A Terra está a caminho do terceiro ano mais quente desde que há registos

No dia em que começa mais uma conferência da ONU sobre o clima, ficámos a saber que o nosso planeta continua a aquecer.

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FILIP SINGER/LUSA

É muito provável que 2017 seja o terceiro ano mais quente desde que há registos meteorológicos sistemáticos: a temperatura média global da Terra entre Janeiro e Setembro deste ano foi de aproximadamente 1,1 graus Celsius acima da era pré-industrial, divulgou a Organização Meteorológica Mundial (OMM) esta segunda-feira na abertura da conferência das Nações Unidas sobre o clima, em Bona, na Alemanha.

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É muito provável que 2017 seja o terceiro ano mais quente desde que há registos meteorológicos sistemáticos: a temperatura média global da Terra entre Janeiro e Setembro deste ano foi de aproximadamente 1,1 graus Celsius acima da era pré-industrial, divulgou a Organização Meteorológica Mundial (OMM) esta segunda-feira na abertura da conferência das Nações Unidas sobre o clima, em Bona, na Alemanha.

Na 23.ª Conferência do Clima da ONU (COP23), que decorre até 17 de Novembro, é a primeira vez que os representantes de quase 200 países se reúnem depois de o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter anunciado, em Junho último, que os Estados Unidos iam sair do Acordo de Paris. Conseguido em Dezembro de 2015, o acordo entrou em vigor em Novembro do ano passado, como um esforço global para reduzir as emissões atmosféricas de dióxido de carbono e limitar a subida da temperatura do planeta aos dois graus Celsius ou, de preferência, aos 1,5 graus.

Embora ainda não seja o balanço final para 2017, a OMM sublinha que estamos a caminho do terceiro ano mais quente desde o início dos registos meteorológicos sistemáticos (por volta de 1880), uma vez que é isso que aponta um conjunto alargado de informações recolhidas por agências da ONU. Houve inundações e furacões catastróficos, ondas de calor e seca, recorda a OMM.

Este balanço provisório surge uma semana depois de a OMM ter divulgado a concentração do principal gás com efeito de estufa relativa a 2016. A curva de Keeling, gráfico que mostra a concentração de dióxido de carbono na atmosfera, atingiu um recorde: alcançaram-se as 403,3 partes por milhão (por cada milhão de moléculas há 403 de dióxido de carbono), um valor que a Terra já não conhecia entre há três e cinco milhões de anos.

E, desde o ano passado, dados em tempo real de uma série de locais específicos indicam que os níveis de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso continuaram a aumentar durante 2017, refere o comunicado desta segunda-feira da OMM, acrescentando que os indicadores a longo prazo para as mudanças climáticas – como o aumento das concentrações de dióxido de carbono, o aumento do nível do mar e a acidificação dos oceanos – continuam de forma preocupante sem grandes alterações. Por outro lado, a extensão do gelo do mar da Antárctida está perto de atingir um recorde mínimo e a cobertura de gelo do mar do Árctico está abaixo da média.

Portugal, os furacões e os incêndios

Muito provavelmente, 2016 permanecerá como o mais quente, com 2015 logo a seguir, cujas temperaturas foram potenciadas por um El Niño forte, um fenómeno que provoca alterações significativas na distribuição da temperatura da superfície da água do oceano Pacífico e que afecta o clima global. O ano de 2017 fará parte do top 3.

“Os últimos três anos estiveram todos no top 3 em termos de recordes de temperatura. É parte de uma tendência de aquecimento a longo prazo”, alertou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, citado no comunicado. “Tivemos testemunho de condições climáticas extraordinárias, incluindo de temperaturas superiores a 50 graus Celsius na Ásia, um número recorde de furacões em pouco tempo nas Caraíbas e no Atlântico até à Irlanda, inundações devastadoras provocadas pelas monções que afectaram muitos milhões de pessoas e uma seca implacável na África Oriental.”

Petteri Taalas sublinha ainda que muitos desses fenómenos – “e estudos científicos detalhados determinarão exactamente quantos” – confirma o sinal de alerta das mudanças climáticas causadas pelas actividades humanas que contribuem para o aumento das concentrações de gases de efeito de estufa.

Portugal é mesmo mencionado no comunicado como tendo sofrido a influência de um dos furacões: “Em meados de Outubro, o Ophelia tornou-se um grande furacão (categoria 3), tendo ido mais de mil quilómetros para nordeste do que qualquer furacão do Norte Atlântico foi antes. Provocou danos substanciais na Irlanda, enquanto os ventos associados à sua circulação contribuíram para graves incêndios florestais em Portugal e no Noroeste de Espanha.” A OMM refere ainda que muitas partes do Mediterrâneo foram afectadas pela seca, incluindo Portugal e Espanha.

“Essas descobertas sublinham os riscos crescentes para as pessoas, as economias e o próprio tecido da vida na Terra, se não conseguimos seguir os objectivos e as ambições do Acordo de Paris”, acrescentou Patricia Espinosa, secretária executiva da ONU para as Alterações Climáticas, também citada no comunicado. “[A conferência de] Bona precisa de ser a rampa de lançamento para um nível mais alto de ambição entre todas as nações e todos os sectores da sociedade para reduzir o risco e maximizar as oportunidades para um caminho de desenvolvimento sustentável.”

Na conferência em Bona vai estar em discussão um roteiro para avaliar o que cada país está a fazer para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, para que seja possível alcançar os objectivos do Acordo de Paris, em vigor faz um ano. A conferência deverá reunir 20 mil participantes, refere a agência Lusa, incluindo uma delegação de associações e técnicos portugueses, além do ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, e do secretário de Estado adjunto do Ambiente, José Mendes.

Texto editado por Teresa Firmino