House of Cards: o que acontece quando uma série perde o protagonista
O Netflix cortou ligações com Kevin Spacey, por isso o que vai acontecer à série? Anatomia de Grey ou Dois Homens e Meio já passaram por isso.
Kevin Spacey caiu em desgraça com rapidez. Menos de uma semana depois de o actor ter reagido publicamente a alegações de má-conduta sexual, Spacey foi eliminado dos seus projectos mais recentes e com maior visibilidade.
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Kevin Spacey caiu em desgraça com rapidez. Menos de uma semana depois de o actor ter reagido publicamente a alegações de má-conduta sexual, Spacey foi eliminado dos seus projectos mais recentes e com maior visibilidade.
“O Netflix não estará envolvido e qualquer produção de House of Cards que inclua Kevin Spacey”, disse o serviço de streaming em comunicado no sábado. Spacey também é a estrela do filme Gore, sobre o escritor Gore Vidal. O Netflix anunciou que não vai lançar o filme, que estava já em pós-produção.
Numa história publicada pelo BuzzFeed a 29 de Outubro, o actor Anthony Rapp acusou publicamente Spacey de o ter tentado seduzir quando Rapp tinha apenas 14 anos, e quando Spacey tinha 26. Spacey disse não se lembrar do incidente mas disse que estava “para lá de horrorizado” com a história e pediu desculpas no caso de se ter comportado da forma como Rapp descreve. No mesmo comunicado, emitido horas depois de a história do BuzzFeed ter sido publicada, Spacey revelou ser gay, atraindo críticas de estar a misturar uma agressão sexual a um menor com homossexualidade.
Desde então, mais alegações de assédio e agressão sexual – algumas das quais anónimas – tornaram-se públicas. Mas Spacey manteve-se em silêncio, com um representante a dizer à imprensa que ele estava a “tirar o tempo necessário para procurar avaliação e tratamento”. (A sua relações públicas deixou de o ter como cliente, relatou o Los Angeles Times na quinta-feira.)
A produtora Media Rights Capital confirmou em comunicado que estava envolvida numa investigação em curso sobre “alegações sérias” sobre o comportamento de Spacey nas filmagens House of Cards. MRC e o Netflix "vão continuar a avaliar durante o hiato um caminho criativo por onde vão fazer avançar o programa", diz o comunicado da empresa, referindo-se à corrente pausa entre temporadas.
House of Cards não é aclamada pela crítica nas últimas temporadas, mas é uma série-marco para o Netflix. Durante as suas cinco temporadas, Spacey e Robin Wright receberam um Globo de Ouro cada um e foram nomeados para cinco Emmys cada pela sua interpretação de Frank e Claire Underwood.
Frank Underwood também se tornou num fenómeno cultural. Vários responsáveis da administração Obama apareceram num video brincalhão com o president ficcional durante o Jantar dos Correspondentes da Casa Branca em 2013, e o próprio Presidente Barack Obama fez uma imitação da personagem de Spacey num vídeo do Dia das Mentiras em 2015.
Amplamente creditada por pôr o serviço de streaming no mapa do conteúdo original, House of Cards estreou-se em 2013 como a primeira série dramática original do Netflix. Desde então, o serviço lançou outras séries originais aclamadas, como Orange is the New Black, The Crown e Stranger Things.
O Netflix estará agora a trabalhar em spinoffs de House of Cards. Uma de três possíveis ideias, Segundo a Variety, gira em torno do antigo chefe de Gabinete de Underwood, Doug Stamper, interpretado por Michael Kelly. Entre as notícias da saída de Spacey, vários fãs pediram nas redes sociais que a série se tornasse num programa centrado em Claire Underwood. "Será que agora a Robin Wright não pode ser a protagonista de House of Cards?", escrevey sexta-feira no Twitter a actriz Jessica Chastain. "Estamos prontos para isso.”
Já um tweet do jornalista do Vulture, Mark Harris, onde ele prevê o início da sexta temporada da série, foi amplamente partilhado: “Plano geral. Funeral chuvoso em Arlington. Robin Wright: ‘Se há algo que o meu marido sempre defendeu…’”
De Charlie Sheen a Shonda
Se o Netflix tentar salvar o universo de House of Cards, não seria algo sem precedentes. Várias séries de TV tiveram de mudar abruptamente de rumo por causa de controvérsias externas das suas estrelas.
A personagem de Charlie Sheen foi morta no final da oitava temporada de Dois Homens e Meio, depois de uma crise muito pblica do actor, que incluiu fazer comentários depreciativos sobre o criador da série, Chuck Lorre. A série continuou na temporada seguinte com Ashton Kutcher a interpretar um novo protagonista.
Anatomia de Grey também foi assolada pela controvérsia quando ainda tinha apenas um par de anos, quando a ABC cortou com o actor Isaiah Washington em 2007. O actor, que interpretava o Dr. Preston Burke, terá usado um insulto homofóbico sobre um dos seus colegas; uns meses mais tarde, usou-o frente a jornalistas nos Globos de Ouro, quando se defendia. O destino de Burke foi escrito como saindo da série ao abandonar a sua noiva, Cristina, no altar.
Columbus Short, que interpretava Harrison Wright em Scandal, foi despedido da série depois de três temporadas ao ser acusado de violência doméstica. Na série, Wright, membro da equipa de gestão de crise de Olivia Pope, foi morto.
Sendo possível levar House of Cards para um novo rumo sem Spacey, os espectadores estarão interessados? Spacey, que também era produtor executive da série, é sinónimo da série. E enquanto outras series conseguiram avançar depois de problemas com as suas estrelas, talvez seja demasiado desafiante ver uma história passada na Washington de Underwood sem se ser lembrado do motivo pelo qual Spacey já não está lá.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post