam que podiam silenciar-me, mas tenho falado cada vez mais alto.”
Para Hope Solo, é um dever dos desportistas lutar por algo que considera ser mais do que uma questão feminista, é uma questão de direitos humanos, uma luta que considera mais urgente a partir do momento em que Donald Trump foi para a Casa Branca: “Nas minhas redes sociais, aparecem comentários do género, ‘volta para a cozinha’, como se isto ainda fosse o século XIX. É o nosso dever usar o nosso poder para mudar as coisas. Perdi o meu seguro, fui despedida, antes de eu saber disseram aos media, não fui suspensa, fui despedida. Enquanto a federação for a mesma, eu é que não quero. Achavam que podiam silenciar-me, tenho falado cada vez mais alto pelos direitos das mulheres. Sei que temos de lutar pelos nossos direitos. Se desafiares o status quo chamam-te nomes. Mas sou apaixonada por estes assuntos. Sejam rebeldes. Se não forem, ninguém desafia ninguém, e fica tudo na mesma.”