Surto de Legionella em Lisboa causa dois mortos
Directora-geral da Saúde revelou que morreram dois dos pacientes infectados no Hospital São Francisco Xavier. Número de casos sobe para 29.
Dois doentes infectados com Legionella morreram nesta segunda-feira, segundo revelou esta tarde a directora-geral da Saúde, Graça Freitas. O número de casos também foi revisto em alta, para 29, dos quais dois foram diagnosticados precisamente nesta segunda-feira.
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Dois doentes infectados com Legionella morreram nesta segunda-feira, segundo revelou esta tarde a directora-geral da Saúde, Graça Freitas. O número de casos também foi revisto em alta, para 29, dos quais dois foram diagnosticados precisamente nesta segunda-feira.
De acordo com a informação avançada, uma das vítimas mortais é uma mulher de 70 anos, que estava internada no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. A outra vítima é um homem de 77 anos. Ambos tinham outras doenças graves associadas e estavam internados em unidades de cuidados intensivos.
O alerta soou na sexta-feira, no hospital São Francisco Xavier. Num ponto de situação neste domingo, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) fazia saber que desde 31 de Outubro até então tinham sido confirmados em laboratório 25 casos de Legionella, uma bactéria que vive em ambientes aquáticos como lagos, rios, águas termais e tanques.
Segundo Graça Freitas, a primeira notificação foi feita no dia 31, no dia 3 foram notificados mais oito casos, no dia 4 houve 14 novos casos e no dia 5 foram notificadas mais quatro.
A infecção não passa de pessoa para pessoa, mas por via aérea (respiratória), através da inalação de gotículas de água (aerossóis) contaminadas com bactérias.
“A situação epidemiológica aponta para um declínio do número de casos que possam surgir diariamente”, disse a directora-geral da Saúde, adiantando que o período de incubação da doença é de dois a dez dias.
De acordo com a responsável, a fonte mais provável da infecção é o Hospital S. Francisco Xavier, mas só quando as análises que o Instituto Nacional Ricardo Jorge (Insa) está a realizar estiveram concluídas – o que deverá acontecer dentro de duas semanas – será possível ter a confirmação.
Tal como ainda não é certo o local exacto onde a bactéria se terá desenvolvido e dado origem ao surto. “Todas as medidas que se impõem já foram tomadas e aplicadas, desde o choque térmico [circulação de água a 70.º graus centigrados], choque químico, encerramento das torres de arrefecimento. Foram colhidas amostras pelo Instituto Superior Técnico e pelo INSA.”
Segundo a responsável, a maioria dos infectados são doentes que estiveram em várias partes do hospital e há pelo menos o caso de um acompanhante infectado, levantando a possibilidade de o foco de infecção poder ser uma das torres de refrigeração. Não há casos, até ao momento, de grávidas ou crianças infectadas, o que faz pensar que o foco de infecção não se estendeu ao edifício da obstetrícia e pediatria.
Graça Freitas acrescentou que foram colhidas amostras de 11 pontos da rede de água do hospital S. Francisco Xavier, unidade que, a par dos hospitais Egas Moniz e Santa Cruz, faz parte do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (CHLO). Serão necessárias duas semanas para que a cultura da bactéria possa ter resultados.
Tendo em conta que o primeiro caso notificado foi a 31 de Outubro e que os primeiros sintomas terão surgido a 27, é possível que a infecção tenha acontecido a partir do dia 17 do mês passado. Altura em que o hospital tinha feito análises e que não terão mostrado a presença da bactéria. Um dos objectivos da investigação é perceber o que se passou com exactidão. Mas Fernando Almeida, presidente do Insa, garante que não houve “falta de manutenção” e explica que “esta é uma das bactérias mais difíceis de controlar”.
Auditorias a todos os hospitais do SNS
Além das vistorias que foram feitas ao S. Francisco Xavier, também esta segunda-feira técnicos do Insa, da Direcção-Geral da Saúde e do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH) estiveram nos hospitais Egas Moniz e Santa Cruz para realização de análises.
O Insa vai, de resto, avançar com auditorias especiais aos restantes hospitais e Unidades Locais de Saúde (ULS) do SNS para verificação dos planos que estes têm. “Ainda esta semana haverá uma reunião e daremos início às visitas a todos os hospitais e ULS no sentido de proceder a auditorias tendo em vista a confirmação dos planos, detecção de eventuais falhas e perceber se há alguma coisa a corrigir. É uma auditoria específica para perceber se os hospitais estão a cumprir ou precisam de recomendações específicas”, adiantou Fernando Almeida.
A DGS está também a fazer uma revisão das normas relacionadas com a Legionella “que poderá conduzir a uma alteração legislativa para controlo e prevenção” deste tipo de situações, acrescentou Graça Freitas.
26 doentes internados
Esta surto de Legionella ocorre depois de outro que em Novembro de 2014 se registou em Vila Franca de Xira e que infectou mais de 400 pessoas e matou 14.
Actualmente estão internadas 26 pessoas, três das quais em unidades de cuidados intensivos. Estão, na sua maioria, no Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, nomeadamente Egas Moniz e São Francisco. Uma pessoa está no hospital de Santa Cruz e outro no Pulido Valente.
A directora-geral da Saúde esclareceu que “a maioria dos doentes tem mais de 70 anos” e eram pessoas seguidas ou que foram ao hospital. Há pelo menos um profissional da unidade infectado, que está na casa dos 40 anos, mas também com doenças associadas, o que terá facilitado a infecção por Legionella.
Por serem doentes mais idosos, são também pessoas “com factores importantes para o desenvolvimento da doença”. Como por exemplo, doenças respiratórias ou oncológicas. No caso dos dois doentes que faleceram, ambos tinham já problemas de saúde muito graves.
Graça Freitas explicou que a mulher de 70 anos que morreu teve “três contactos directos com o Hospital S. Francisco Xavier”, não conseguindo precisar se foram idas à urgência ou consultas.
“Foram dadas indicações a todos os hospitais e centros de saúde para estarem atentos a possíveis casos e perante a suspeita que façam análises e perguntem aos pacientes se estiveram em contacto com o Hospital S. Francisco Xavier”, explicou ainda a directora-geral da Saúde.