Técnicos de diagnóstico dizem que SNS “está a ser destruído financeiramente todos os dias”

Greve arrancou hoje com adesão acima dos 90%. Vai continuar por tempo indeterminado. Sindicato afirma que o Governo está a "estrangular" o sector público "para dar ao privado."

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Almerindo Rego, presidente do Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde das áreas de Diagnóstico e Terapêutica Fabio Augusto

A adesão à greve dos técnicos de diagnóstico, que começou nesta quinta-feira à meia-noite, é superior a 90%. Almerindo Rego, presidente do Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde das áreas de Diagnóstico e Terapêutica, adiantou ao PÚBLICO que muitos serviços apresentam mesmo "uma adesão de 100%”.

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A adesão à greve dos técnicos de diagnóstico, que começou nesta quinta-feira à meia-noite, é superior a 90%. Almerindo Rego, presidente do Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde das áreas de Diagnóstico e Terapêutica, adiantou ao PÚBLICO que muitos serviços apresentam mesmo "uma adesão de 100%”.

Garantidos estão os serviços mínimos. As consultas, as altas, o internamento, as cirurgias programadas e as áreas de prevenção dos centros de saúde são as mais afectadas pela paralisação marcada por tempo indeterminado.

“O Estado, o primeiro-ministro, não está a salvaguardar o direito à igualdade de todas as profissões da saúde. Quando foi a greve dos enfermeiros, o primeiro-ministro veio dizer que disponibilizava verbas e nós não somos nem mais nem menos do que os enfermeiros. Nós somos o sector que tem mais doutorados a ganhar mil euros por mês. Se a questão não for resolvida rapidamente, o Governo enfrenta o risco de desobediência civil”, afirmou Almerindo Rego.

Em 2014, o governo PSD/CDS assumiu no Orçamento de Estado a revisão da carreira dos técnicos de diagnóstico e terapêutica, processo que teve início já com o actual executivo. Mas segundo Almerindo Rego, os diplomas criados não têm aplicação já que faltam outros para dar continuidade ao processo. Nomeadamente o relativo ao processo de transição para a nova carreira, grelhas salariais e de concursos para acesso a postos de trabalho.

"Uma nova injustiça"

“O Governo anunciou o descongelamento das carreiras e nós seremos alvo de uma nova injustiça”, apontou, explicando que a forma de parar a greve “é o Governo cumprir a lei e apresentar uma proposta para se prosseguir com as negociações e acabar com a ditadura do Ministério das Finanças”.

“O Serviço Nacional de Saúde [SNS] está a ser destruído financeiramente todos os dias”, disse Almerindo Rego. “Estrangula-se o público para dar ao privado."

Cerca de mil profissionais – “12,5% dos profissionais que trabalham no público” – manifestaram-se durante a tarde, frente ao Ministério da Saúde, altura em que foi entregue ao secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado, um manifesto “de repúdio às políticas e à discriminação”.

“Cerca de 80% do que é feito no privado é pago pelo Estado. Não aceitamos esta privatização encapotada aos grandes grupos privados”, salientou Almerindo Rego, adiantando que esta “foi a maior manifestação” que este grupo de profissionais já realizou.

“SNS está prisioneiro dos interesses privados”

O manifesto assume um tom muito crítico em relação ao Conselho Nacional das Ordens Portuguesas (CNOP). Afirma que este quer "esmagar" estas profissões e “usurpar" as suas funções. “Agora percebemos a razão por que durante 18 anos as nossas carreiras se arrastaram nos corredores do poder político, enquanto destruíam o nosso futuro. Agora sabemos porque não existem políticas de recursos humanos dos técnicos superiores das áreas de diagnóstico e terapêutica, colocando-nos no limite da exclusão profissional e laboral”, pode ler-se no manifesto.

Almerindo Rego explicou os motivos das críticas. “Na semana passada, na Assembleia da República, foram apresentados pelo grupo parlamentar do PS dois projectos de diploma para a constituição de duas ordens profissionais": um que cria a ordem dos fisioterapeutas e outro a ordem dos técnicos de saúde. "O CNOP tomou uma posição duas horas antes contra a criação das novas ordens. Não querem que as profissões estejam autonomizadas porque têm medo de disputar com elas a economia da saúde.”

No documento, o Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde das áreas de Diagnóstico e Terapêutica afirma que o Serviço Nacional de Saúde “está prisioneiro dos interesses privados que representam cerca de 80% dos custos do SNS em diagnósticos e terapêutica”.

Os técnicos exigem ao Governo que “esteja ao serviço da comunidade e não dos negócios privados” e que se dê “espaço ao Ministério da Saúde para realizar projectos, como os parques tecnológicos da saúde”. Almerindo Rego lamenta que não haja sinal que o Ministério das Finanças liberte a verba necessária para criação destes parques ou para a renovação de equipamento.

O manifesto termina com uma mensagem dirigida ao primeiro-ministro: no SNS “não existem só médicos e enfermeiros”.