Bálsamo para tempos de espalhafato

SpiderBeetleBee é um bálsamo para estes tempos de grandes gestos tão cheios de nada.

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SpiderBeetleBee, feito de oito temas e meia hora de música, é um diálogo sereno.

Riley Walker, cantautor e explorador das fronteiras da canção, fingerpicker perseguindo a velha e bizarra América, junto a Bill MacKay, outro explorador da guitarra, com base em Chicago, improvisador nato e poliglota fluente em português, espanhol e francês (o último dado é uma curiosidade, mas iluminador no que à sua versatilidade diz respeito). Riley Walker, o autor dos óptimos Primrose Green e de Golden Sings That Have Been Sung, e Bill MacKay, autor já este ano de Esker, entram num bar, perdão, num estúdio. Podia começar assim a história de SpiderBeetleBee, não porque o que se segue seja uma anedota, não por ser preâmbulo para o relato de um diálogo entre duas guitarras a caminho de uma “punchline” qualquer. Bill MacKay e Riley Walker entram num estúdio, depois dos concertos partilhados, depois da edição de um primeiro álbum conjunto, Land of Plenty (2015), e o que segue é a intimidade só possível em quem já conhece bem os passos do outro. Uma empatia pela sensibilidade que se vai revelando, uma consciência perfeita da língua que ambos partilham.

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Riley Walker, cantautor e explorador das fronteiras da canção, fingerpicker perseguindo a velha e bizarra América, junto a Bill MacKay, outro explorador da guitarra, com base em Chicago, improvisador nato e poliglota fluente em português, espanhol e francês (o último dado é uma curiosidade, mas iluminador no que à sua versatilidade diz respeito). Riley Walker, o autor dos óptimos Primrose Green e de Golden Sings That Have Been Sung, e Bill MacKay, autor já este ano de Esker, entram num bar, perdão, num estúdio. Podia começar assim a história de SpiderBeetleBee, não porque o que se segue seja uma anedota, não por ser preâmbulo para o relato de um diálogo entre duas guitarras a caminho de uma “punchline” qualquer. Bill MacKay e Riley Walker entram num estúdio, depois dos concertos partilhados, depois da edição de um primeiro álbum conjunto, Land of Plenty (2015), e o que segue é a intimidade só possível em quem já conhece bem os passos do outro. Uma empatia pela sensibilidade que se vai revelando, uma consciência perfeita da língua que ambos partilham.

SpiderBeetleBee é um bálsamo para estes tempos de espalhafato, de grandes gestos tão cheios de nada que, erguidos aos píncaros num segundo, são esquecidos no segundo seguinte. O novo álbum de MacKay e Walker é de outra natureza e move-se noutra velocidade.  Impõe-se pela naturalidade e descontracção do encontro. Aqui, a tradição fingerpicker americana recuperada como bom princípio para qualquer conversa e o voltejar misterioso da folk britânica como portal para algo de primevo e essencial, inexplicável (com o violoncelo da holandesa Katinka Kleijn, em Pretty weeds revisited, e na despedida, Dragonfly, a acentuar o carácter majestoso das melodias). Aqui, a dança “raggada” de Lonesome traveller, velho Oeste feito de luz intensa e planuras imensas, sem tiros de revólver e chocalho de cascavel, e, em I heard them singing, as tablas indianas ritmando a delicada melodia folk criada por Walker e marcando o tom da voz da guitarra de MacKay, que ali fala como alaúde e baila como ngoni de griot maliano.

SpiderBeetleBee, feito de oito temas e meia hora de música, é um diálogo sereno. Pede que nos aproximemos e nos demoremos junto dos dois interlocutores. Só calando o ruído em redor os ouviremos devidamente. Se o fizermos, seremos recompensados. Música a acontecer, um agora capturado no momento da criação. Bill MacKay e Riley Walker entram num estúdio. É só isso, mas bem faremos em segui-los para descobrir o que acontece depois.